Em Santa Lúcia do Piaí, no interior de Caxias do Sul, a Escola Municipal de Ensino Fundamental que leva o nome do distrito improvisou espaços para retomar as atividades depois que parte da estrutura foi interditada por causa do temporal que atingiu a região no feriado de 20 de setembro. As aulas presenciais voltaram na segunda-feira (27) para a maioria dos 400 alunos. Contudo, duas turmas da Educação Infantil, com total de 36 crianças de quatro anos, estão com aulas remotas por falta de espaço físico.
Na escola, todas as peças foram aproveitadas, inclusive, o refeitório, onde as turmas de 3° e 7° anos foram acomodadas, à tarde e pela manhã, respectivamente. Enquanto isso, a equipe está entregando os lanches aos estudantes embaixo de uma marquise, ou, em uma parte coberta, perto da quadra aberta de esportes. Na manhã desta terça (28), a educação física estava sendo ao ar livre. Mas, à tarde, a chuva voltou à região e, diante isso, a prática de esportes deve ocorrer em alguma sala improvisada. Salas de professores e da vice-direção também foram adequadas com quadros e classes para receber os alunos.
O remanejo foi necessário porque, com o temporal, parte do telhado do prédio atingiu uma viga e a parede do ginásio, desestabilizando a estrutura. Como uma das paredes é divisa com salas de aula, apresentou rachaduras e corre o risco de cair, essas salas também foram interditadas. A secretária da Educação, Sandra Negrini, disse, em entrevista à RBS TV que a obra da escola será feita de forma emergencial, sem necessidade de licitação, o que é previsto no decreto municipal publicado nesta terça. O valor orçado é de cerca de R$ 100 mil.
— Se avaliou, junto com a secretaria, que os estudantes que ficarão alternadamente sendo atendidos, semana sim e semana não, são as crianças da Educação Infantil. Os demais, nós conseguiremos atender na presencialidade pela reorganização dos espaços, como por exemplo, o uso do refeitório escolar como sala de aula — disse a secretária.
A Secretaria também oferece atendimento psicossocial às famílias atingidas. A Catia Zanardi é mãe do David, que voltou a ter aulas no formato online.
— Estou parando para estudar com ele. Ensinando como é a atividade que a profe está enviando pelo WhatsApp. A gente para, explica. Ele muitas vezes, não quer fazer porque ele não se sente que nem na escola. A mãe ensinando para ele é mais complicado. Vai modificar toda a rotina que ele já estava acostumado — descreveu.
Além da escola, uma das casas mais atingidas no distrito foi a que morava de aluguel Sirlaine Zummach, 35 anos. A estrutura teve o telhado arrancado e uma parede veio abaixo. Ela, marido, filha e sogro estavam na residência. Ninguém se feriu, mas a família perdeu quase tudo o que tinha. Eles conseguiram alugar outro imóvel já mobiliado e voltaram à rotina de trabalho. A filha do casal, Pâmela Barbosa, 9 anos, recebeu kit da escola e materiais de um amigo e também voltou a estudar nesta segunda.
— Consegui salvar poucas coisas. Ganhei colchão, consegui salvar as roupas. Só lavei e dá para usar. Muita gente já ofereceu coisas para doar — disse a moradora.
No campo, é tempo de tentar salvar as plantas atingidas
Em Vila Oliva, no começo da tarde desta terça, o produtor Nelson Antônio Stefanoski, 63 anos, ainda não sabia muito bem como faria para recuperar as estufas danificadas pelo temporal. Ele estima um gasto de R$ 40 mil para reconstruir as 11 estruturas de 50 metros que abrigarão os tomateiros. São esses frutos que devem ajudar a família a se reerguer diante da perda da safra inteira de ameixa, que no ano passado, foi de 50 toneladas e rendeu cerca de R$ 150 mil. Além de derrubar as frutinhas ainda pequenas, os 2,3 mil pés foram atingidos pelo granizo. Agora, os caules machucados precisam ser tratados para que a produção do ano que vem se salve.
— Tem que tratar para ela sarar e esperar para o outro ano, se não morrerem (os pés). Não é fácil. A gente desanima. Tanto trabalhar, trabalhar e, em dois minutos, destruiu tudo — lamenta o agricultor referindo que o tratamento das plantas já começou.
O secretário da Agricultura de Caxias, Rudimar Manegotto, refere que há muitos casos em que as plantas soltaram a casca ao serem atingidas. Elas precisam passar por poda e isso adia a produção em mais um ano. Ele explica que o decreto de emergência ajudará aos produtores que têm financiamento a renegociarem dívidas, mas não tem efeito prático para agricultores como o seu Nelson, por exemplo.
— Hoje o Brasil não tem fundo de catástrofe como outros países, como os Estados Unidos. Não estamos preparados para isso — declarou o gestor público.
Uma das ações da secretaria em conjunto com a pasta de Meio Ambiente será a de agilizar a liberação para que os produtores possam aproveitar a madeira das árvores que caíram para a reconstrução de galpões e estruturas danificadas. A prefeitura possui uma linha de crédito para auxiliar os produtores, por meio do Fundo Municipal de Desenvolvimento Rural. Segundo Menegotto, o crédito disponibilizado é limitado, de cerca de R$ 20 mil por agricultor, para pagamento em três anos, e é destinado especialmente para aqueles que perderam a produção e desejam usar o valor para iniciar o cultivo de novas culturas.
— Claro que para pequenos produtores isso vai fazer uma diferença, mas têm pessoas que o prejuízo é muito grande, é total, e não só dessa safra, mas de outras safras também. Então, esse valor é pequeno, mas é o que tem disponível hoje — pondera Menegotto.
O levantamento da secretaria apontou 70 propriedades atingidas em um total de 100 famílias.
— É uma situação muito difícil. Eles estão ainda em um abalo psicológico muito grande. Muitos ainda não assimilaram o estrago provocado. E não sabem o que pretendem fazer — diz o secretário.