A pandemia ainda é motivo de atenção e preocupação para a saúde em todo o Brasil, mas a redução de internações por covid-19, que voltou a atingir o patamar de fevereiro nesta semana, permite a retomada gradativa ou até mesmo completa de cirurgias eletivas em hospitais da Serra. Apesar do cenário otimista, o Hospital Geral (HG), de Caxias do Sul, que é referência regional em alta complexidade para 49 municípios, ainda enfrenta realidade crítica em relação à disponibilidade de leitos.
A suspensão de cirurgias eletivas tem sido uma medida adotada desde o início da pandemia como forma de garantir disponibilidade de leitos, especialmente em UTIs, para pacientes de covid-19, oscilando conforme a taxa de ocupação registrada. A última orientação para suspensão emitida pelo Centro de Operação de Emergência Covid-19 (COE) da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul (SES-RS) esteve vigente de 2 a 31 de junho.
Diante das oscilações referentes às eletivas, há uma demanda represada que se forma em diversas áreas. Somente em Caxias do Sul, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), este número chega a 5,7 mil, conforme dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), que orientou os hospitais da cidade a irem retomando os procedimentos ao longo de julho, conforme a capacidade.
Hospitais de Caxias do Sul
Ainda no mês de abril, o Hospital Virvi Ramos iniciou uma retomada com procedimentos ambulatoriais que não necessitassem de medicamentos do kit entubação. Segundo a diretora executiva do hospital, Cleciane Doncatto Simsen, os atendimentos foram ampliados gradativamente, atingindo normalidade de fluxo nos últimos 10 dias. O Hospital do Círculo também está com a liberação plena do agendamento cirúrgico.
— Tivemos uma redução significativa dos atendimentos na unidade de urgência e emergência e das internações hospitalares por covid-19. Isso nos possibilitou liberar agora em julho todo o funcionamento do bloco cirúrgico. A nossa expectativa é de que, desta vez, esta retomada se mantenha, visto a permanência dos cuidados preventivos e da vacinação. Durante todo esse período de pandemia, o atendimento cirúrgico ficou muito prejudicado, o que nos fez priorizar os casos de urgência, emergência e brevidade — afirma a gerente assistencial do Hospital do Círculo, Lidiane Basso Bortolini.
No Hospital Pompéia, as cirurgias eletivas foram retomadas em maio, com aumento gradativo de volume a cada mês. De acordo com o diretor técnico do hospital, Thiago Passarin, foram priorizadas cirurgias oncológicas, o que garantiu no mês de junho a cobertura completa das demandas que estavam represadas.
A desativação de 20 leitos de UTI que haviam sido montados de forma temporária para atendimento de pacientes com covid-19 permitiu a reabertura de cirurgias eletivas no Complexo Hospitalar Unimed de Caxias do Sul. O médico Márcio Valin, diretor técnico da instituição, afirma que o complexo estava operando com apenas um centro cirúrgico desde o início da pandemia e agora volta a operar com dois. Segundo ele, o centro de endoscopia do hospital continua fechado por conta da ala covid-19 e os procedimentos ocorrem junto ao centro cirúrgico.
No HG situação ainda é crítica
Embora o avanço da vacinação traga perspectivas de melhora para os próximos meses, a realidade ainda é de espera por leitos no Hospital Geral. De acordo com o diretor-técnico, Alexandre Avino, dos 89 leitos que eram compartilhados entre especialidades clínicas e cirúrgicas, 45 estão destinados à ala covid-19, o que reduz a capacidade de internação do hospital e acaba gerando espera de pacientes clínicos e cirúrgicos por leitos.
— Hoje temos UTIs que estão improvisadas em enfermarias e não temos como manejar estes pacientes para os leitos covid-19 que seguirão destinados a esta finalidade, pelo menos, até outubro. Ainda somos o esteio de pacientes com a doença em toda região, mas nossa expectativa é de que a vacinação reduza pacientes mais graves e possamos devolver estes leitos às enfermarias — relata o diretor.
Segundo ele, uma das medidas adotadas para reduzir a ocupação tem sido a intensificação no monitoramento para que os pacientes de outras cidades atendidos no hospital sejam encaminhados de volta aos hospitais de seus municípios tão logo se encontrem estáveis, após receberem o atendimento de alta complexidade no HG.
O total de procedimentos realizados no hospital hoje chega a 600 por mês, sendo metade disso cirurgias e 97 delas eletivas. Antes da pandemia, a média mensal de cirurgias eletivas era de 200.
— A gente mantém uma média ainda razoável diante do cenário, isso por conta de fatores como a reorganização de horários e aumento das equipes de atendimento, mas estamos com 1.611 laudos de procedimentos que ainda aguardam realização — informa Avino.
Pela região
Em Bento Gonçalves, uma queda no número de atendimentos em pronto-socorro e também de internações em UTI identificada sobretudo nas últimas três semanas fez com que o Hospital Tacchini também retomasse a realização de cirurgias eletivas. Atualmente, o hospital trabalha com 80% da capacidade normal de atendimento em seu Centro Cirúrgico e, segundo assessoria, caso o cenário da pandemia permaneça nos mesmos patamares, há possibilidade de retomada plena nos próximos dias, com a abertura de agendamentos, até mesmo, de procedimentos estéticos.
O Hospital Nossa Senhora da Oliveira, de Vacaria, também está em retomada gradativa, estipulando, inicialmente, o teto de 45 procedimentos ao mês. Segundo o consultor estratégico do hospital, Francisco Ferrer, antes da pandemia trabalhava-se com a média de 95 cirurgias ao mês, sendo que nos períodos mais críticos, o número chegou a baixar para 15 procedimentos mensais.
— Houve uma redução importante de internações, estamos hoje com quatro pacientes internados com covid-19. Estamos estudando como será a resposta do hospital a partir dessa retomada e poderemos voltar com as 95 cirurgias ainda em agosto, ampliando ainda mais posteriormente para dar conta da demanda que ficou represada — afirma Ferrer.