Mesmo pressionado a recuar, o prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico (PSDB), voltou a afirmar que o terreno localizado em São Virgílio da 2ª Légua, na região de Forqueta, é a área mais bem avaliada pelos técnicos da prefeitura para receber a instalação do Parque Municipal da Proteção Animal. A manifestação ocorreu em um encontro com moradores de São Virgílio e São Valentim da 2º Légua e de Loreto, no final da tarde de sábado (6). O Executivo precisa definir o local da nova estrutura voltada ao bem-estar animal até o final deste ano, conforme acordo firmado com o Ministério Público.
A reunião, que foi agendada pela prefeitura com o objetivo de apresentar o projeto à comunidade e também para buscar diminuir a resistência ao novo parque, acabou se tornando em mais um capítulo da polêmica sobre o tema.
Adiló, a vice-prefeita Paula Ioris (PSDB) e secretários municipais foram recebidos com vaias e fortes discursos dos moradores que voltaram a manifestar contrariedade ao investimento na localidade. As paredes do salão paroquial onde foi realizado o encontro receberam cartazes que diziam “Canil goela abaixo aqui não, Adiló” e “Se o projeto é tão bom por que não no seu bairro?”, entre outros. Até mesmo um áudio com latidos de cachorros foi executado em uma caixa de som dentro do salão e também no alto-falante de um carro no estacionamento.
Depois da apresentação (leia mais abaixo) realizada pelos técnicos da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), a comunidade exibiu um vídeo mostrando o potencial turístico e a importância da agricultura na localidade, mas que, segundo o roteiro, estariam ameaçados se o parque fosse construído na região. Os moradores temem poluição, desmatamento e perda de produção se o espaço for construído ali - situações descartadas pelos servidores na reunião. Também foram mostrados no vídeo depoimentos de lideranças sindicais e comunitárias, incluindo do presidente da União das Associações de Bairros (UAB), Valdir Walter, que estava na reunião.
Alguns moradores se revezaram ao microfone e justificaram que não são contra o investimento público no bem-estar animal, mas sim pela possibilidade de o projeto ser construído na localidade.
— Estão nos colocando como vilão da história, mas sempre foi dito que seria na base do diálogo, o que não está tendo. Se a comunidade disse que não quer, não deveria ser enfiado goela abaixo — disse Jacira Onsi, 62 anos, moradora da localidade desde que nasceu.
O discurso mais contundente foi de Ari Dallegrave, uma das lideranças do movimento contrário ao parque na região. Ele, que foi secretário do Meio Ambiente na gestão de José Ivo Sartori, disse que o prefeito deveria tomar a decisão baseado no que a comunidade da região está manifestando.
— O prefeito Adiló não conhece a 2ª Légua. É a maior produtora de uva em Caxias e daqui uns anos será a única. Um canil não tem nenhuma ligação com essa comunidade. Quantos quilômetros quadrados têm Caxias? Será que não tem outro lugar para colocar um canil que não venha atrapalhar os moradores?— afirmou.
Em sua fala, Adiló lamentou que o encontro tenha se tornado um ambiente hostil, de cenário político e pouco produtivo para o debate em torno da proposta.
— Fomos recebidos hoje de uma forma que, se fosse um prefeito rancoroso, teria ido embora. Eu vim aqui para dialogar. Não está batido o martelo do local, mas também não vim garantir para os senhores que não será aqui. Podem vaiar que eu não vou faltar com a sinceridade e a verdade com vocês — disse o prefeito à comunidade.
Adiló disse que a prefeitura ainda não comprou o terreno na 2ª Légua e que não sabe o valor da área. Também pediu ajuda dos moradores para que apontem alternativas e sugiram outros terrenos da cidade que possam ser avaliados como opção para receber o parque.
— Não é o Adiló que quer colocar (o parque). Por mim, eles (animais) poderiam ficar onde estão. Mas a secretaria do Meio Ambiente está com essa batata quente nas mãos há anos — discursou o prefeito.
Esse é o segundo impasse quanto ao projeto. No ano passado, o Executivo desistiu da implantação do Centro de Bem-Estar Animal. Após enfrentar resistências e também por conta do período eleitoral, a administração de Flavio Cassina decidiu não dar continuidade ao projeto que previa novos canis, gatis, baias para cavalos e centro clínico e cirúrgico em um terreno em Capela de São Francisco, na 6ª Légua.
Apresentação em segundo plano
Principal objetivo do encontro, a apresentação do projeto técnico foi feita pelo diretor-geral da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Henrique Koch, e pelo médico veterinário Paulo Bastiani. Diante das discussões, acabou ficando em segundo plano.
O parque será dividido em três locais: uma área verde de preservação; um parque para visitação e lazer da comunidade, com monumento à lembrança dos animais, local para despedida do animal, sede administrativa (com centro de tratamento de resgatados, consultório para atendimento dos animais do canil), casa das ONGs; e o centro de proteção, com alojamentos adequados em diferentes modalidades para cães e gatos.
Além disso, a área de alojamento dos animais fica totalmente isolada pela mata e com distância suficiente para que não seja visualizada da estrada. Dessa forma, os moradores do entorno não vão perceber os animais no dia a dia, da mesma forma que os animais não verão qualquer movimentação nas proximidades. O alojamento também terá um sistema de coleta de dejetos e limpeza do alojamento com perturbação mínima dos animais, e proteção para não haver contaminação do solo.
Os técnicos também mencionaram os outros locais da cidade estudados pela prefeitura para receber o projeto e as justificativas que inviabilizavam o investimento. Um deles seria na localidade de Loreto, mas com terreno declivoso e necessidade de movimentação de terra. Outro terreno estudado foi em Vila Cristina, mas considerado muito distante da área urbana.
Outros dois locais em Galópolis foram analisados, sendo que um não suportaria a estrutura completa do parque e o outro é considerado área urbana e mais cara. Por fim, também foram descartados outro terreno em São Virgílio da 6ª Légua e um em Vila Seca.