Vitória, uma das éguas resgatadas durante a operação Hipo do Ministério Público Estadual (MP) que desarticulou um esquema de venda de carne de cavalo como sendo de gado em Caxias do Sul já está no novo lar. Celeste, Star, Príncipe e Raio de Sol seguem na Clínica de Grandes Animais da Universidade de Caxias do Sul (UCS) até esta sexta-feira (17) quando os adotantes virão à cidade buscá-los. Todos foram doados para moradores de fora de Caxias. Já, Pantufa, a jumentinha, é a nova mascote da universidade.
A caxiense Raquel Soletti, 37 anos, e o esposo Fernando Müller, 37, moram em Carlos Barbosa. O casal de veterinários adotou Vitória, que deixou a UCS na segunda-feira (13) e foi levada para a propriedade deles em Vista Alegre do Prata, onde passam os finais de semana.
— Temos adoração por cavalo. Temos vários adotados na nossa propriedade. A Vitória terá a companhia de dois porquinhos, o Antony e a Rosa, e do burrico Ferdinando. Temos vários cachorros e gatos adotantes também. A adoção faz parte da nossa vida porque temos a certeza que quem ganha somos nós — conta Raquel.
No sexto mês de gestação, a veterinária tinha consulta do pré-natal na segunda e ainda não conhece de perto a égua. Ela espera ansiosa para conhecer Vitória nesta sexta-feira:
— A Vitória é meu presentão de Natal. Na verdade ela nem é minha, ela é da Maria Fernanda, que está na barriga — comenta sorrindo.
Com carinho, ela conta como será a vida da égua na propriedade:
— Daqui alguns meses ela vai estar uma égua linda. Ela foi adotada para ir lá para casa para ter um lugar sossegado para passar o resto da vida dela. Não foi usada para montaria, para nada. Ela vai ter pasto a vontade, sombra e água fresca e muito amor em carinho, para curtir a vida dela de uma forma agradável. A Vitória não vai ter cocheira, ela vai ter uma família e vai ser criada em bando, para busca as origem dela.
Raquel destaca ainda que não conseguiria lidar com as situações com as quais as ONGs que combatem maus-tratos se deparam.
— Apesar de sermos veterinários, tenho a consciência que não teria como trabalhar como essas meninas que veem tanto sofrimento dos animais. Não tem como não se compadecer diante de tudo o que acontece com esses animais, tanto com a Vitória, quanto outros que foram salvos, e os que infelizmente, foram abatidos. Eu não tenho esse psicológico, então tentamos fazer nossa parte, adotando.
Sobre o estado da nova integrante da família, Raquel afirma que se assustou com as fotos:
— As gurias contaram que ela estava ainda mais magra, que agora ela está bem, e eu não consigo nem imaginar. Me pergunto como ela aguentou as viagens. Tinha uma preocupação com a remoção dela, mas graças a Deus ela chegou bem.
Adoções serão monitoradas pelo MP
Os escolhidos para ter a guarda dos animais terão que assinar um termo de adoção, que serve para prestação de contas ao Ministério Público (MP).
— Estamos muito felizes porque todos vão para lares muito bons e vão ter uma vida digna no campo e com atendimento veterinário. A Vitória foi para um casal que já tem jumentinhos e porcos resgatados de maus-tratos. Os outros também vão para propriedades que já tem veterinários atuando nas propriedades — explica a presidente da PAC, Cátia Giesch.
Ela ressalta que foram adoções especiais:
— Nenhum é de Caxias, mas não vamos divulgar para onde eles foram porque é um pedido de alguns adotantes. Eles são pessoas muito especiais que só queriam adotar, não escolheram qual e não se importaram com as condições em que se encontravam e nem com todos os critérios que foram impostos. Quiseram mudar a vida deles depois de tudo o que passaram. Temos um sentimento de missão cumprida.
O sentimento é o mesmo da presidente da Soama, Natasha Oselame Valenti:
— Meu Príncipe amado vai para casa nova. Ele vai ser o melhor amigo da Esmeralda, uma vaquinha. Sentimos uma alegria e alívio.
Relembre o caso
Os animais foram resgatados durante a operação do Ministério Público (MP) que desarticulou um esquema de venda de carne de cavalo como sendo de gado em Caxias do Sul. Eles foram encontrados pela equipe do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) – Segurança Alimentar em uma chácara, no bairro Forqueta, que era utilizada como abatedouro clandestino.
Os animais sobreviventes , segundo o MP, seriam abatidos para serem transformados em hambúrgueres. Os animais foram levados para Hulha Negra depois da ação desencadeada em 18 de novembro e foram transferidos de volta para Caxias do Sul, no dia 26, uma vez que a PAC conseguiu a guarda dos cavalos até que sejam doados. Eles ficaram isolados na clínica da UCS e passaram por revisão médica, exames e foram vacinados. Também foram monitorados, para então, estarem aptos a doação.