Do final de setembro até a última segunda-feira (11), 851 casos de doença diarreica aguda (DDA) foram notificados em Caxias do Sul, segundo dados da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (5ª CRS). Destes, 74 são relacionados aos três surtos identificados em duas instituições de ensino e em uma empresa da cidade. O levantamento foi repassado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Contudo, ainda não há confirmação de que os casos tenham sido provocados pelo norovírus — vírus com alta capacidade infecciosa e de resistência que provoca sintomas como diarreia, vômitos e febre alta — tanto por parte do estado, quanto do município.
As amostras biológicas, de alimentos e de água de redes de distribuição e de reservatórios dos pontos onde foram identificados surtos em Caxias do Sul foram coletados pela equipe da Vigilância em Saúde. Esses materiais foram encaminhadas para análise do Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (Lacen), para investigação da possível causa do surto. Todos os casos foram informados à Secretaria Estadual da Saúde (SES) e estão em monitoramento. O município aguarda o resultado das amostras.
Outro ponto que chama a atenção é que tem aumentado a procura por atendimento nos plantões dos planos de saúde da cidade. No Hospital da Unimed, por exemplo, no pronto atendimento, de 8 a 11 de outubro, foram atendidos 79 adultos e 93 crianças com sintomas da doença. Segundo o hospital, o monitoramento foi implantado no dia 8 de outubro. Desde então, os números são repassados diariamente para a Vigilância Epidemiológica, conforme a assessoria de imprensa do hospital. O número se refere a busca de atendimento por diarreia e vômito. O dado é repassado bruto para a o setor para poder auxiliar o município no fechamento de casos de surto. Os dados serão usados se tiverem correlação com os surtos, para que sejam analisadas as amostras. Isso porque podem ter sido provocados por diversos fatores.
No Virvi Ramos foram identificados casos, mas nenhum precisou de internação. A instituição contabilizou cerca de 50 atendimentos, principalmente, nos primeiros dias deste mês. No hospital do Círculo, aumentou significativamente a demanda de consultas no último mês, inclusive, a busca por reconsulta.
— Evidenciamos na unidade de urgência e emergência um aumento do número de atendimentos e de retorno dos clientes. O diagnóstico para gastrointerite representou aumento de 5% com relação ao último mês. Em setembro tivemos 872 atendimentos para doenças infecciosas e parasitárias e em outubro já tivemos 562 atendimentos para este CID (Classificação Internacional de Doenças) — informou a gerente assistencial do Círculo, Lidiane Basso Bortolini.
O Hospital Geral, por sua vez, informa que a instituição não foi procurada por pacientes com sintomas até o momento.
A coordenadora regional de saúde, Cláudia Daniel, explica que os 851 casos estão registrados na plataforma do Sistema Informatizado de Vigilância Epidemiológica de Doenças Diarreicas Agudas (Sivep-DDA). Esse sistema começou a ser utilizado ainda em 2002, para facilitar a tabulação dos dados da Monitorização das Doenças Diarreicas Agudas (MDDA):
— Tivemos uma elevação nas últimas três semanas de notificação de diarreia. São casos confirmados de doença diarreica, mas ainda não há confirmação para nenhum deles de norovírus como o agente causador — frisa ela.
Ela ressalta que a 5ª CRS tem monitorado os casos e há cidades que têm registrado aumento de notificações como Vacaria, Gramado e Carlos Barbosa.
— A curva de contaminação nesses casos tem sido crescente. Nós monitoramos os dados desde o começo do ano, e quando percebemos que começa uma elevação de casos dispara um alerta. Pode ter um surto provocado por alimentação, água ou casos isolados, o que pode demonstrar que há contaminação comunitária e temos que identificar o que está provocando a doença em cada território. Há vários fatores que podem levar ao contágio.
Ainda segundo a coordenadora são 1.424 casos em Bento Gonçalves, 329 em Flores da Cunha, 204 em Gramado, 166 em Vacaria, 110 em Garibaldi, 98 em Farroupilha e 90 em Nova Petrópolis.
