A ausência paterna é uma realidade em muitas famílias. No Cartório de Registro Civil — 2ª Zona, que abrange a maior parcela dos nascimentos em hospitais de Caxias do Sul, de janeiro a agosto de 2021 um total de 941 crianças foram registradas, sendo que 52 delas não tiveram o nome do pai identificado na certidão. Ao longo de todo o ano de 2020, foram 113 bebês nascidos "sem pai" dentre o total de 1.938 registros do cartório.
A falta de um pai, entretanto, não se dá apenas pela ausência do reconhecimento civil após o nascimento ou mesmo pelo abandono familiar, que em alguns casos ocorre anos mais tarde. O exercício da paternidade é algo que vai além da presença física e até mesmo do laço sanguíneo. Por isso, um projeto piloto voltado a este tema, com envolvimento das áreas da Saúde, Educação e Assistência Social, começará a ser desenvolvido neste mês no município.
O chamado "Programa P" pretende capacitar profissionais e promover rodas de conversa para sensibilização de pessoas que ocupam o posto da paternidade em núcleos familiares atendidos pela rede municipal, em programas de atenção à primeira infância, com crianças de zero a seis anos.
Segundo a Fundação de Assistência Social (FAS), serão envolvidas 120 famílias, sendo que metade terá participação ativa, enquanto a outra metade será base comparativa para os resultados. O programa ocorre a partir de parceria da prefeitura com o Instituto Promundo, uma organização brasileira que atua na promoção da equidade de gêneros e pelo fim da violência, por meio de discussões sobre masculinidade e feminilidade.
— Este programa visa engajar os homens das famílias para que possam estar mais perto, fazendo o exercício de paternidade, buscando estratégias de autocuidado. E a paternidade não necessariamente está ligada à figura do pai biológico, mas da pessoa que faz este papel dentro da vida das crianças e adolescentes. Lembrando que, em muitas famílias, esta figura não está presente — relatou a presidente da FAS, Katiane Boschetti, em entrevista ao Gaúcha Hoje, na manhã de quinta-feira (2).
Segundo ela, o trabalho será voltado a famílias que recebem semanalmente os visitadores de programas como o Primeira Infância Melhor (PIM), desenvolvido há 16 anos em Caxias do Sul, e o Criança Feliz, do Governo Federal, que foi implantado em 2017 na cidade, orientando as famílias e suas crianças e, também, acompanhando as gestantes.
— Certamente teremos resultados a curto prazo mas, a longo prazo isso poderá fazer a diferença na educação dessas crianças. A gente educa nossos filhos com o que recebeu. Então, a ideia é trazer os pais para este grupo, fazer com que se sintam pertencentes e se capacitem para uma figura paterna mais saudável. Quando estas crianças se tornarem pais e mães poderão educar seus filhos com o que receberam — complementou a presidente.
Programa terá quatro etapas:
1 - A capacitação de equipes da rede será o primeiro passo do projeto, com previsão de ocorrer ainda no final deste mês. De acordo com Katiane, serão capacitados pelo Instituto Promundo agentes visitadores e também profissionais que atuam nas casas de acolhimento e de passagem de Caxias do Sul.
2 - Em outubro, será iniciada a divulgação e chamamento às famílias que quiserem aderir ao programa, participando dos encontros virtuais. Katiane explica que a participação não será restrita apenas a pais biológicos, tampouco somente a homens.
3 - Os encontros serão realizados de forma virtual, em princípio pelo WhatsApp. Eles serão mediados por profissionais do instituto parceiro durante os meses de novembro e dezembro de 2021.
4 - Os resultados dos encontros serão avaliados e comparados pelos realizadores e divulgados à comunidade em março de 2022.