Um dos atos que dá mais força à história da Festa da Uva e que implica em repercussão além da região é a presença de autoridades no evento - seja na abertura ou durante os dias da programação nos pavilhões ou desfiles. A festividade é tradicionalmente organizada em anos pares desde a década de 1990 (as exceções foram 1991 e 2019) e acaba coincidindo com vésperas de períodos eleitorais. Por isso, marcar presença na Festa da Uva é sinônimo de palanque e também espaço para anúncios importantes que impactam na economia de Caxias do Sul e região.
Pela terceira edição consecutiva, a abertura do evento, agendada para 11h da próxima sexta-feira (18), não deverá contar com a participação de um Chefe de Estado. Mesmo depois de confirmar presença na cerimônia de forma protocolar, durante visita da comitiva da festa em dezembro, o presidente Jair Bolsonaro tem viagem prevista para a Europa na semana que vem, período que coincide com os primeiros dias da Festa da Uva. De acordo com informações do site G1, Bolsonaro terá agenda em Moscou, na Rússia, na próxima quarta (16), e na quinta (17) seguirá para a Hungria.
O presidente da Comissão Comunitária da Festa da Uva, Fernando Bertotto, afirmou ao Pioneiro que a organização do evento não recebeu até o momento nenhum indicativo do governo federal, seja confirmando presença ou ausência ou que outra autoridade poderia vir no lugar dele. Mesmo assim, caso confirme a ausência, a presença do presidente é aguardada para o restante do evento, que segue até 6 de março.
— Independente da vinda do presidente na abertura, esperamos que o evento seja um sucesso. Ainda existem outras oportunidades ao longo dos dias da festa, que podem ser aproveitadas para a visita, que sempre acaba trazendo repercussão para a Festa da Uva, sem dúvida — afirma Bertotto.
Com a ausência de Bolsonaro na abertura, a representação do governo federal deverá ficar à cargo do ministro do Trabalho e Previdência Social, Onyx Lorenzoni, que é pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul nas eleições de outubro. Na última edição da Festa da Uva, realizada nos primeiros meses da nova gestão, em 2019, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, foi a principal autoridade da cerimônia.
Pesa a favor de Onyx a sua articulação ao intermediar a agenda entre a comitiva da Festa da Uva com Bolsonaro no fim do ano passado e o fato de não integrar, até o momento, o grupo presidencial que estará na Europa na semana que vem. Além disso, a presença dele em um dos principais eventos do Estado é considerada uma vitrine política em ano eleitoral.
A mesma exposição busca o vice-governador Ranolfo Vieira Junior, que antecipou aos organizadores da Festa da Uva, quando esteve na cidade para a abertura da colheita no início do mês, que participaria da cerimônia. A assessoria de imprensa confirmou a vinda dele a Caxias no próximo dia 18. Ranolfo também é pré-candidato à sucessão do Palácio Piratini em outubro. O governador Eduardo Leite, que esteve na abertura da Festa da Uva em 2019, deve comparecer também. A assessoria de imprensa do governo do Estado afirma que a vinda de Leite a Caxias está na pré-agenda e a definição ocorrerá na véspera do evento.
No Legislativo, a presidente da Câmara de Vereadores, Denise Pessôa, estará no palco. Ela também ocupa uma das vice-presidências da Comissão Comunitária do evento. Além de Denise, a vice-presidente Tatiane Frizzo, que foi rainha da edição de 2010, também acompanhará a solenidade. Além delas, a vice-prefeita Paula Ioris e a vice-presidente da Comissão Comunitária, Sandra Randon, estarão na cerimônia. Na última edição, em 2019, Sandra foi a única mulher em destaque na abertura, que teve o trio de soberanas fora do palco.
O protocolo oficial está sendo organizado por uma empresa terceirizada contratada pela Festa da Uva e atua com o apoio da comunicação do evento. Até o momento, o setor aguarda confirmações da vinda de outras autoridades convidadas durante a divulgação, principalmente ministros e representantes da Câmara dos Deputados, Senado e da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Os senadores gaúchos Lasier Martins e Luis Carlos Heinze ainda avaliam a presença, segundo as assessorias de imprensa. Martins concorrerá neste ano à reeleição e Heinze é pré-candidato ao governo do Estado. Já o senador Paulo Paim não vai comparecer. Desde o início da pandemia, ele tem evitado compromissos públicos, inclusive participando das sessões do Senado de forma virtual, segundo a assessoria.