A reportagem também contatou quatro farmácias de redes diferentes para verificar se há aumento na contra pelos medicamentos usados nestes casos como pedialite e floratil. Contudo, os atendentes afirmam que a venda está dentro da média diária.
SMS afirma que situação está controlada
A infectologista do Controle de Infecção Municipal de Caxias do Sul, Anelise Kirsch, explica que a maior preocupação são com os surtos locais, porque se pensa em contaminação de água e alimentos e o contágio de um a um. Já os casos esporádicos não são considerados tão graves. Há uma recomendação para que todos os casos sejam registrados, mas os surtos são investigados:
— A situação está controlada em Caxias do Sul, tem surtos pontuais e não está tão disseminado assim o contágio. Claro que esses aglomerados de casos que a gente fez as coletas nos três locais, temos que analisar para ver se é um vírus específico ou uma intoxicação alimentar de outra origem, mas, em geral, não estamos em um surto de doença diarreica aqui em Caxias — ressalta ela.
A infectologista destaca ainda que o número considera não apenas diarreia aguda, e é considerado normal para a época do ano:
— Estamos dentro da curva que anualmente a gente tem de casos. Essas doenças diarreicas são esperadas nessa época do ano, especialmente, em maio e em outubro, que é entrada de outono e primavera, quando se predispõe esse tipo de patologia. Observa-se que ocorrem nesses meses, mas ao certo não se sabe o porquê. A alternância da temperatura é uma das possibilidades, e também a proliferação natural dessas bactérias, mas ao certo o porquê ocorre é um mistério.
Ela frisa que os casos relacionados aos três surtos são os 74, mas reitera que não há confirmação de que seja o norovírus o causador do contágio. Anelise, esclarece, inclusive, que o vírus não é mais grave, mas sim mais difícil de combater, enquanto saúde pública.
— Ele é resistente ao cloro da água, ele só morre com água fervida. Nos lugares onde tem surto essa é principal recomendação. Contudo, no geral, não é uma contaminação da água, que tem controles, e sim nos dutos do próprio local onde aconteceu o surto.
Os principais sintomas da doença diarreica são indisposição, dor de barriga, mais perto do umbigo, diarreia aquosa, geralmente mais de cinco episódios por dia, náusea, inapetência e vômito. Em casos raros, ela ressalta que, especialmente, crianças e idosos podem ter febre.
— Ainda não tivemos registro agora, mas na forma mais grave pode provocar dor abdominal intensa e sangue nas fezes. Nessa situação, tem que procurar os serviços de atendimento, seja os postos de saúde ou as UPAs, porque é necessário tomar medicações específicas.
Nos casos de sintomas leves, a especialista orienta a manter os cuidados em casa, em isolamento:
— A transmissão da doença é fecal/oral e por meio de alimento ou água contaminada ou contato com pessoa com a doença. Então faça o isolamento: não vá trabalhar ou não vá para a escola . É importante fazer soro, esse que tem nas farmácias, tomar chás, sucos, e tomar água abundantemente. Deixe um copo por perto e vá tomando. O consumo diário de água que é de dois litros e meio por dia, no caso dos adultos, deve ter acréscimo de mais 250 ml a cada evacuação líquida. Tem que tomar muita água mesmo.
Anelise recomenda ainda a evitar suco de limão, de laranja, café, refrigerante e chá preto, nesses casos.
Prevenção
A SMS aumentou a vigilância em relação à doença. O alerta foca principalmente no reforço das medidas de prevenção.
— Tem que manter os cuidados de higiene, e reforçar especialmente a higiene das mãos e dos alimentos. Não podem relaxar nessas medidas porque para evitar a doença temos que prevenir. Ainda estamos aguardando a identificação do agente causador para então recomendar demais medidas caso seja confirmado o norovírus — ressalta a diretora da Vigilância em Saúde de Caxias, Juliana Argenta.
Ela destaca ainda que estão integrados com a área da educação para monitorar a rede escolar para identificação e notificação de possíveis novos casos.
— As crianças são suscetíveis e podem se debilitar mais, por isso, é essencial os cuidados, e a notificação para sabermos quais os procedimentos adotar caso aumentem os surtos.