Até o dia 8 de junho, a prefeitura de Caxias do Sul realiza a Semana Municipal do Meio Ambiente, que voltou a ser presencial após dois anos por causa da pandemia. Com organização da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) e colaboração da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca) e do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), o foco da celebração é levar mais conhecimento para conscientizar a população caxiense sobre os cuidados necessários com a natureza e os animais.
Com a volta das ações que se aproximam do público, o Pioneiro inicia uma série de reportagens nesta segunda-feira (6), em que analisa o cenário ambiental de Caxias a partir de cinco pontos: arborização urbana e em parques, combate à poluição em bacias, tratamento da rede de esgoto, proteção e bem-estar animal e coleta de resíduos. Na primeira parte, o destaque fica para o papel da Semana do Meio Ambiente e a situação da coleta de resíduos no município, que encontra grandes desafios na separação e no descarte incorretos.
A Semana do Meio Ambiente busca atingir influenciadores de suas comunidades com orientações e informações de ações que podem ser feitas por cada cidadão. O atrativo desta edição é justamente sobre a volta do modelo presencial, que dá um sentimento de maior conexão entre entidades, palestrantes e os participantes. A gerente de Educação Ambiental da Semma, Tatiana Vergani, destaca que as palestras e atividades realizadas são fundamentais para que os caxienses se tornem “multiplicadores” de boas práticas para a preservação do meio ambiente.
— Nós percebemos que as ações propostas na Semana do Meio Ambiente têm a participação direta de muitas pessoas. Mas, essas pessoas são multiplicadores, que nos seus lares, no seu local de trabalho e nos grupos sociais em que frequentam, elas levam essas orientações e vivências que têm nas ações. Para nós, é muito importante porque o grau de multiplicadores que temos na semana é algo que vemos impactar a questão ambiental da nossa cidade — destaca a gerente da Semma.
A Semana do Meio Ambiente, que se iniciou em 1º de junho, contempla palestras e oficinas de temas como coleta e separação correta de resíduos, proteção aos animais, política nacional de resíduos sólidos, biodiversidade e outros. Uma novidade desta edição foi conferida no final de semana, com uma programação inédita no Jardim Botânico de Caxias, que celebra 30 anos, que recebeu ações como trilha ecológica, oficina sobre reaproveitamento de alimentos, além de campanhas de descarte correto de resíduos e de adoção de animais.
— Nós sentimos a necessidade do contato presencial para ter uma via mais direta. Nós observamos que como não houve esse diálogo (na pandemia), tivemos uma mudança de contexto, mudança de hábitos das pessoas e também não se provocava, não se refletia mais tanto sobre o impacto que tudo estava causando no meio ambiente. Fora que temos toda a questão da arborização, o contato com a natureza, em que temos nossas praças e parques, e para isso precisamos da questão presencial — revela Tatiana.
Se eu não me preocupo com a questão social, não me preocupo com as pessoas que vão mexer no meu resíduo e não me preocupo com a questão ambiental, então que pelo menos eu me preocupe com o meu bolso, por que quem paga essa conta? Quem paga o recolhimento dos lixões clandestinos?
VICTORIA MELLO
Bióloga
Outro motivo a ser lembrado e comemorado são os 30 anos da conferência Rio-92 (ou Eco-92), marcado como o primeiro grande encontro das Nações Unidas que trata sobre a preservação ambiental. Com os aprendizados e reflexões, Caxias busca superar os desafios nos diferentes segmentos que compõem o meio ambiente no município, como é o caso da coleta de resíduos.
Os desafios da coleta de resíduos
Atualmente, a Codeca recolhe cerca de 430 toneladas de lixo doméstico por dia em Caxias, em que 360 toneladas são do orgânico e 70 toneladas são do seletivo. O sistema de coleta está estruturado, mas há situações que mexem com todo o processo. Dois problemas observados são a separação incorreta do lixo, que muitas vezes começa dentro das próprias residências dos caxienses e o descarte em locais impróprios, o que pode criar “lixões” clandestinos pelo município.
A diretora-presidente da Codeca, Maria de Lourdes Fagherazzi, relata como a separação incorreta dos lixos orgânico e seletivo pode afetar toda a rede, principalmente no que se refere à destinação do material. Geralmente, o que é seletivo é repassado para 12 associações de recicladores conveniadas na companhia (que contam com cerca de 360 colaboradores), enquanto o orgânico é encaminhado ao Aterro Sanitário Rincão das Flores.
