Foi por volta das 14h da última quarta-feira que o sonho da paternidade se tornou realidade para Maxmillian Bernardes. Ao invés do parto, foi o termo de guarda recebido das mãos da assistente social que permitiu ao tocantinense abraçar como filhos, de uma vez só, a menina de 6 anos e dois meninos, de 7 e 11, irmãos biológicos acolhidos desde 2018 em uma Casa Lar no bairro Rio Branco, em Caxias do Sul.
O choro emocionado de Max e da esposa, Brinea, era apenas o ato e o instante que simbolizavam o surgimento de uma família idealizada ao longo dos últimos anos, desde a escolha da casa e da compra do carro, espaçosos a fim de abrigar e transportar os futuros filhos.
- Adotar nunca foi uma segunda opção. Nós sabíamos que queríamos ter quatro filhos, e que alguns seriam adotados, outros não. Ambos viemos de famílias numerosas, não sabemos viver com pouca gente (risos). Agora sobrou apenas uma vaga, caso ainda venha um biológico - brinca Brinea, que é designer de interiores.
Foi de carro, com uma cadeirinha e três malas vazias no porta-malas, que o casal cruzou o Brasil numa viagem de três dias e 2, 5 mil quilômetros de Palmas até Caxias, a fim de conhecer pessoalmente os futuros filhos. Ao longo da travessia Norte-Sul, na medida em que as temperaturas baixavam, os corações de Max e Brinea se aqueciam com a proximidade do momento que passou a se tornar realidade após concluir o curso de preparação e cumprir os demais ritos jurídicos:
- A ficha foi caindo durante a viagem, porque nós não tivemos nove meses de preparação. Enquanto muitos casais aguardam anos pela adoção, para nós foi tudo muito rápido (apenas 1% dos pais brasileiros aceitam adotar crianças com mais de 10 anos). Fomos habilitados em fevereiro, entramos no sistema na manhã de 9 de junho, e à tarde nos ligaram para informar que havia um grupo disponível em Caxias do Sul - recorda Max, que trabalha como assessor de investimentos.
Após algumas semanas recebendo fotos e trocando informações por videochamadas com a equipe da Casa Lar, o casal e as crianças só tiveram o primeiro contato pessoalmente. Nos últimos 15 dias, pais e filhos puderam se conhecer melhor, descobriram afinidades e falaram de sonhos. Max e o mais velho, que quer ser jogador de futebol, bateram bola juntos. O entrosamento foi instantâneo.
- Não viemos para cá com um plano B. Sabíamos que estávamos viajando para buscar nossos filhos, e não para conhecê-los. Não sei explicar, mas sempre achei que não precisa ter filho para ser pai: é algo que sempre existiu em algum lugar dentro da gente. De alguma forma, nós já amávamos essas crianças desde antes de saber que elas seriam nossas - resume Max.
Com o sorriso escondido pela máscara, só os olhos marejados de Max transpareciam a emoção de receber a própria paternidade como primeiro presente de Dia dos Pais. Ao responder se a sensação maior seria de felicidade, responsabilidade ou alívio, o tocantinense escapou das alternativas sugeridas para dar sua própria definição:
_ Privilégio. Temos vivido tempos de muita imaturidade, em que muitos homens da minha geração não passam de meninos crescidos, eventualmente com dinheiro e emprego, e que só por isso acham que são adultos. Poder caminhar para a maturidade tendo a responsabilidade de conduzir três vidas, para mim, é isso: um privilégio.
Antes de embarcar rumo ao Norte, pais e filhos aproveitaram a proximidade do destino mais procurado do Brasil para desfrutar logo de suas primeiras férias em família. Pegaram a estrada para Gramado, onde eram aguardados familiares que também vieram do Tocantins, a fim de tornar ainda mais inesquecível o dia em que cinco vidas foram tocadas pelo amor e pela esperança.