Moradores e servidores da prefeitura de São José dos Ausentes trabalhavam na manhã desta terça-feira (21) para trocar e recuperar telhados. Basta circular pela área central para perceber os estragos provocados pelo temporal do último domingo (19). Eles ainda se recuperavam do susto quando uma nova chuva de granizo foi registrada pouco mais de 24 horas depois.
O prefeito Ernesto Valim Boeira (PT) decretou estado de emergência na segunda-feira (20). A prefeitura também abriu as portas de um ginásio para abrigar moradores. Contudo, o espaço não foi procurado até o momento, mas segue a disposição caso seja necessário. Mais de 400 moradias foram atingidas apenas na área central. O levantamento referente a perdas no interior ainda está em andamento. Isso porque além dos prejuízos nas plantações há estragos em moradias.
Na Avenida Ismênia Batista Ribeiro Velho, no Centro, moradores e amigos se ajudavam para recuperar o que for possível. O tempo instável, com forte vento, também causa apreensão entre os moradores. O sol chegou a aparecer, mas por poucos instantes, por volta do meio dia. Nas conversas na rua todos dizem: "espero que não chova".
O medo e a tristeza ainda estão presentes entre os habitantes. No semblante de Luana de Fátima Costa Marca, 37 anos, ele é ainda mais nítido. Ela estava em casa com as filhas, Analu, 8, e Maia, 3, quando as pedras começaram a cair no domingo:
— Foi horrível. Deu um forte estrondo e veio as pedras antes. Depois a chuva forte e mais pedras. Sentamos na cama, abraçadas e pedimos proteção a Deus. Foi ele que segurou minha casa. Eu cresci aqui e nunca vi algo assim na cidade.
A casa simples de madeira ficou de pé, mas não passou ilesa. As pedras quebraram o telhado e furaram o forro. Com a chuva da segunda um novo susto.
— Choveu dentro. Eu não consegui dormir para ficar cuidando delas. Perdemos muitas coisas, roupas, colchão... E sou cabeleireira, estou sem trabalhar porque atendo em casa — lamenta Luana.
Quem quiser ajudar a família pode entrar em contato pelo telefone (54) 99659-3372.
Eduardo Stecanela, 35, mora em Caxias do Sul. No domingo ele recebeu uma ligação da mãe dele, Edenaide da Silva Stecanela 58.
— Minha mãe ligou chorando. Ela e minha avó estavam em casa quando caíram as pedras e estavam muito assustadas. Vim ajudar a trocar as telhas — conta ele.
Prejuízos também no comércio
O telhado da loja de Ivone de Almeida da Silva, 33, foi um dos mais danificados. Ela mora atrás de onde se localiza o comércio. Três amigos do esposo dela, Fabio da Silva, 40, trocavam as telhas na manhã desta terça.
— Meu marido precisou ir até Caxias do Sul a trabalho mas os amigos dele foram liberados pelo chefe deles para vir trocar as telhas. Vamos gastar cerca de R$ 5 mil — conta ela.
Apesar do prejuízo, Ivone agradece pelas perdas não serem maiores:
— Ninguém se feriu e como estávamos em casa deu tempo de recolher os produtos. Estávamos todos aqui e, se não fosse isso, teríamos perdido tudo. Salvamos muitas mercadorias.
Ela lembra que a chuva durou cerca de 20 minutos:
— As pedras vieram primeiro e, depois, a chuva e, aí, vieram com mais força. Passei por uma situação assim no Paraná onde nasci. Foi a repetição de um filme de terror, mas mantive a calma porque já tinha vivido isso.
No restaurante de Joel Vargas Auzani, 43, as pedras deixaram inúmeros buracos no telhado. Para trocar terá que desembolsar R$ 16 mil.
— Moro aqui há 18 anos. No ano passado, até teve vento forte e alguns estragos, mas do jeito que foi nunca tinha acontecido. No começo, achamos que não seria um estrago tão grande, mas era muita pedra. Agora é trocar e torcer para que não chova — disse Auzani.
Mais de 370 pessoas cadastradas para receber telhas
De acordo com a prefeitura, 379 pessoas já se inscreveram para receber telhas. Equipes do município trabalhavam na troca das coberturas que foram danificadas pelas pedras de gelo. Cerca de 50 servidores de diversas secretarias estão divididos pela cidade para ajudar os moradores.