Não é apenas o aumento do diesel que tem pesado nos custos do sistema de transporte coletivo de Caxias do Sul. O aumento no preço de pneus e outros insumos necessários para a rodagem da frota também tem ajudado a pressionar a tarifa do serviço nos últimos meses. Esse cenário levou a concessionária Visate a solicitar uma revisão extraordinária do valores no último dia 29 de abril. O pedido ainda está em análise pelos técnicos da Secretaria de Trânsito, mas o secretário Alfonso Willembring já admite a possibilidade de um novo reajuste, ainda que a meta seja manter os valores nos patamares atuais com subsídios.
Conforme o diretor executivo da Visate, Gustavo Marques dos Santos, entre abril de 2019 e abril de 2022, os pneus tiveram reajuste de 71%, enquanto demais peças registraram alta de 72%. O combustível teve um aumento acumulado de 35,5% desde 1º de março deste ano, quando a tarifa técnica atual, de R$ 5,50 entrou em vigor. O valor é praticado para quem paga o transporte em dinheiro. Quem opta pelo cartão, pode utilizar o valor subsidiado de R$ 4,50 ou R$ 3,50, dependendo do horário.
Ainda segundo Santos, a quantidade de passageiros do sistema atualmente representa 64% da média transportada antes da pandemia. Esse cenário faz com que o custo operacional, além de mais alto, seja dividido entre um menor número de pessoas, o que pressiona a tarifa para cima.
Confira abaixo a entrevista concedida pelo diretor executivo da Visate, Gustavo Marques dos Santos ao Pioneiro. As respostas aos questionamentos da reportagem foram encaminhadas por escrito:
Pioneiro: A tarifa técnica está adequada à atual realidade?
Gustavo Marques dos Santos: Em Caxias do Sul, a primeira revisão tarifária do contrato de concessão, firmado em maio de 2021, foi realizada em 1º de março de 2022. Desde então, o aumento do diesel foi 35,5%, o que gera a necessidade de revisão da tarifa.
Pioneiro: Além do diesel, há outros fatores que têm aumentado o custo de operação?
Santos: Sim. Em especial, o aumento dos custos das peças e acessórios. Se compararmos abril de 2019 com 2022, por exemplo, tivemos cerca de 72% de aumento nos pneus e 71% de aumento nas demais peças e insumos da frota.
Pioneiro: Que medidas a empresa tem tomado com o objetivo de compensar esse aumento de custo, já que revisões tarifárias dependem de aprovação do poder público? Encaminhar uma solicitação extraordinária de revisão tarifária é uma possibilidade cogitada (a prefeitura ainda não havia confirmado a solicitação)?
Santos: A concessionária tem priorizado o pagamento dos salários dos seus funcionários e em honrar os compromissos com fornecedores, conforme o fluxo de caixa. O contrato de concessão estabelece que, sempre que ocorrer alterações de preços significativas nos principais insumos que compõem a tarifa (diesel, pneus, peças, etc.), a concessionária pode solicitar a revisão tarifária para manter o equilíbrio econômico-financeiro. Diante disso, o pedido de revisão foi encaminhado em 29 de abril, visto que a inflação no país ultrapassou 12% nos últimos meses. Isso impacta diretamente no custo da operação, necessitando adotar novas medidas para manter o serviço.
Pioneiro: Quais os reflexos que a pandemia ainda causa no sistema de transporte coletivo?
Santos: Hoje, após mais de dois anos do início da pandemia, ainda estamos transportando 64% do total de usuários em relação a 2019.
Pioneiro: A Visate é responsável pelo complemento do subsídio da tarifa verde. Diante do aumento dos custos, esse complemento (e a própria tarifa verde) é viável a médio prazo ou até mesmo para se tornar permanente?
Santos: A tarifa verde é uma experiência criada pelo poder público e concessionária, a qual busca atrair novos usuários para utilização do serviço fora do horário de pico e que será avaliada, inicialmente, durante seis meses. Vale salientar que, devido a isso, a diferença entre a tarifa pública de R$ 4,50 e R$ 3,50 (para quem paga com o cartão Caxias Urbano pessoa física), não tem relação com o subsídio.
Pioneiro: Como enxerga o cenário do transporte coletivo no futuro próximo caso não haja uma estabilização no mercado de combustíveis ou mesmo um recuo da inflação no país?
Santos: O futuro do transporte público, enquanto direito social previsto na Constituição, depende, cada vez mais, de iniciativas públicas que proporcionem subsídio para que o usuário não pague a conta sozinho. O transporte coletivo urbano tem papel fundamental para a mobilidade das pessoas nas cidades. Por isso, o subsídio se torna tão importante, já que é um benefício da prefeitura para que o usuário utilize o serviço e pague uma tarifa menor.