Cerimônia será ao lado das Réplicas de Caxias
Nesta edição, a solenidade será ao ar livre, com o palco instalado em um jardim próximo à estrutura do espetáculo Som & Luz e também ao lado das Réplicas de Caxias. Uma cobertura começou a ser montada na quarta-feira (9) para proteger as autoridades em caso de chuva ou até mesmo do sol forte. A previsão do tempo indica tempo ensolarado para sexta-feira (18) e sábado (19).
Com isso, os convidados que assistirão à cerimônia serão acomodados na arquibancada coberta da estrutura utilizada pelo Som & Luz. Assim como em outros anos, a presença na abertura será limitada e não poderá ser acompanhada pela comunidade.
— Surgiu essa ideia de inovar neste ano porque é um espaço muito bonito, que precisa ser mais valorizado no parque. Por isso, apostamos em uma abertura ao ar livre, fora dos pavilhões ou do Centro de Eventos, que tenho certeza que vai ficar muito bonita — afirma Bertotto.
Em 2019, o palco da abertura foi organizado no segundo andar do Centro de Eventos. Na Festa da Uva em 2016, a cerimônia ocorreu em um espaço localizado entre o pavilhão 1 e o pavilhão 2.
Como foram as últimas aberturas de Festa da Uva
Nas últimas sete edições, a cerimônia contou com a presença de um Chefe de Estado em quatro oportunidades: 2014, 2012, 2006 e 2004.
:: 2019
O vice-presidente Hamilton Mourão representou o presidente Jair Bolsonaro na abertura. Bolsonaro não compareceu à solenidade porque estava se recuperando de uma cirurgia para reconstrução do trânsito intestinal e retirada da bolsa de colostomia. Em seu discurso, Mourão defendeu a reforma da previdência, bandeira do governo nos primeiros meses da nova gestão. Na época, havia a expectativa de uma visita de Bolsonaro aos pavilhões durante os dias do evento, que não se confirmou. Sem nenhum anúncio formal, a solenidade se tornou polêmica devido à ausência do trio de soberanas no palco e com quase nenhuma representatividade feminina em destaque.
:: 2016
Diante de uma crise econômica e política, a presidente Dilma Rousseff não participou da abertura. Foi representada pelo então Ministro do Trabalho e Previdência Social, Miguel Rossetto, que anunciou a redução da alíquota do IPI do vinho de 10% para 6% e 5%, deixando o produto nacional mais barato para o consumidor. A medida foi comemorada pelos produtores da região.
:: 2014
Após oito anos e três edições, foi a última Festa da Uva que contou com a presença de um Chefe de Estado. Às vésperas de concorrer à reeleição, Dilma destacou em Caxias a realização da Copa do Mundo daquele ano e fez a entrega de máquinas e equipamentos agrícolas em cerimônia na Universidade de Caxias do Sul (UCS).
:: 2012
Há 10 anos, Dilma Rousseff chegava a Caxias pela primeira vez como Presidente da República. Após a abertura, fez um rápido passeio pelos pavilhões.
:: 2008
Foi uma abertura com ar feminino. Dilma foi a primeira mulher a abrir a Festa da Uva, em 2008, ao lado da então governadora Yeda Crusius. Na época, Dilma era ministra-chefe da Casa Civil do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
:: 2006
A abertura foi acompanhada pelo presidente Lula no ano eleitoral. Incentivado pelo então governador Germano Rigotto, Lula debulhou milho em uma engenhoca rústica e manual, sob a orientação de um agricultor. Também visitou estandes.
:: 2004
Depois da ausência presidencial nas edições de 1998, 2000 e 2002, a Festa da Uva voltou a receber um Presidente da República em 2004. O presidente Lula inaugurou a edição daquele ano, ao lado da primeira dama Marisa Letícia. Ele chegou a Caxias em um dia tenso devido ao caso Waldomiro Diniz, que revelava suposto esquema de doação de dinheiro de jogos para a campanha petista. No final da tarde, o então presidente assistiu ao desfile na Rua Sinimbu. Esta foi a última vez que um Chefe de Estado participou da abertura e também assistiu ao desfile.