Quem passa pela VRS-831, no bairro Nossa Senhora da Saúde, no interior de Caxias do Sul, se encanta com as belas paisagens. Em parte do caminho, se entende porque a estrada vicinal, que liga a comunidade de Santa Justina à RS-122, é chamada de Caminhos da Colônia ou Rota da Colônia. É possível admirar os parreirais, as montanhas, sentir o cheiro da uva, na época da vindima, e até ouvir o canto dos pássaros e o barulho de rios, cachoeiras e vertentes escondidos em meio à vegetação.
Ao chegar a um trecho da estrada, principalmente, depois de passar por uma empresa de comércio de água mineral, o passeio já não é mais o mesmo. Nesse ponto, o que chama a atenção são as más condições da via, que apesar de estadual foi batizada como Estrada Municipal Vereador Marcial Pisoni. Se é assim para quem passa ocasionalmente por ali, imagine para os moradores, que precisam percorrer dia a dia a estrada e têm que escoar a produção rural.
— A estrada está totalmente deteriorada, e tem uma parte que caiu há uns cinco anos por causa da chuva e foram colocadas algumas "barreiras" para evitar que maiores acidentes acontecessem. Desde lá, nada foi feito e a estrada foi deixada "de lado"... A via está cheia de buracos, esquecida, abandonada — relata a jovem Mariana Nunes, 20 anos.
Hoje ela vive no Rio de Janeiro, mas está de férias na casa dos pais e passa pela via, de duas a quatro vezes por dia:
— A minha reflexão e a minha indignação vai no sentido de que, nos últimos anos, muito se fala, em Caxias do Sul, na valorização e na ampliação do turismo da cidade, mas pouco se discute a preservação dos já existentes. Se o poder público não consegue manter os acessos turísticos em uma qualidade razoável, que, pelo contrário, estão totalmente intransitáveis, como vamos começar discutir uma ampliação turística? — questiona ela.
Buracos, desníveis e sinalização precária em trecho onde ocorreu deslizamento
A reportagem percorreu a estrada até o salão da comunidade Santa Justina. Dos 10 quilômetros, pelo menos sete apresentam buracos e desníveis no asfalto. No ponto onde parte da estrada desabou há sinalização precária, e a rodovia fica ainda mais estreita.
Morador de Capela Santa Justina, Gabriel Tome Zanquet, 27 anos, ressalta que a comunidade é quem se reúne até mesmo para cortar o mato que toma conta da via.
— Moro aqui há 10 anos e nunca vi o poder público fazer manutenção, limpeza, recapeamento, nada. Quem se mobiliza para cortar a grama e o mato que cresce na estrada somos nós da comunidade.
Durante a manhã de segunda-feira (31), um movimento considerável foi registrado na VRS, especialmente, em direção a Otávio Rocha distrito de Flores da Cunha. Como está em construção uma subestação de energia elétrica na localidade de Travessão Barreira, em Santa Justina, o tráfego de caminhões aumentou, o que compromete ainda mais a qualidade do asfalto:
— Um bom tapa buraco já ajudava. Sabemos que é responsabilidade do Estado, e esperamos que agora saia a verba para recuperar a estrada. Minha mãe conta que o asfalto foi feito há uns 33 anos. No governo do Rigoto (ex-governador) recapearam a estrada e, depois disso, não foi feito mais nada —conta o agricultor, Diego Debastiani, 34.
A situação prejudica quem mora no local, e vive da agricultura, mas também quem trabalha com venda de produtos e com turismo.
— Alguns clientes deixam de vir pela situação da estrada, porque se estraga o carro à noite, nessa estrada faz o quê? Prejudica todo mundo, quem tem que escoar a produção, quem vai trabalhar. Moro aqui há 33 anos e nunca vi fazerem manutenção, recapear a estrada _ ressalta Maria Clarete Ranzonlin, 62.
Daer realizou levantamento para recuperar a via
Os deputados Carlos Burigo (MDB) e Neri, o Carteiro (Solidariedade) encaminharam ofícios ao Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) em 2021 para que a estrada receba recapeamento. Eles também participaram de encontros e conversar com lideranças da comunidade para repassar ao Estado as demandas dos moradores.
De acordo com a assessoria de imprensa do departamento, já foi realizado o levantamento das condições do trecho e dos serviços necessários para a manutenção. Ainda segundo a assessoria: "haverá a inclusão no orçamento do Daer para execução de obras neste primeiro semestre de 2022, e, então, será programada a recuperação da rodovia."
O que diz a Secretaria de Turismo de Caxias
Mesmo que a estrada seja de respondibilidade do Estado, a Secretaria Municipal de Turismo (Semtur) de Caxias do Sul entende a necessidade de recuperar o trecho, que integra os roteiros turísticos da região.
— Colocamos placas de identificação e sabemos que a cobrança de moradores no que diz respeito ao Turismo é pertinente. Já solicitamos providências ao Estados e estamos aguardando que sejam promovidas melhorias, bem como na RS-122 que é um dos acessos principais a Caxias do Sul— ressalta o secretário Ênio Martins.
Ele diz ainda que a Semtur tem visitado diversos roteiros do interior, como os de Forqueta, Criúva e Vila Cristina para lançar um novo site, e é importante que todos os pontos estejam em condições de receber os turistas.
— Tem todo o escoamento da produção, e também o potencial turístico desses locais, com roteiros vendidos, e que precisam de melhorias urgentes — aponta ele.