Uma nota de R$ 20 no bolso e uma mochila nas costas era tudo que Carlos Camargo, 22, carregava ao chegar a Caxias do Sul em janeiro deste ano, vindo de Porto Alegre com a esposa, Ana Aline dos Santos, 36. Sem emprego e sem perspectivas de fazer algum dinheiro, ao desembarcar na Serra o casal procurou logo o Residencial Santa Dulce, casa de acolhimento no bairro Cinquentenário, em Caxias. Na entidade, receberam comida e abrigo necessário para poder tentar a chance de reconstruir a vida com trabalho e suor.
Suor não faltou na colheita da uva, trabalho que Carlos arrumou logo na primeira semana, e no qual seguiu até o fim da safra. Dos parreirais partiu para um emprego fixo, num frigorífico, onde ficou até sair para outro emprego com remuneração e horários melhores, numa metalúrgica de Caxias. Enquanto a vida profissional começava a se ajustar, o equilíbrio do casal foi posto à prova quando, ainda no albergue, Ana descobriu estar grávida. Arranjar um lar tornou-se ainda mais urgente.
– Recebemos uma ajuda imensa no albergue, mas não podíamos permanecer. Ficávamos em quartos separados, e quando ele saía para trabalhar eu ficava sozinha na casa. Fiz algumas entrevistas de emprego, mas depois de descobrir a gravidez ficou ainda mais difícil – conta Ana, que trabalhava como secretária até perder o emprego no começo da pandemia.
Os dias difíceis são recordados na casa onde o casal vive atualmente, no bairro Cidade Nova. Com o dinheiro que conseguiu guardar no serviço temporário, Carlos pagou adiantado os primeiros três meses de aluguel. Os móveis e utensílios domésticos foram arranjados pela equipe do abrigo, através de doações. A entidade também conseguiu as primeiras roupas para o bebê, além de uma bolsa de estudos para o rapaz completar o ensino médio em uma escola particular.
– Eles chegaram com uma mão na frente e outra atrás. Nós organizamos toda a parte de saúde deles e questões de documentação. Também acompanhamos a gestação desde que a Ana descobriu, viabilizando os exames. Houve a nossa ajuda de um lado, e a vontade deles do outro. É muito recompensador vê-los organizados e felizes para seguir a vida – conta a coordenadora do Residencial Santa Dulce, Adriana Debastiani.
Com um pouco mais de estabilidade, Carlos, enfim, consegue desfrutar da expectativa da paternidade. A pressa para garantir o sustento deu lugar à ansiedade pela chegada de Gabriel, prevista para setembro. Ao passar a mão na barriga da esposa, Carlos sente que ali dentro cresce, a cada dia, uma vida nova, vinda para premiar a nova vida que eles não desistiram de construir:
– Há menos de um ano nós chegamos a Caxias dependendo muito de ajuda e agora vamos ter uma vida dependendo da gente. Mas sei que daqui pra frente tudo vai dar certo. Não vejo a hora de poder segurá-lo no colo, de trocar as fraldas e dar ao Gabriel o carinho que nunca vai faltar.