No segundo dia de operação, o ônibus sem catraca da Linha Panazzolo/Vila Verde, em Caxias do Sul, ainda pega de surpresa alguns passageiros, acostumados com o obstáculo no ponto de cobrança. O estranhamento inicial, porém, logo dá lugar a uma reação positiva diante da rapidez no embarque, especialmente se a tarifa foi paga com o cartão Caxias Urbano.
Facilitar a entrada e a circulação dentro do coletivo é um dos principais motivos que levou a Secretaria de Trânsito de Caxias e a concessionária Visate a adotar a medida, que começou nesta terça-feira (23). Como se trata de um teste com duração de 30 dias, a catraca foi removida apenas do ônibus de prefixo 241, que inclusive está identificado com a novidade. A linha Panazzolo/Vila Verde foi escolhida porque 88% dos passageiros pagam a tarifa por meio do cartão. Como o veículo não tem cobrador, o pagamento eletrônico exige menos intervenções do motorista.
De acordo com a Visate, a reação dos passageiros foi positiva no primeiro dia de operação. Até o momento também não foram registradas tentativas de burlar a cobrança da tarifa. Esse comportamento também foi constatado pela reportagem, que percorreu todo o itinerário com o coletivo entre as 9h10min e as 10h05min desta quarta-feira (24).
A cuidadora Jussara Gomes, 58 anos, é passageira assídua da linha Santa Corona, mas nesta quarta utilizou a linha do Panazzolo/Vila Verde. A ausência da catraca logo chamou a atenção ao embarcar.
— Eu pensei "está diferente". É melhor porque não tem cobrador e facilita. Assim é mais rápido, mas para o motorista é ruim, porque ele também precisa cobrar — afirma Jussara, que utiliza o cartão para pagar a tarifa.
Dos quatro passageiros ouvidos pela reportagem, apenas a atendente de farmácia Tainara Bressan, 25, acredita não fazer diferença a ausência de catraca. Ela pondera, contudo, que utiliza o ônibus em horário de menor demanda.
— Não sei como vai ser no movimento — projeta.
Embora apontem a facilidade no embarque e no pagamento da tarifa, os demais passageiros ouvidos também demonstram preocupação com o futuro dos operadores de sistema e da necessidade dos motoristas cobrarem a tarifa em dinheiro.
— Para o passageiro é fácil, realmente, mas para o motorista acho que nem tanto. Tem que cuidar do trânsito e ver quem entra, se pagou com o cartão ou cobrar em dinheiro. É acúmulo de função — observa.
Já a costureira Odete Borges aponta a falta de necessidade do operador de sistema com a ausência da catraca.
— É menos serviço para eles. Para a gente, como passageiro, é melhor, mas para eles é pior — aponta.
Após os 30 dias de teste, a Visate e a Secretaria de Trânsito irão avaliar os resultados da experiência. Se for satisfatória, a medida será mantida. Caso contrário, a linha Panazzolo/Vila Verde voltará a ter somente ônibus com catraca.
Linha conta com monitor
Apesar de não contar com o operador de sistema, os motoristas não trabalham sozinhos no ônibus 241. Na manhã desta quarta, a condutora estava acompanhada de uma monitora, responsável por orientar os passageiros com relação à novidade. Outro motivo para manter um segundo funcionário dentro do coletivo é o auxílio a deficientes visuais atendidos pela Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (Apadev). A linha passa em frente à sede da instituição, na Rua Luiz Antunes, no Panazzolo.
Outras linhas do transporte coletivo de Caxias do Sul também rodam ser operador de sistema, embora contem com catraca. A medida é adotada principalmente em horários de menor movimento. O atual contrato de concessão do serviço, assinado em maio, também admite a extinção gradativa da função de operador, uma vez que os meios eletrônicos de pagamento são cada vez mais comuns. Nesses casos, os funcionários podem ser absorvidos em outras funções dentro da empresa. A permanência ou não dos operadores também é levada em conta nas discussões do valor da tarifa, já que o valor final é impactado pelos custos de operação.
A Visate afirmou que a Secretaria de Trânsito é a responsável por esclarecer os questionamentos dos passageiros. A reportagem entrou em contato com a pasta, mas ainda não obteve retorno até a publicação da reportagem.