Com movimento constante durante todo o dia, o Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, recebeu mais de 65 mil fiéis nesta quinta-feira (26). Durante a tarde, em silêncio, romeiros e visitantes aguardavam pelas bençãos de cinco padres posicionados em frente à Igreja Antiga. Na porta da primeira capela em honra à Nossa Senhora de Caravaggio, duas irmãs da Congregação Pobres Servas da Divina Providência organizavam a entrada do público e as confissões realizadas por três sacerdotes.
O movimento registrado pelos olhos atentos das religiosas era bem maior daquele que é visto por elas durante as tardes ao longo do ano. Responsáveis pela liturgia das missas do Santuário, as irmãs, noviças e aspirantes se dividem para acolher os peregrinos não só durante os dias de Romaria, mas no ano todo. De acordo com a Irmã Olga Dolzani, já são seis anos de missão no local.
— Caravaggio marca uma etapa especial na vida das pessoas. Temos a missão de aproximar as pessoas ao sacramento da confissão que é muito bonito quando se reconciliam com Deus. Tive a experiência de ver as pessoas saindo leves e agradecendo pela misericórdia que cobre todo o pecado. A pessoa se sente diferente quando faz o encontro com o Senhor. É uma cura, quando eu me arrependo Deus me perdoa — explicou a religiosa, que há 40 anos deixou a Argentina, sua terra natal, para viver missões na África, Itália e agora em Farroupilha.
Há 12 anos no Brasil, ela não deixou de se surpreender com a fé e espiritualidade do povo da Serra Gaúcha.
— Gosto muito daqui, as pessoas são muito Marianas, procuram muito Maria, aqui há uma fé de base.
Afirmação confirmada a poucos metros dali. Em um banco ao lado do Santuário, a dona de casa Greice Dappermallman, 28 anos, alimentava a filha de um ano e sete meses e mantinha a tradição que iniciou ainda quando criança.
— Quando era pequena, vinha com meus pais todo o domingo para a missa da manhã. Agora moro em Alto Feliz e mantenho a tradição vindo sempre no dia 26 de maio.
Para Greice, a graça alcançada, pela intercessão de Nossa Senhora de Caravaggio, tem nome. A filha Monique, concentrada com seu pastel, ainda não sabe o quanto de oração motivou e o quanto sua existência é motivo de felicidade. Naquele momento, ao lado da sua mãe, a menina era a fonte do agradecimento e da motivação para a ida ao Santuário.
— Na minha fé foi graças a Nossa Senhora que eu tive ela e que não deixou nada de mal acontecer, porque tive uma gravidez bem turbulenta e já tinha perdido um bebê. Até ter filho eu achava que sabia o que era ter fé, mas a gente descobre um mundo novo e reconhece a perfeição que é Deus e Nossa Senhora — comentou.
Do bairro Rio Branco até o Santuário de Caravaggio foram quatro horas de caminhada encarada pelo casal Hermes, 69, e Maria Bueno, 70, que há 48 anos fazem o trajeto juntos para pedir proteção à família. Segundo eles o roteiro é sempre o mesmo, saída às 7h de casa, chegada por volta das 11h, almoço e uma tarde inteira na companhia de Nossa Senhora.
—Se estamos bem, é graças a nossa fé, porque acho que quem tem fé fica em pé, quem não tem fica mais complicado. Nossa família é grande então temos muito a conversar com Nossa Senhora. Vinha conversado com Ela:"dai me perna que não quero desistir de vir"— afirmou a professora que há 35 anos doou um dos rins à mãe e mantém uma foto da matriarca da família no Memorial dos Devotos.
—Ela me deu a vida e eu dei a vida pra ela, só tenho a agradecer, minha mãe viveu 30 anos transplantada com as graças de Nossa Senhora de Caravaggio.
Até as 16h desta quinta-feira de feriado, cerca de 120 ônibus haviam deixado o Santuário para o retorno dos romeiros à Caxias do Sul, de onde milhares partiram ao encontro da fé. A expectativa é de que outras milhares de pessoas sigam demonstrando suas intenções nesta sexta-feira (27) e ao longo do final de semana.