A angústia e a apreensão era visível entre os pais que encararam a fila na Central de Matrículas de Caxias do Sul na manhã dessa terça-feira (15). Mais de 160 pais esperavam na fila que começava na Avenida Júlio de Castilhos, junto ao local, e seguia pela Rua Feijó Jr quase até a Pinheiro Machado pouco depois das 6h. Desde a segunda-feira eles tentam matricular ou transferir os filhos para escolas da rede pública do município. Como apenas 100 fichas são entregues por dia, muitos que estiveram na longa fila tiveram que voltar. É o caso de Andreia Barbosa, 37 anos. Com uma cadeira de praia, a auxiliar de produção revezou com o marido o lugar na fila desde às 3h20min. A mãe precisa matricular a filha de cinco anos, Maria Júlia, em uma escola do Vinhedos e conseguir transferência para o filho mais velho de 14, Dhionatan, que estuda no município de São Marcos.
— Eu estou aqui na esperança de pegar uma ficha pra amanhã (quarta-feira). Preciso resolver isso. Tenho que trabalhar também e acabo angustiada — desabafou Andreia.
Por volta das 7h30min, o esposo dela Vitor Roberto Nogueira, 42, retornou a fila para que ela pudesse ir trabalhar. A situação se repetia. Ivanessa Nol dos Santos, 33 chegou às 7h para ficar no lugar do pai do filho dela. A mãe precisa de uma vaga para Vítor, 10.
— Meu filho está matriculado no Charqueadas e moramos no Planalto. Estou aqui lutando pelo direito do meu filho. Espero que entreguem a senha e nos atendam porque temos que resolver e preciso dessa vaga — desabafa ela.
A vendedora Ana Paula Pires, 44, era a terceira da fila. Na segunda-feira, ela ficou na fila até as 10h sem conseguir atendimento. O pai dela foi até a Central de Matrículas por volta da meia-noite mas não tinha ninguém na fila. Por volta das 3h30min ele passou a guardar o lugar para que a filha conseguisse uma transferência para a neta dele, Luiza, 15.
— Minha filha está matriculada no bairro Cruzeiro e o Emílio Méier é bem perto da minha casa. Me pergunto como não conseguiram resolver ainda esse problema? Todo ano a mesma coisa. Liga e não atendem o telefone, não instruem os pais, pedem para mandar mensagem de whatsapp e não retornam. A apreensão só aumenta e não sabemos nem pra quem reclamar e é de sempre a mesma confusão.
Ela recebeu a senha e preencheu um formulário às 11h da manhã, mas foi pra casa sem saber se irá conseguir a vaga para a filha. O retorno é em até 15 dias, já que há uma lista de espera. Lorien Meletti, 34, também contou com a ajuda do irmão para tentar garantir uma ficha. Ela precisa transferir o filho Enzo Gabriel Meletti Calgarotto, seis anos para uma escola mais perto de casa.
— Tu não sabe o que vai acontecer e precisa da vaga. Vim pensando que os que estavam ontem (segunda) na fila iam estar na fila novamente.
Ana Paula da Rosa Pereira, 46, também precisa de transferência para a filha Cecilia, 15. Ela e o esposo Luciano de Cândido Pereira, 44 eram o número 100 da fila, mas não sabiam o que iria acontecer.
— Tinham que organizar melhor o atendimento e mandar uma pessoa antes para organizar tudo. Os pais se indignam por ficar assim sem saber o que fazer. São 100 fichas mas tem pessoas na fila com ficha ou não? Vamos conseguir? — questiona ela.
Uma funcionária da Central de Vagas chegou às 7h18min. Naquele momento, já haviam duas filas, com quem tinha ficha e quem ainda não havia recebido a senha. No entanto, ela não percorreu a fila para orientar os demais pais. Às 7h55min, a mesma funcionária, passou a organizar a fila de quem tinha senhas que foram entregues na segunda.
O representante do Conselho Tutelar Macrorregião Sul, Cassiano Fontana, esteve na Central de Matrículas para acompanhar a situação:
— Vamos solicitar via conselho que se faça um mutirão. Temos que pedir providências a Smed e a 4ª CRE porque todos os anos acontece a mesma coisa, e agora no pós-pandemia parece que piorou. É um desrespeito aos pais .
Contraponto
A secretária de Educação de Caxias, Sandra Negrini, entende a angústia dos pais, já que as aulas começam nos próximos dias. Contudo, ela ressalta que não há como prever quem irá solicitar transferência, ou quem ainda está sem vaga ou perdeu o prazo:
— Na segunda, foram atendidas 350 pessoas porque precisamos estudar cada caso. Estamos organizando com cada escola que todos os alunos que entrarem depois do início da aula terão a recuperação se por ventura perderem conteúdos. Compreendemos a angústia e também ficamos angustiados. Gostaríamos de atender a todos dentro de suas necessidades, mas esse é um momento de grande movimentação.
Até a sexta (18), vão ser atendidas solicitações de transferências e ou troca de escola; de vagas para quem está chegando à cidade e ou que perderam o prazo para matrícula; e de transferência para aqueles que foram designados para escolas, dentro do zoneamento da residência, contudo para instituição diferente da solicitada, e que agora desejam fazer a troca. No período de 21 a 28 serão feitas as designações para escolas, atendendo ao critério de zoneamento.
As titulares da 4ª CRE, Viviani Devalle, e da Smed destacaram em nota que todos os estudantes inscritos na Central de Matrículas receberão designação até a primeira semana de março. Isso será feito considerando o zoneamento e série que a criança ou adolescente irá frequentar em 2022, dentro das possibilidades e vagas remanescentes.
A coordenação da Central de Matrículas pontua que o atendimento para as inscrições é somente na modalidade presencial, de segunda a sexta, das 9h às 14h, conforme senhas distribuídas. O setor atende vagas em 184 instituições de ensino, sendo 53 da rede estadual e 131 da municipal, divididas entre 83 do ensino fundamental e 48 de educação infantil.