Becos e casas localizadas às margens da Rua Cristóforo Randon, no bairro Euzébio Beltrão de Queiroz, em Caxias do Sul, começaram a ganhar um colorido especial neste sábado (12). As paredes e os rebocos deixaram de ser cinzas para se tornarem vermelhos, azuis, amarelos e outras cores, melhorando a autoestima e valorizando a comunidade localizada em uma das entradas da cidade. Ações com grafite, poesia e outras intervenções serão feitas ao longo dos próximos dias por moradores e voluntários do projeto Mosaicos da Quebrada.
A iniciativa é do Instituto SAMbA, do rapper e educador social Jankiel Francisco Cláudio, conhecido como Chiquinho Divilas, e também da Associação de Moradores do Euzébio Beltrão de Queiroz. Cerca de 30 pessoas, entre voluntários e moradores, se uniram para começar a pintar as paredes dos muros de dois becos localizados na Cristóforo Randon. Detalhistas, até mesmo crianças pegaram nos pincéis e latas de tinta para se envolveram na ação. Aos adultos, uma máquina de compressor foi emprestada para dar agilidade aos locais mais altos.
Na primeira etapa, realizada em dezembro do ano passado, uma escadaria que liga a Rua Bento Gonçalves com os fundos do prédio do antigo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), em frente ao Estádio Centenário, foi revitalizada e tem chamado a atenção das pessoas que passam pelo local. Agora, nessa segunda fase, o projeto chega mais próximo dos moradores, permitindo uma intervenção urbana onde a comunidade está no dia a dia.
O objetivo, segundo Chiquinho, é tornar o espaço um cartão-postal da cidade e servir como exemplo.
— É muito mais que pintar. Me contaram que somente com a pintura do selador, que fizemos ontem (sexta), já estava mais iluminado e melhor. Por isso é que queremos dar visibilidade para essa comunidade através das cores. É uma área historicamente invisível e o nosso objetivo maior é tornar essas agendas permanentes. Não se trata de um photoshop social, onde estamos pintando e vamos esquecer. Não é. Vamos dialogar com os moradores e entender o problema social e poder ajudar, com a arte, arquitetura e dignidade — conta ele, que também é morador do bairro.
A ação é possível com o engajamento de voluntários. A assistente de recursos humanos e estudante de Arquitetura e Urbanismo, Danieli Matos, 26 anos, participava do projeto pela primeira vez. Desde cedo, estava com um pincel na mão e colorindo um dos becos onde os trabalhos estavam concentrados.
— Como estudante, tenho muito interesse em urbanismo e esse projeto é um exemplo de como o lugar onde as pessoas vivem merece ter melhor atenção. Vou começar também a auxiliar em levantamentos da comunidade, mas estou aqui colocando a mão na massa também.
Além dos becos, o projeto quer colorir até o final deste ano 125 residências localizadas na Cristóforo Randon. Os moradores escolhem as cores e os voluntários ficam responsáveis pela aquisição das tintas, pincéis e da ação prática. Segundo a arquiteta Jéssica de Carli, que preside o Instituto SAMbA, o engajamento da comunidade é grande, com muitos pedidos dos moradores para que tenham as suas casas pintadas. Ao mesmo tempo, outros pedidos de ajuda chegam.
— Além da pintura, os moradores nos pedem ajuda para consertar um vidro quebrado, uma telha que está quebrada e quando chove molha dentro. Isso nós também vamos atrás, mas será mais fácil se tivermos ajuda da comunidade, da iniciativa privada, para que possamos dar mais agilidade e ampliar o trabalho que está sendo feito aqui — disse.
O projeto conta com recursos da Lei de Incentivo à Cultura (LIC) para a aquisição das tintas e materiais para pintura. Já os materiais de construção podem ser doados pela comunidade. Quem tiver interesse em ajudar pode contatar Jéssica pelo número (54) 9 9909-9810.
"Esses becos eram muito escuros, não tinha vida e agora vai ter", diz moradora do Euzébio
As primeiras casas a receberem cor são vizinhas. A aposentada Maria de Fátima, 56 anos, combinava nessa manhã com os responsáveis como ficará a cor da casa onde ela mora no Euzébio. Ela escolheu um tom de rosa. A ação iniciará nos próximos dias, mas uma intervenção com grafite começou neste sábado. Ela está orgulhosa do projeto e se sente agradecida pelo trabalho voluntário.
— Esses becos eram muito escuros, não tinha vida e agora vai ter. É uma benção porque nós não temos dinheiro para fazer essas coisas. A pandemia nos prejudicou muito e fico feliz com esse pessoal aqui, fazendo esse projeto. Os becos onde ficam as moradias dos meus filhos também estão sendo pintados, então estou muito feliz — conta ela.
Ao lado da casa dela, com o beco dividindo os espaços, está a residência da operadora de máquinas Jandira Ravanei, 36 anos, que mora no local há 18 anos. Ela também escolheu rosa e vai ter detalhes em azul também ao lado da moradia.
— Quando construí, sempre quis pintar, mas nunca deu. O Chiquinho conversou comigo, perguntou se eu queria participar do projeto, e eu aceitei na hora. Escolhi cores vivas e o rosa eu acho muito bonito. Vai deixar a nossa comunidade mais viva, que é sempre lembrada como favela, e o colorido vai deixar top — disse.