A menina que morreu atropelada na BR-116 no final da tarde de quinta-feira (2) será cremada às 17h desta sexta-feira (3) no Memorial Crematório São José, em Caxias. Não haverá velório. Valentina Ochôa Elias, de sete anos completados em 10 de novembro, foi atingida por um Argo no km 152,3 da rodovia, no bairro Planalto. Ela chegou a ser socorrida, mas morreu antes de chegar ao hospital. As circunstâncias do acidente serão investigadas pela Polícia Civil.
Valentina havia ingressado neste ano na Escola Melvin Jones, onde cursava o primeiro ano do Ensino Fundamental — a criança residia nas proximidades da rodovia.
A comunidade escolar da Melvin Jones tem traumas de tragédias anteriores envolvendo alunos, como a de um menino de 11 anos, atropelado em 2012. Por conta disso, a maioria dos estudantes vai e volta das aulas de van.
— Estamos muito chocados, sem chão. Sentimos a dor da família. Já tivemos várias perdas e ficamos apreensivos porque muitos alunos precisam atravessar a BR-116 — relata a diretora Leila Solange Ramos.
Em mais um dia de luto, a escola decidiu suspender as aulas no turno da tarde nesta sexta-feira (3) para que colegas e professores possam homenagear a menina. Cartazes e outros materiais foram produzidos por estudantes do turno da manhã.
— Era uma menina extremamente carinhosa. Chegava na escola com flor e ontem (quinta) mesmo deu uma flor para a vice-diretora. Ontem também falou para a professora que amava ela — lembra Leila.
Desafios na travessia
O ponto do acidente que tirou a vida de Valentina não é o mesmo onde há anos se debate a implantação de melhorias na travessia de pedestres e na reconfiguração do trânsito. Isso não significa, contudo, que não haja desafios a serem superados, como outros trechos da rodovia.
O local onde Valentina foi atropelada conta com três faixas — a terceira foi implantada em 2018 — e trânsito intenso, especialmente no horário do atropelamento. Segundo o relato dos moradores, a travessia é arriscada mesmo para adultos e os acidentes são frequentes. Após a implantação da terceira faixa, a velocidade dos veículos também aumentou.
— Depois que fizeram a terceira faixa ficou mais difícil para atravessar. O pedestre é sempre o mais esquecido. Às vezes eu prefiro atravessar de carro — conta a comerciante Chaine Penha.
Com relação ao acesso principal ao Planalto, a prefeitura chegou a contratar uma empresa para a remodelação do cruzamento e a construção de uma passarela, reivindicada desde a morte de Mauricio Pimentel da Rocha Gonçalves. O município acabou rescindindo o contrato porque a contratada não iniciou as obras. A partir disso, a opção foi alterar o projeto e retirar a passarela para implantar as travessias junto aos semáforos que já estavam previstos. O argumento é que a passarela seria cara e acabaria não utilizada, o que teve a concordância da diretora do Melvin Jones e da comunidade.
— Houve uma reunião no gabinete do Adiló comigo e representantes do bairro e o secretário de Obras (Norberto Soletti) disse que a passarela é cara e muitas vezes não se usa, então fizeram a proposta de uma rótula. O prefeito também colocou que com esse dinheiro dava para fazer ainda uma outra rótula em outro ponto da cidade. Acredito que a travessia por semáforos funciona também, acho que até mais do que a passarela, porque ninguém usa — opina.
A morte de Valentina ocorre cerca de um mês após Marcia Patricia Pedroso Cavanholi, 49, ser atropelada por uma BMW enquanto atravessava a BR-116, em 4 de novembro. O acidente ocorreu no km 151, no bairro Bela Vista, cerca de um quilômetro distante do acidente desta quinta-feira, em ponto onde também não há segurança na travessia.
Na época da morte de Marcia, o secretário de Trânsito de Caxias, Alfonso Willembring, disse que o município trabalha em um plano de implantação de controladores de velocidade em vários pontos de Caxias, incluindo as rodovias. Por enquanto, o projeto ainda está em fase de formatação e ainda é necessário uma parceria com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e Polícia Rodoviária Federal (PRF). A expectativa é de que a instalação ocorra em 2022.
Já o chefe da delegacia da PRF em Caxias do Sul, Jonatas Josué Nery, disse que a rodovia precisa de melhorias estruturais e que a corporação pleiteia controladores de velocidade. A PRF também atualizou pontos de fiscalização por radar móvel, baseada em pontos com maior incidência de infrações.