Em processo de desocupação desde 2016, a área da empresa Robertshaw, no bairro Exposição, foi adquirida pela empresa Fort Atacadista, pertencente ao Grupo Pereira, com matriz no Mato Grosso do Sul. O valor pago pela área foi de R$ 17.501.000,00 — o terreno e o prédio, juntos, estavam avaliados em cerca de R$ 35,1 milhões. A venda ocorreu em dezembro do ano passado por meio de um leilão judicial com apresentação de propostas ao juiz. As informações foram confirmadas à reportagem pelo leiloeiro Giancarlo Peterlongo Menegotto, que participou da negociação.
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A produção da Robertshaw foi encerrada em janeiro de 2016 e os cerca de 400 funcionários, demitidos. Após essa decisão, a empresa transferiu as operações para Manaus. Porém, conforme reportagem do Pioneiro em 2018, a empresa optou por se retirar do país devido à alta carga tributária no fim de 2017. O valor da venda seria utilizado para quitar as pendências trabalhistas.
— Foi um bom negócio para ambos. Acredito que a empresa pagou um preço justo diante da economia atual. Até porque terá os custos com o registro, a destruição do prédio, os impostos e o restante da descontaminação do solo — avalia Menegotto.
O Fort Atacadista foi procurado pela reportagem, mas não quis confirmar a compra e nem o que será feito com a área adquirida. A empresa, com forte atuação em atacarejo em Santa Catarina, possui 39 lojas, incluindo Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, além do Distrito Federal. No site oficial, a marca diz que pretende alcançar 50 unidades em 2020, mas não detalha se há algum empreendimento previsto para Caxias do Sul.
O secretário do Urbanismo, João Uez, afirma que a pasta ainda não foi procurada para iniciar os trâmites de uma possível obra.
Abandonado, imóvel deixa moradores inseguros
A possibilidade de abertura de um novo negócio na área da antiga Robertshaw traz certo alívio para os moradores das redondezas. Ocorre que desde que a empresa anunciou o encerramento das atividades e a desocupação da estrutura, os vizinhos convivem com a sensação de insegurança, com saques e tumultos provocados por pessoas que se aproveitam do abandono do imóvel.
Em 2018, a Robertshaw chegou a contratar vigilância particular na tentativa de inibir os furtos. À época, tornaram-se comuns ações de vândalos, que levaram janelas, portas e até partes do telhado do prédio. Dois anos depois, a situação não mudou: durante a visita da reportagens às imediações do terreno, a equipe flagrou uma Kombi estacionada aguardando a saída de pessoas do prédio _ cercas circundam a área de cerca de 20.590 metros quadrados, no entanto, as barreiras não são suficientes para inibir a passagem de pedestres.
Com medo de represálias e perseguição por parte daqueles que ocupam a estrutura, moradores das imediações aceitaram falar com o Pioneiro, mas sem se identificar:
— Tem um entra e sai, principalmente, de manhã e de noite. Mas se você entrar ali agora, vai ver que tem gente ali dentro. No final de semana, tem um pessoal vindo andar de skate. De repente são uns guris bons, mas tem o risco para eles também. É uma tristeza ver um prédio que gerou tantos empregos assim — diz um morador.
— O pessoal entra para se drogar e fazer outras coisas. Aumentou muito os casos de assalto e as abordagens de pedintes. O que tememos também é que esse pessoal acabe invadindo a sede do CTG que fica em frente — completa o presidente da associação de moradores do bairro (amob) Exposição, Lucas Diehl.
Outra moradora lamenta a falta de tranquilidade provocada pela ocupação inadequada dos escombros do prédio:
— Até uns dois meses atrás era horrível, parecia uma carreirinha de formiga, as pessoas carregando os pedaços de metal, de fios. Esses dias era meia-noite, estavam brigando na rua. Aqui era um lugar calmíssimo para morar. Agora, temos que fechar a casa cedo — conta a mulher.