Na última semana, o Centro de Atendimento ao Migrante (CAM) de Caxias do Sul abriu um serviço de teleatendimento em saúde mental, visto como uma nova forma de acolhimento às necessidades dos migrantes. O Legame – Teleatendimento em Saúde Mental, criado pela mantenedora do CAM, a Associação Educadora São Carlos (Aesc), é gratuito e sigiloso, sendo realizado por psicólogos e psiquiatras. O objetivo é acolher as pessoas que precisam de uma escuta sensível para falar sobre desconfortos como medo, ansiedade, luto, tristeza e sofrimento emocional .
Acessível inicialmente a funcionários, seus familiares e famílias de estudantes dos três colégios da Aesc no Rio Grande do Sul, agora o benefício é estendido à comunidade migrante que acessa o CAM. Em sua primeira fase, o serviço está disponível a todas as pessoas migrantes residentes no Rio Grande do Sul, a partir de 18 anos, que estejam cadastradas no CAM e manifestem desejo de receber o atendimento.
— O serviço passou a incluir o atendimento a migrantes e refugiados por entender que o fenômeno da migração traz profundas marcas na saúde mental daqueles que precisam deixar o território onde nasceram. Cabe ressaltar também que o acolhimento aos migrantes está na essência da instituição, que realiza o acolhimento aos migrantes desde a origem. Nesse sentido, a garantia do acesso aos diretos humanos e fundamentais também perpassa pelo acesso a saúde mental — salienta o psicólogo e supervisor de saúde mental da Aesc, Eduardo Althaus.
O atendimento será 100% online. O CAM irá dispor de um “consultório virtual”, ou seja, um espaço em sua sede com dispositivos e internet onde migrantes e refugiados possam realizar o atendimento, dispondo da tecnologia necessária e garantindo a inclusão digital. O serviço está disponível inicialmente em português e espanhol.
As pessoas interessadas precisam estar cadastradas. Para isso, é preciso ir ao CAM, de segunda a sexta-feira, das 13h às 17h. O endereço é Rua Professor Marcos Martini, 1.600, bairro Marechal Floriano, em Caxias do Sul. Para pessoas já cadastradas no CAM, é necessário ligar para o número (54) 3027-3360.
A refugiada Johamel Josefina Álvarez Ron, 34 anos, mudou-se da Venezuela para o Brasil em 2019. Ela salienta que o serviço de teleatendimento em saúde mental é muito importante, de modo que conhece várias pessoas que precisam dessa ajuda profissional.
— Quando se chega ao Exterior, chega-se em busca de atendimento médico para a saúde física e, infelizmente, nos esquecemos do atendimento psicológico. Por ser online, acho que mais pessoas vão procurar — afirma.
Johamel cita diversas dificuldades enfrentadas pelos migrantes que podem afetar a saúde mental. Entre elas, a própria viagem, o fato de deixar a família e a barreira do idioma. Aliadas a essas questões, estão complicações jurídicas para processar documentos, para assim entrar no mercado de trabalho e conseguir mandar dinheiro para os parentes que ficaram no país de origem.
— Por esses e outros motivos, acho muito importante que o CAM tenha atendimento psicológico aos imigrantes. Uma pessoa com boa saúde mental é aquela que lida melhor com o estresse, tem relacionamentos saudáveis, e é um trabalhador produtivo. Então, agradeço por essa iniciativa — afirma Johamel.
Conheça o CAM
Fundado em 1984, o CAM é referência no atendimento aos migrantes e refugiados, realizando atendimento e assessoria em mais de 57 municípios que fazem parte da circunscrição da Polícia Federal de Caxias do Sul.
A instituição executa ações especializadas voltadas para a defesa e a garantia de direitos da população migrante e refugiada, acesso às políticas públicas e regularização migratória, com atendimento jurídico gratuito e assessoria a instituições e órgãos públicos e privados. O CAM trabalha com foco na inclusão social e, para isso, conta com a parceria da comunidade, empresas, igrejas, voluntários, universidades, órgãos nacionais e internacionais.