Pacientes esperam até 10 dias em unidades de pronto-atendimento ou nos pronto-socorros de hospitais da Serra por leitos de internação ou de unidade de terapia intensa (UTI) em Caxias do Sul. Além dos procedimentos eletivos que foram retomados, os atendimentos de urgência e emergência sobrecarregam as instituições da cidade. A falta de leitos é um problema histórico, visto que as vagas do Sistema Único de Saúde (SUS) não são suficientes para acolher a demanda por atendimento dos 49 municípios para os quais Caxias do Sul é referência.
Até o final da manhã desta quinta-feira (21), 41 pacientes de Caxias e região estavam à espera de leitos de internação, sendo 22 de Caxias e 19 de demais municípios serranos. Outros 20 aguardavam leito de UTI clínico. Destes, 16 são de Caxias e quatro de cidades da região. Todos são para atendimentos das mais diversas patologias. Se forem incluídos os pacientes de covid-19, a lista de espera é ainda maior. Há seis pessoas esperando por leito de enfermaria covid-19 e uma pessoa esperando por leito de UTI covid.
Os pacientes têm ficado em macas em UPAs e hospitais, com atendimento improvisado. Uma dessas pacientes é Lurdemar de Oliveira, 74 anos. A reportagem conversou na quarta-feira (20) com a filha dela, Eliane Borges da Rosa, 41. A idosa estava na UPA Zona Norte desde o último sábado (16) à espera de um leito porque precisa de transfusão de sangue. Nesta quinta ela foi transferida para o Hospital Pompéia.
A secretária de Saúde de Caxias, Daniele Meneguzzi, afirmou à reportagem na quarta-feira que há pacientes com diversas complicações clínicas, que em função da pandemia deixaram de ser priorizadas:
— Eram doenças que foram negligenciadas e levaram a quadros mais graves porque esses pacientes não tiveram atendimentos. Até os acidentes de trânsito ou de trabalho, com a circulação das pessoas, acabam aumentando. O problema de falta de leitos é histórico na nossa cidade, e acabou pausado na pandemia. Mas, com a volta das cirurgias e das atividades, aumenta a demanda.
Além disso, há demanda represada em diversas áreas para procedimentos eletivos em Caxias do Sul. O número chega a 5,7 mil, conforme dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
Situação crítica no HG
No Hospital Geral há pacientes no pronto-socorro, nas UTIs e em unidades improvisada à espera de leitos. O diretor-técnico Alexandre Avino ressalta que a maior demanda é para atendimentos de urgência, que precisam ser priorizados. Ele aponta que o sistema está sob pressão e tem se mantido assim há dias:
— Estamos enfrentando um momento crítico há meses e com as enfermarias para internação de pacientes sempre lotadas. E não só isso. O pronto-socorro, a sala de recuperação cirúrgica, a sala de recuperação da hemodinâmica e as UTIs acomodam pacientes que estão aguardando leitos. Esses pacientes estão em unidades que são inadequadas para internação, aguardando leitos onde precisam ser tratados.
Ele aponta que o problema ocorre devido ao subdimensionamento da capacidade de atendimento.
— Sabemos que as UPAs estão lotadas e com muita dificuldade de acolher novos pacientes. Há pacientes esperando até 10 dias por um leito e a Central está sempre de prontidão para resolver da melhor maneira e remanejar essas vagas. Infelizmente, é um problema de muitos anos na nossa região e que esperamos que seja diminuído com a conclusão das obras do nosso hospital. Hoje, não podemos aumentar o número de leitos. Só vamos poder aumentar essa capacidade de internação em 60% com a conclusão da obra de ampliação — afirma.
Avino lembra que o hospital precisou ser adaptado para atender os pacientes infectados com covid-19. Diversos setores de internação foram comprometidos, sendo que entre esses está o bloco cirúrgico e a sala de recuperação. O bloco conta com quatro salas, porque duas foram transformadas em recuperação e a recuperação foi transformada em UTI, com 10 leitos.
— Com a redução do impacto da pandemia estamos, em conjunto com a Secretaria de Saúde, fazendo o maior esforço possível para reduzir os leitos de covid-19 no hospital para poder proporcionar o giro necessário e acolher esses pacientes — aponta Avino.
Sobre as eletivas, o diretor-técnico ressalta que elas foram retomadas, priorizando pacientes com casos mais graves:
— Estamos chamando os pacientes por uma combinação de tempo de espera e de severidade de condição clínica. As equipes das especialidades cirúrgicas têm essa tabela com a possibilidade de chamada de pacientes. Mantemos uma média acima de 400 procedimentos por mês, sendo a maioria eletivos. Mas, nesses casos, temos conseguido fazer o giro mais rápido dos pacientes para acolher os que precisam de leitos — explica.
O Hospital Pompéia está com 60 % de ocupação.
— As UTIs, como é de praxe, estão lotadas, mas por outras patologias que não a covid-19 — afirma o diretor-técnico Thiago Passarin.
Demais hospitais de Caxias
Já no Virvi Ramos, as eletivas também foram retomadas e, apesar da procura por leitos clínicos, não há esgotamento de ocupação. No Hospital do Círculo, o agendamento cirúrgico eletivo está normalizado. No momento, a instituição não enfrenta dificuldades na gestão de leitos. No Hospital da Unimed, os procedimentos eletivos também voltaram à normalidade. A instituição está com 13 salas cirúrgicas em pleno funcionamento, mais três de endoscopia e três no complexo materno infantil. Pontualmente podem ter falta de leitos, mas a situação é rapidamente resolvida. Em 60 dias, o hospital inaugura mais 38 leitos no sexto andar.
Cenário em Farroupilha e Bento Gonçalves
No Hospital São Carlos, em Farroupilha, as cirurgias eletivas também retornaram, mas não há espera por leitos clínicos em enfermaria.
— No geral, o hospital está com 66% de taxa de ocupação e os casos de covid têm se mantido em baixa. Não estamos lotados. As UTIs estão cheias, mas não apenas com casos covid, mas devido às outras comorbidades. Percebemos que esses atendimentos são de casos represados, de pós-cirúrgico de pessoas que passaram por procedimentos de alta complexidade. E também atendemos vítimas de acidentes que, às vezes, precisam de leitos de UTI — ressalta a diretora do Hospital, Janete Toigo.
O Hospital Tacchini, em Bento Gonçalves, por sua vez, tem 81,75% de ocupação. Não há pacientes a espera de leitos no pronto-socorro do hospital. Já na UPA, há cinco pacientes que serão transferidos para Caxias do Sul porque a cidade é referência na especialidade necessária para eles.