Há pelo menos 90 dias, moradores do bairro Presidente Vargas, em Caxias do Sul, convivem com a movimentação de ladrões que passaram a saquear a estrutura do prédio onde funcionava a empresa Dambroz, às margens da BR-116. Sem o menor constrangimento ou preocupação de esconder as ações, eles se instalam no imóvel todas as noites furtam peças metálicas da estrutura, como telhas, revestimentos, portas e janelas.
Conforme um morador do bairro, que prefere não se identificar, no início os saques envolviam cerca de um ou dois criminosos. Aos poucos, o número aumentou e atualmente já superam 10 pessoas em alguns dias. Embora a movimentação ocorra principalmente à noite, muitas vezes os ladrões deixam caminhonetes estacionadas durante o dia para reservar o lugar e realizar os furtos horas depois.
— Eu tenho câmeras e já observei pelas imagens pessoas descendo a rua com material durante a madrugada. Não chegaram nas casas ainda, mas algumas pessoas já foram assaltadas. Como voltaram as aulas na universidade (de Caxias do Sul - UCS, que fica nas proximidades), estamos preocupados principalmente com as meninas. O prédio é muito grande e pode acontecer coisas piores — alerta.
De acordo com o morador, alguns furtos até foram observados em outros momentos, mas eles não eram significativos porque havia a presença de guardas. Não há mais atividades no prédio há cerca de dois a três anos, mas foi há cerca de três meses, quando não havia mais vigilância, que o problema se intensificou.
Preocupada, a comunidade procurou a prefeitura de Caxias do Sul, e foi informada de que o imóvel pertence atualmente a uma empresa de Flores da Cunha que solicitou licenças para intervenções no imóvel.
A reportagem procurou a empresa e conforme uma representante, que também prefere não se identificar, os proprietários têm consciência dos problemas e têm tomado medidas para tentar impedir os furtos. Soluções mais efetivas, porém, dependem da liberação das licenças pelo município, que ainda estão em análise. Ao todo, segundo a representante, são duas matrículas de edificações e cada uma precisa de duas licenças, uma para tapumes e outra para obras.
— O que podíamos fazer sem precisar de licença, nós fizemos. Soldamos os portões, mas agora eles estão até quebrando o muro. A prefeitura está a par, a Brigada Militar (BM) está a par, mas não podemos tomar providências sem estar munidos de licenças — observa.
Conforme a representante, os pedidos de licenças foram encaminhados no início do ano e todos os documentos solicitados pela prefeitura até o momento foram entregues.
De acordo com o secretário do Urbanismo de Caxias do Sul, João Uez, existem dois pedidos de demolição da construção, sendo que um já está aprovado. O segundo, conforme ele, está em análise desde o mês passado na Secretaria da Cultura para análise arquitetônica e de relevância histórica dos pavilhões. Concluída essa etapa e havendo parecer favorável para a demolição, a expectativa é emitir o alvará de demolição na sequência. Se houver negativa a empresa é informada.
— Acreditamos que virá favorável, tendo em vista que parte já foi autorizada — projeta Uez.
A reportagem procurou a BM e até a publicação da reportagem não havia recebido retorno.
Situação não é inédita
Não é a primeira vez que pavilhões desativados de indústrias são saqueados em Caxias do Sul. Em 2018, criminosos depenaram o prédio da antiga Robertshaw, no bairro Exposição. A empresa encerrou as atividades na cidade em 2016, mas manteve a vigilância privada até 2018, quando terminou o contrato. Diante dos problemas, uma nova empresa chegou a ser contratada, mas meses depois o problema se agravou a ponto de praticamente só restar a estrutura do imóvel.
Em março de 2020, o imóvel foi arrematado em leilão pela empresa Fort Atacadista, pertencente ao Grupo Pereira, com matriz no Mato Grosso do Sul. A partir daí, a estrutura da antiga fábrica passou por demolição para a implantação do novo empreendimento.
Mais recentemente, o prédio da Maesa, tombado pelo patrimônio histórico, também tem sido alvo dos vândalos. Em menos de um mês, foram três detenções em flagrante de pessoas tentando furtar fios do prédio situado a uma quadra de distância do antiga sede da Robertshaw. A mais recente foi por volta das 16h desta sexta-feira (6), quando um homem de 28 anos foi flagrado tentando levar 10 kg de cabos do complexo.