A volta às aulas em Caxias do Sul foi marcada pela ansiedade e a alegria do reencontro com colegas e professores na maioria das escolas estaduais. Por outro lado, também teve alunos que não puderam ir para o ensino presencial ou que frequentaram às salas de aula sem energia elétrica. Isso ocorre ainda em consequência do furto de cabos, em janeiro, e que não foi resolvido até o momento nas escolas Abramo Randon e Cristóvão de Mendoza. Ao todo, a rede estadual tem cerca de 28 mil estudantes na cidade.
Já na Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Presidente Vargas, no Centro, apesar de os estudantes já terem visto os colegas em 2021, o sentimento dividido entre eles era de estar ingressando na escola pela primeira vez:
— Saí cedo de casa porque estava ansioso. Quero encontrar meus colegas porque somos muito unidos como uma segunda família — conta Maicon Rafael da Silva Junior , 13 anos.
Morador do Loteamento Campos da Serra, ele acordou às 5h e saiu de casa às 6h para chegar na escola às 6h40min. O adolescente que cursa o sétimo ano conta que em casa não conseguia se concentrar:
—Estudava da cama e não é a mesma coisa. Tem que estar na escola para aprender.
Amanda da Cunha Miecoanski, 14, está no nono ano. A expectativa dela era estudar com a irmã mais velha Ana Letícia de 15.
— Queremos ficar na mesma sala. Agora que estamos vacinadas é mas tranquilo estar na escola. Em casa eu não aprendi nada. Perdi o ano todo.
A mãe das adolescentes, Elizandra Maciel da Cunha, 43, avalia que em casa o aprendizado das filhas ficou comprometido:
— Com adolescentes já é difícil na escola, imagina em casa. Elas têm que estar na escola porque não tem outra forma de aprender. Até para aprender a viver em sociedade, interagir, conversar e se relacionar com o mundo. Ficar trancado deixa elas com medo de tudo.
Para Paula da Luz, 42, mãe de Maria Eduarda Ribeiro,11, que cursa o sexto ano, com cuidado a retomada é segura:
— O perigo existe em todos os lugares. Ensinei ela a se cuidar, usar a máscara e lavar bem as mãos. A escola é segura com todas as medidas e ela está vacinada.
Momento de retornar o aprendizado
No Colégio Estadual Henrique Emílio Meyer, estão matriculados 1009 estudantes. Na sala de aula, a professora explicava aos alunos do quarto ano como será o cronograma de aulas. Todos estavam nervosos e erguiam as mãos para fazer perguntas sobre o lanche, o caderno, folhas. Ela respondia calmamente a todas.
— Eu sou conhecida como a profe dos grandes porque minha turma era o 5º ano. Eles ficam apreensivos, mas logo se soltam — conta a professora Karina Marchi Krindges.
Dos 26 alunos matriculados, 13 estavam na sala:
— O ano passado retomamos a ano presencial em agosto e voltaram em maior número em novembro. Estar em um começo de ano letivo presencial novamente é um alívio e uma felicidade. É necessário o contato humano, o olhar, essa relação entre aluno e professor. O ser humano precisa disso porque fomos criador para sermos um conjunto.
A diretora Fabiene Zanettini ressalta que muitos alunos faltaram e outros chegaram atrasados.
— A nossa expectativa é que eles retornem para o presencial e consigam retomar a aprendizagem perdida longe da escola.
Escolas ainda sem energia elétrica
O Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza e a Escola Estadual de Ensino Fundamental Abramo Randon retomaram o ano sem energia elétrica. As duas escolas foram alvo de furtos de cabos ainda em janeiro.
No Cristóvão, os alunos estavam em sala de aula mesmo sem luz, apenas com a claridade que vinha das janelas. O tempo chuvoso dessa segunda-feira deixou a situação ainda mais difícil. Lá o furto de um cabo na caixa de energia não chegou a causar queda completa do fornecimento, porém, por segurança, equipes da RGE que estiveram no local ainda em janeiro optaram pelo desligamento até que a manutenção da caixa seja realizada.
— Tivemos inspeção do Estado foi liberada a retomada porque durante o dia tem como eles terem aula. Os alunos do noturno começam apenas na quarta-feira (23). Eu insisti que fosse nessa segunda-feira (21). A RGE só vai restabelecer a energia elétrica depois que a empresa terceirizada contratada pelo Estado trocar os cabos da caixa que fica fora da escola A previsão é que seria feito hoje (segunda) por essa empresa que venceu a licitação — explica a diretora Raquel Rojas Grazziotin.
