Prefeitos de municípios da Serra viram com bons olhos as alterações propostas pelo governo do Estado no plano de concessão de rodovias. Os ajustes no modelo foram apresentados na última quarta-feira (22) pelo secretário de Parcerias do Estado, Leonardo Busatto. Com a maior parte dos pedidos da comunidade atendidos, serão adicionados investimentos que somam R$ 304 milhões ao montante previsto de R$ 2,88 bilhões para serem aplicados nos 271,5 quilômetros do bloco 3 ao longo dos 30 anos de concessão, com incremento de 8% na tarifa. Todos os pedágios também devem ficar em locais diferentes do projetado inicialmente.
Na avaliação do prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico (PSDB), as mudanças apresentadas são o resultado de diversas reuniões e discussões ocorridas desde que o modelo inicial foi apresentado, em junho. Ele entende ainda que o projeto está maduro.
— O secretário Busatto tem tido uma paciência de Jó, não se cansou de ouvir. Se teve alguém que questionou pedágios no passado, fui eu, mas porque eles foram impostos, sem conversas com a comunidade. Hoje estamos pagando muito mais caro pela defasagem das estradas — afirma.
Adiló acredita, ainda, que é possível que a região abra mão de alguma obra se entender que é necessário uma tarifa mais baixa, mas é preciso considerar o custo-benefício.
— Não podemos imaginar que vai ter uma perfeição de obras com tarifa pequena. Se for para pagar cinco centavos a mais para ter uma obra pode ser interessante... — pondera.
Na visão do prefeito de Caxias, os novos locais para as praças de pedágio da região são adequados, já que não dividem os municípios. Com relação ao modelo de seleção da concessionária, ele afirma não ser contra o pagamento de outorga, mas entende que o desconto máximo na tarifa deve ser maior que os 25% propostos.
O prefeito de Flores da Cunha, César Ulian (Progressistas), comemorou o fato do Estado atender a maior parte das demandas da região, mas ainda pretende discutir a inclusão no edital de uma duplicação entre Caxias do Sul e Flores da Cunha. A mudança de endereço do pedágio do município para um ponto mais próximo à Serra das Antas também era um pedido da comunidade. Além disso, a tarifa ficou menor no modelo ajustado.
— A praça está localizada em um ponto que isola quatro comunidades do município. Com a mudança elas voltam a se integrar com o restante. Identificamos que tinha uma falha no estudo do Estado. O pedágio de Flores tinha a maior tarifa e agora é a menor — destaca Ulian.
Os novos endereços dos pedágios e os investimentos adicionados também agradaram o prefeito de Antônio Prado, Roberto Dalle Molle (Progressistas). Ele entende, contudo, que o valor da tarifa precisa ser justo e, para isso, seria necessário distribuir melhor os pontos de cobrança.
— Defendemos a retirada da outorga e um preço justo. Talvez as pessoas não reclamem de pagar R$ 3. Estão colocando pedágio nas cidades periféricas, mas as cidades mais populosas não querem pedágio e querem obras — argumenta.
O prefeito de Farroupilha, Fabiano Feltrin (Progressistas), comemorou ainda na quarta-feira (22) a proposta do Estado de descocar em cinco quilômetros o pedágio que estava previsto para o município. Agora, as cancelas vão ficar na área de São Vendelino.
— Estamos na continuidade das negociações, mas entendemos que temos a grande chance de não ter a praça de pedágio em Farroupilha — disse Feltrin em vídeo publicado nas redes sociais.
O prefeito de Ipê, Cassiano Caon, disse que oito pontos das reivindicações do município foram atendidas, mas ainda não teve acesso ao detalhamento de quais são. Com relação ao pedágio, a prefeitura sugeriu o km 152 e, segundo Caon, o Estado disse que será próximo ao km 150, sem definição do ponto específico. A preocupação agora está com relação ao valor dos pedágios, que o prefeito entende estarem altos demais. A intenção é buscar a retirada da limitação no desconto da tarifa para baixar os preços.
Os ajustes no modelo não são definitivos porque o Estado ainda pretende colher novas manifestações da região. Além disso, os prefeitos ainda não tiveram acesso ao detalhamento das modificações. Para esta sexta-feira (24) estava prevista uma reunião do grupo de trabalho coordenado pelo Conselho Regional de Desenvolvimento da Serra (Corede Serra) para debater o assunto. O encontro, contudo acabou adiado por falta de algumas informações.
Com relação à seleção da concessionária, a decisão do modelo que será adotado será anunciado pelo governador Eduardo Leite (PSDB). O modelo de outorga proposto inicialmente prevê o pagamento de um valor não definido pelo Estado após as propostas de desconto tarifário atingirem 25%. A região é praticamente unânime em rejeitar esse formato.
Discordância no Vale do Caí
Se na Serra os ajustes foram bem aceitos, o Vale do Caí ainda não está satisfeito com a futura localização do pedágio de Portão. Inicialmente, a praça iria para o km 22,5, da Rs-122, em Bom Princípio. Agora, a proposta é levar para o km 4 da rodovia, no bairro Areião, em São Sebastião do Caí, a quatro quilômetros do endereço atual. Segundo o prefeito do município, Júlio César Campani, porém, a localização isola parte da cidade.
— Ele divide São Sebastião do Caí porque tem pessoas que trabalham em São Sebastião do Caí e Portão, além de ser uma curva e ter uma estrada vicinal que o município está pavimentando e servirá como rota de fuga. Também será a maior tarifa de todas. Acho que não houve reestudo nenhum. Queria saber que estudo técnico foi feito para tirar de uma reta e colocar em uma curva — destaca Campani, que diz não ser contra a concessão, apenas às localizações propostas para as cancelas.
Para o prefeito, uma boa localização seria no limite de São Sebastião do Caí com Bom Princípio. Por isso, ele solicitou uma nova reunião com Busatto para debater o assunto. Audiências públicas também já foram realizadas na cidade.
Outra mudança é que as praças que ficariam em Carlos Barbosa e Farroupilha foram realocadas para a área de São Vendelino.
— Estamos desgostosos, porque estas praças trancam nossos municípios. Estamos limitados, é pagamento de pedágio para todos os lados. Também está muito caro (o valor da tarifa) em praças muito próximas. Muitos trabalhadores de São Vendelino trabalham na Tramontina e vão com o próprio carro. Essas pessoas não teriam condições de pagar toda dia o pedágio — comenta a prefeita Marlí Lourdes Oppermann Weissheimer (PTB).
Setor produtivo está otimista
Também envolvido nas discussões, o setor produtivo aposta nas concessões para melhorar a logística da Serra, embora também tenha apontado a necessidade de ajustes no projeto inicial. Para o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul, Ivani Gasparin, a expectativa é de que se encontre um equilíbrio entre os investimentos a serem realizados, cujos custos estão maiores, e uma tarifa acessível.
— O valor inicial do pedágio vai ser impactado pelo aumento no custo do asfalto, mas o governo está bem calçado. Quero acreditar que o custo logístico diminuirá bastante com rodovias melhores e pedágios — afirmou em entrevista ao programa Gaúcha Hoje, da rádio Gaúcha Serra nesta sexta-feira.
Gasparin também disse estar satisfeito com as obras previstas para a região, incluindo correções de curvas na RS-122, que exigem autorização especial para o tráfego de caminhões.
— Estamos bem contemplados e vamos acreditar que o pedágio, que agora aumentou um pouco mas deve ter deságio de 25%, traga realmente o crescimento da infraestrutura que precisamos para a Serra.