Em uma das esquinas mais movimentadas de Caxias do Sul, entre as ruas Marechal Floriano e Vinte de setembro, o ex-dono de restaurante Fernando Schaefer, 55 anos, montou acampamento. A barraca foi instalada em cima da estrutura onde ele vende cachorro-quente há pouco mais de um ano na esquina da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Central. Segundo ele, a situação é provisória, não deve durar mais de 15 ou 20 dias, mas se fez necessária depois de um ciclo de perdas financeiras.
Por cerca de 30 anos, Schaefer esteve à frente de uma lancheria em outro ponto bastante tradicional da cidade: na Rua Feijó Júnior, o bairro São Pelegrino, onde trabalhou ao lado do sogro e da esposa. Um ano antes do estouro da pandemia, em março de 2020, conseguiu fazer investimentos para tentar atrair ao restaurante uma clientela que já não aparecia com a mesma frequência.
— Vendi minha caminhonete e um apartamento simples que tinha em Capão Novo, reformei o mezanino e adequei a sala com as regras dos bombeiros. Veio a pandemia e o dono do imóvel não deu nenhum desconto.
Descapitalizado e com o restaurante vazio, ele diz que foi obrigado a encerrar as atividades e partir pra outra alternativa. No mesmo ramo de comida, porém, em um negócio mais modesto e com outro produto em uma esquina ainda mais movimentada.
— Ganhei a concessão da casinha (de cachorro-quente) depois da desistência do antigo proprietário. Em dias bons, vendo 25 lanches, mas o movimento não é mais o mesmo. Meu cachorro-quente é caprichado, a minha margem de lucro é baixa, e ainda não consegui fazer um capital de giro.
Prestes a completar 56 anos, Schaefer se divorciou e passou a morar em uma pensão, mas a infestação de baratas nos quartos fez com que ele preferisse pernoitar uma barraca na rua. Há uma semana, segundo ele, tem dormido em cima da carrocinha em que trabalha durante as madrugadas. Em frente à UPA — de onde sai grande parte da sua clientela —, ele recebeu a reportagem. Com a barba bem feita, camiseta limpa e cabelo penteado, Schaefer contou como tem enfrentado a nova realidade.
— Tomo banho nos postos de gasolina, uso o banheiro do Postão (UPA), me dou bem com todo mundo, as pessoas gostam do meu lanche. Tem dias que me alimento, tem dias que não. Conforme a venda, quando é fraca, eu opto por abastecer a casinha e acabo me alimentando com cachorro-quente basicamente.
Diante de todas as adversidades que tem enfrentado nos últimos anos, o vendedor de cachorro-quente não desiste, diz amar trabalhar com a carrocinha e só se permite encher os olhos de lágrimas ao falar da filha, de 16 anos.
— Minha filha mora com a mãe, estudou em escola particular, agora está se virando, mas eu sinto em não poder ajudar ela.
Natural de Caxias do Sul, Schaefer acompanhou diferentes cenários econômicos do município. Trabalhou em metalúrgica, em agência de publicidade e, agora, no improviso para sobreviver observa e vive uma nova realidade.
— Eu fico impressionado com a quantidade de moradores de rua que tem em Caxias, eu vi uma Caxias pujante, vivi as crises e agora sou um produto dela.