Mulheres em situação de violência doméstica e os filhos delas poderão se abrigar temporariamente, por até 15 dias, em hotéis da rede Accor de Caxias do Sul e Farroupilha. As duas cidades da Serra foram contempladas pelo Programa Acolhe. O convênio firmado entre o governo do Estado e a iniciativa privada foi assinado na última terça-feira (29). O programa é financiado pelo Fundo de Investimento Social Privado pelo Fim das Violências Contra Mulheres e Meninas. A articulação é feita entre o Instituto Avon e o programa Bem Querer Mulher. A ideia é ampliar a rede de proteção, oferecendo mais alternativas de acolhimento caso as vítimas precisem deixar as casas onde vivem.
Em Caxias do Sul, há a Casa Viva Rachel para abrigar mulheres que correm risco e precisam ser afastadas dos agressores. Já em Farroupilha elas são encaminhadas nos casos mais graves para um abrigo em outra cidade, já que não há um espaço exclusivo para esse atendimento. Para ser acolhida nos hotéis, a mulher não pode estar exposta a um alto risco de integridade física. Ou seja, ela não pode estar sendo perseguida ou ter sido ameaçada de morte. Nesses casos, segue o acolhimento nos abrigos, como a Casa Viva Rachel, em Caxias do Sul, por exemplo.
O secretário executivo do RS Seguro, delegado Antônio Carlos Pacheco Padilha, explica que a quantidade de acolhimentos simultâneos varia conforme a ocupação dos hotéis parceiros e de acordo com os critérios estabelecidos e pactuados pelo Programa Acolhe. Ele afirma que vítimas de outras cidades também podem ser acolhidas nos hotéis conveniados, mesmo que as cidades não estejam contempladas pelo programa. Para isso, elas têm que ser encaminhadas pelos serviços de referência.
— Temos no acordo até 1.483 vagas, mas, evidentemente, depende da quantidade de leitos disponíveis. A ideia é que seja bem flexível. Por exemplo: se um mulher de Bento Gonçalves precisa de abrigo e está dentro dos critérios, ela pode ser encaminhada para um dos hotéis da rede em outras cidades. É preciso ter todo o encaminhamento técnico, via município, mas é flexível para ajudar a acolher essas mulheres.
O delegado ressalta que é uma iniciativa que pode fazer a diferença:
— Muitas vezes as mulheres querem sair de casa e não tem para onde ir. Esses 15 dias é um tempo que permite que elas possam reorganizar suas vidas.
Durante o período de acolhimento, as mulheres recebem refeição completa, lavanderia, acompanhamento diário, atendimento social, psicológico e jurídico. Também ficam em contato com a rede de serviços do município de referência. Após a estadia no hotel, ela poderá ser encaminhada a um abrigo permanente especializado da rede de atendimento do Estado ou à casa de familiares ou amigos.
Acolhimento
A titular da Coordenadoria da Mulher de Farroupilha, Franciele Rech, explica que, como não há um abrigo no município, as mulheres que não correm risco mas precisam sair de casa, são abrigadas no Albergue Municipal. No entanto, como há horário de funcionamento, não têm onde passar o dia:
— Nós só temos na cidade um local de urgência para que as mulheres passem a noite, mas não é um local sigiloso. Para os casos mais graves, em que é preciso sigilo e todo o atendimento tanto para ela quanto para os filhos, temos convênio com outra cidade.
Para ela, a iniciativa irá ajudar nos casos em que a mulher precisa romper o ciclo de violência, mas não tem para onde ir.
— Quando a gente oferta esse acolhimento, elas têm uma oportunidade. São 15 dias para que possam respirar, para sair daquela situação de violência e poder organizar a vida. Será um atendimento mais humanizado de acolhimento e que vai ajudar a superar o que elas viveram em casa — afirma Franciele.
A gerente do Centro de Referência da Mulher (CRM) Rompendo Paradigmas, de Caxias do Sul, Sonia Rossetti, explica que o acesso às vagas em hotéis do município será encaminhado após atendimento no Centro de Referência:
— Quando ela solicita o acolhimento, e entendemos que ela necessita desse abrigo, é aplicado um questionário que avalia o grau de risco que ela corre e se ela está apta a ser acolhida no Acolhe. Então, encaminhamos esse relatório técnico para o Programa Acolhe, em São Paulo.
Se ela está apta a ficar no hotel e não corre risco iminente, a documentação será encaminhada para a equipe do programa para que seja liberada uma senha de acolhimento.
— Pode demorar mais de um dia porque tem todo esse trâmite, mas é uma ferramenta que soma no acolhimento e que vem para ajudar a mulher que vive situações repetidas de violência. Abre uma possibilidade de atendimento que, às vezes, é uma lacuna. Ele traz una nova possibilidade — destaca a gerente.
Sônia acrescenta que as mulheres que forem acolhidas nos hotéis vão ter acesso a cursos profissionalizantes. Ela ressalta ainda que a mulher não pode divulgar onde estará abrigada por questões de segurança.
— O Acolhe também oferece essa oportunidade de reinserir essa mulher no mercado de trabalho. Ela não pode receber visitas enquanto estiver abrigada, mas pode fazer cursos online e ligações até para buscar uma nova colocação caso não esteja trabalhando.
O programa
Criado há um ano, o Programa Acolhe já realizou 345 atendimentos a partir da articulação com 80 municípios de 18 Estados. Até o momento foram hospedadas 100 mulheres e 117 acompanhantes (filhos ou dependentes). No Rio Grande do Sul, a iniciativa irá atuar, neste primeiro momento, nos municípios de Canoas, Caxias do Sul, Erechim, Farroupilha, Montenegro, Não Me Toque, Novo Hamburgo, Passo Fundo e Porto Alegre.
ONDE BUSCAR AJUDA
Caxias do Sul
:: Patrulha Maria da Penha: (54) 98423-2154 (o número está disponível para ligações e mensagens de WhatsApp)
:: Central de Atendimento à Mulher: telefone 180
:: Brigada Militar: telefone 190
:: Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam): (54) 3220-9280 ou 197
:: Ministério Público: (54) 3216-5300
:: Defensoria Pública (54): 3228-2298
:: Coordenadoria da Mulher: (54) 3218-6026
:: Centro de Referência da Mulher: (54) 3218-6112 ou (54) 98403-4144
:: Saju (UCS): (54) 3218-2276
:: Sala das Margaridas: atende na Central de Polícia, onde funciona a Delegacia de Pronto-Atendimento, na Rua Irmão Miguel Dario, 1.061, bairro Jardim América. O atendimento especializado funciona 24 horas.
Farroupilha
:: Central de Atendimento à Mulher: 180
:: Brigada Militar (BM) - Patrulha Maria da Penha: 190
:: Coordenadoria da Mulher de Farroupilha: (54) 99710-5229
:: Delegacia de Polícia: (54) 3261-6794, onde fica a Sala das Margaridas, que está instalada dentro em um local reservado e confortável. Também há brinquedos para as crianças, caso seja necessário levá-las à delegacia. Além disso, o atendimento é feito por mulheres de segunda a sexta-feira das 8h às 12h e das 13h30min às 18h. Já a delegacia tem atendimento 24 horas por dia.
:: Defensoria Pública: (54) 3261-1603
:: Fórum: (54) 3268-1079