Já na Abramo Randon o clima era de tristeza. Os alunos não puderam ir para a escola que está sem luz desde que cabos foram levados de diversos pontos da escola. Esta não é a primeira vez que esse tipo de furto ocorre na escola. Porém, nunca tinha sido registrado um estrago em tamanha proporção. A diretora Márcia Hahn Rosa lamenta que os alunos não possam voltar ao presencial:
— Estávamos com tudo pronto, as salas, os planos de aulas, nos programamos para, quem sabe, em dias que estivesse com mais nebulosidade e que fosse mais difícil de enxergar, eles terem aulas remotas, mas a Seduc não permitiu. Nos avisaram na sexta-feira (18) que eles seriam mantidos no ensino remoto. A previsão é de mais ou menos 60 dias com aulas pela plataforma no mesmo ritmo que foi adotado no auge da pandemia. Foi um prejuízo financeiro de R$ 83 mil ao Estado, mas inestimável à comunidade escolar. Os pais precisam que os filhos estudem e as crianças precisam da escola.
Sentimento de impotência e revolta entre os pais
A presidente do Círculo de Pais e Mestres da Escola Abramo Randon, Elisângela de Oliveira Graminho, conta que o sentimento entre os pais e professores é de impotência e de revolta:
—É uma situação muito triste e revoltante porque nós, os pais, e a direção estamos sempre buscando melhorias e em questão de uma noite ou um dia, porque não sabemos quando ocorreu o furto, ver todo o planejamento mudar. Hoje (segunda) à noite terá uma reunião para sabermos o que será feito. A expectativa era grande para o retorno das aulas presenciais, porém, devido aos últimos acontecimentos foi adiado já que a Seduc não autorizou a volta por enquanto. É um sentimento de revolta e indignação, por estar prejudicando o ensino e a comunidade escolar.
Integrante do CPM do Cristóvão, Daiane Trindade da Silva, conta que acompanhou o trabalho da direção e da coordenadoria para agilizar o retorno da energia elétrica.
— Até entendo que o Governo do Estado não tem culpa, teve um furto. Ok, mas não faz uma semana que a escola está sem luz. É complicado começar a aula sem luz, eles deviam ter agilizado o repasse.
O ano letivo
O ano letivo de 2022 será dividido em quatro bimestres na rede estadual. Este formato permitirá que o planejamento pedagógico tenha uma organização mais efetiva, com maior capacidade de resposta neste momento de recuperação das aprendizagens. O recesso escolar ocorrerá de 25 a 31 de julho, o início do segundo semestre está marcado para 1º de agosto e o ano letivo terminará em 16 de dezembro.
O ensino remoto fica restrito apenas aos estudantes que tiverem indicações médicas no RS, em Caxias, aos estudantes do Abramo Randon, devido aos problemas com energia elétrica.
Em entrevista ao programa Gaúcha Hoje na manhã dessa segunda, a titular da 4ª Coordenadoria Regional de Educação, Viviani Devalle, explica que agora não há mais revezamento, mas as escolas seguem todas as demais orientações sanitárias:
— Para uma retomada segura o processo foi gradativo. O distanciamento agora é uma recomendação. As escolas que têm condições de manter um metro de distanciamento entre os alunos dentro das salas vai manter, as que precisam reduzir para 90 ou 80 centímetros de distância para comportar todos para que aconteça o presencial se organizará assim. Todas as nossas escolas têm conhecimento de todo o regramento sanitário e os alunos também tem que saber exatamente qual o seu papel dentro desse ciclo do retorno. A escola é um espaço seguro. Temos todo o material para higienização, máscaras, caso precisem fazer a troca dentro do espaço escolar, e tem que usar máscara fora da escola também, não apenas quando chega na porta da escola.
Como novidade para o ano letivo de 2022, ocorre a implementação do Ensino Médio Gaúcho, em todas as turmas de 1º ano. Pela proposta, a carga horária total é de mil horas. O novo modelo contempla 800 horas de Formação Geral Básica e mais 200 horas dos componentes obrigatórios que fazem parte dos itinerários formativos. Ela também falou sobre o quadro de professores em relação a 2019:
— Temos iniciado de forma mais tranquila. Ainda temos escolas precisando designar professor, e estamos chamando professor. Estamos enfrentando dificuldades muito grandes porque ao ligar para o professor ou mandar e-mail, que é o sistema que usamos, eles não atendem ou não respondem e nós precisamos da negativa do professor para chamar o próximo da lista. Temos falta de professor, mas na próxima semana temos a expectativa de estar preenchendo a vaga.
Quanto aos furtos ela faz um apelo à comunidade:
— Enfrentamos muitas situações de furtos e roubos e pedimos a população que mora perto das escolas que se ver qualquer movimentação suspeita acione a Brigada Militar.