— Parte da população, não podemos dizer que é toda, não aprendeu a fazer a separação correta, e isso impacta em toda cadeia do resíduo. Muitas vezes, o resíduo orgânico contamina o seletivo, que poderia ir para reciclagem. Esse resíduo contaminado pode ir para reciclagem e eles têm que fazer um retrabalho para separar, e depois esse resíduo que poderia ser reciclado, acaba indo para o aterro. Toda uma cadeia sofre em função de uma pequena atitude lá no início em que o cidadão poderia ter tomado — afirma a presidente da Codeca.
A bióloga Victoria Mello, embaixadora do Instituto Lixo Zero Brasil, que atua há 3 anos na cidade com o Caxias Lixo Zero, chama atenção para o fato de que a triagem nas cooperativas de recicladores é feita à mão. Ou seja, se itens impróprios forem descartados no lixo seletivo, os trabalhadores mexem neste material. A bióloga calcula que 60% do que é carregado em um caminhão de lixo seletivo não é aproveitado pela reciclagem muito por conta da “reciclabilidade do material, a qualidade e principalmente pela educação ambiental do cidadão”.
— Será que estamos separando esse lixo certo? Por que nas cooperativas de reciclagens ainda chega fralda suja, por exemplo? Chega pedaço de madeira, poda de árvore, grama, chega cada coisa que não é resíduo, é lixo, com aquela bagunça, que as pessoas não se conscientizam. Principalmente, as pessoas não pensam que o saco de lixo não é um buraco negro que desaparece com nossos problemas e nossos resíduos — reflete Victoria.
Para combater o problema, a Codeca prepara uma campanha de conscientização sobre a separação correta de resíduos. O lançamento deve ser feito no dia 15 de junho, na semana do aniversário de Caxias. A empresa já trabalha em ações de educação ambiental em escolas e em condomínios. A nova iniciativa pretende atingir a população em geral por meio das redes sociais, jornal, rádio e até informações em sacolas de mercados, para que os caxienses conheçam boas práticas de separação e descarte dos resíduos.
— Nós vamos tentar fazer com que a informação circule da forma mais rápida possível porque entendemos que às vezes não é má vontade — explica a diretora-presidente da Codeca.
Lixão clandestino é um problema histórico
O presidente da Associação de Recicladores Serrano, Daniel Rodrigues do Prado, que está há 12 anos no ramo, vê que o problema da separação é “antigo”. Na associação, Daniel relata que os recicladores encontraram até “bicho morto”. Outro cenário visto pelo reciclador, que dirige a van do coletivo — que conta com 28 colaboradores, é o de lixo espalhado pelas ruas dos bairros.
— Deu uma piorada nesse ponto (lixo espalhado), na cidade. Por exemplo, se tu passa pelos bairros, ou aqui pela zona norte, que é a nossa área, tu vê muito material jogado no chão e espalhado. E não é nem reciclável muitas vezes, é lixo orgânico — relata o reciclador.
A reportagem passou por bairros como Santa Lúcia e Reolon em trechos afastados que viraram “lixões clandestinos”. Nos locais, principalmente de matas, observa-se móveis, pneus, materiais de construção, roupas, fios e restos de alimentos. De acordo com a prefeitura de Caxias, são 1,3 mil lixões irregulares, que são eliminados com frequência pela Codeca e pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Porém, os locais voltam a ser alvos desta prática imprópria. O resultado é um gasto maior de dinheiro público com a limpeza.
— Acredito que é um problema um pouco mais profundo de a gente se reconectar com a natureza, de entender que fazemos parte disso. Nós somos o meio ambiente, a cidade faz parte de nós e se a gente tá jogando lixo na rua e criando lixão clandestino, aquela é a nossa cidade. Aquela é a nossa casa também. Se eu não me preocupo com a questão social, não me preocupo com as pessoas que vão mexer no meu resíduo e não me preocupo com a questão ambiental, então que pelo menos eu me preocupe com o meu bolso, porque quem paga essa conta? Quem paga o recolhimento dos lixões clandestinos? — questiona a embaixadora do Instituto Lixo Zero Brasil, Victoria Mello.
Codeca recebe denúncias
A recomendação é de que os caxienses façam denúncias sobre os lixões clandestinos no Alô Codeca, pelo telefone (54) 3224-8000.