Mais de 50 dias após a reabertura das escolas para as aulas presenciais e com a garantia de cumprimento de protocolos sanitários, há pais que ainda preferem manter o ensino remoto em Caxias do Sul. Os motivos variam entre quem escolhe deixar os filhos longe das salas de aula neste momento: avanço da pandemia, insegurança em relação às consequências da doença, temporada de frio, que traz consigo o aumento de problemas respiratórios, entre outros.
Para a moradora do bairro Cinquentenário Marlusi Graziela D'Agostini, a decisão por manter em casa a filha Marcelly, 10 anos, foi motivada pela fragilidade da saúde da menina. A estudante do quarto ano da Escola Municipal Luiz Covolan tem asma, o que aumenta a preocupação da mãe sobre as consequências de um possível contágio no ambiente escolar.
— Ela é propensa a ter uma situação mais grave. Há uns 15 dias atrás tive que levar ela na UPA porque atacou a asma. Aí eu penso que se ela fica atacada mesmo estando praticamente trancada em casa, imagina indo para a escola, onde pega frio e chuva. Na minha opinião, esse retorno foi em uma época imprópria, pela questão do inverno — explica Marlusi.
Com o avanço da vacinação e o retorno de dias com temperaturas mais quentes, Marlusi e o marido planejam que Marcelly volte a frequentar as aulas presenciais a partir de outubro. Enquanto isso, a menina estuda em casa, com a ajuda da família e longe do contato com os colegas e professores o que, na opinião da mãe, não é tão eficiente, porém necessário neste momento.
— Não pode ligar a estufa, tem que manter tudo aberto. Então, eles passam frio. E tem a questão que ela ainda é criança, não tem noção total de que não pode abraçar uma amiguinha, de não emprestar lápis, essas coisas. Agora a gente está explicando para ela, mas fazemos do nosso jeito. Nós não somos formados para isso — desabafa a mãe.
Também por questão de saúde, a professora Rosângela Censi optou por seguir com o ensino online para os filhos Artur e Júlia, 12 anos, ambos alunos do sétimo ano do Colégio Murialdo. Assim como Marcelly, o menino sofre com asma e, por isso, a opção pelo afastamento da dupla das salas de aula. Para ela, a questão mais difícil de lidar com os gêmeos é a falta de contato presencial com os colegas, visto que eles estão na pré-adolescência e sentem muita falta das trocas diárias com os amigos.
— Eles gostariam muito de voltar. A gente entende e sabe que é difícil, ainda mais porque eles estão na fase de construir as relações e a personalidade. Eles nos pedem bastante. Mas, a cada vez que fazemos algum movimento para que eles voltem à escola, a situação piora, vem uma nova onda e desistimos — relata a professora.
Segundo ela, o apoio do colégio tem sido fundamental na decisão:
— Sentimos que estamos amparados. A questão pedagógica é bem suprida e as dúvidas deles são sempre esclarecidas. O colégio também reforçou os trabalhos em grupo, o que é bem importante — diz Rosângela, explicando que, para diminuir a ansiedade dos filhos, permitiu que eles fizessem uma aula de badminton uma vez por semana na instituição.
"Temos percebido que as escolas estão bem organizadas", avalia secretária
Desde maio até quarta-feira, a Secretaria Municipal da Educação (Smed) contabiliza 128 casos positivos para coronavírus, sendo 40 de estudantes e 88 de funcionários. A Escola Municipal Luiz Covolan foi a primeira instituição do município a ter as aulas presenciais suspensas no mês de junho, depois que outras três instituições tiveram encontros restritos na segunda quinzena de maio. Após o cancelamento na terça e nesta quarta (23), as atividades presenciais devem ser retomadas quinta-feira.
— Temos percebido, nas vistorias, que as escolas estão bem organizadas, com protocolos sendo cumpridos e reforçando junto aos estudantes a necessidade de manter as medidas de segurança nas suas casas. Este caso da Luiz Covolan não foi uma questão sanitária, porque tivemos três casos em um universo de 49 professores e 393 estudantes. Foi muito mais uma questão de solidariedade, porque a comunidade estava fragilizada — avalia Sandra, explicando que geralmente os estudantes contraem o vírus fora do ambiente escolar.
Já na rede estadual, até terça-feira, havia 26 estudantes e 16 servidores positivados para a doença, segundo levantamento mais recente da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE) com todos os municípios de abrangência. Já casos suspeitos, somam-se 71 pessoas, entre alunos e funcionários.
Fiscalização segue cronograma semanal
Semanalmente, uma equipe da Secretaria Municipal da Educação (Smed) segue um cronograma de fiscalização em escolas municipais e particulares para verificar o cumprimento das medidas de contenção à pandemia previstas nos âmbitos municipal e estadual. É verificado, por exemplo, o distanciamento entre alunos e distribuição das turmas, sinalização dos espaços, existência de sala de isolamento, ventilação, entre outras ações do protocolo de volta às aulas presenciais.
— Temos equipes internas que deslocam-se quase que diariamente e realizam a verificação com o representante do COE (Centro de Operação de Emergência em Saúde para a Educação, regulamentado por meio de decreto municipal em 2 de julho de 2020) local. Se verificada alguma necessidade de adequação ao Plano de Contingência, orienta-se e a equipe retorna ao local, dentro de um prazo estimado, para nova verificação. Diante de irregularidades mais complexas, a equipe comunica a Secretaria da Saúde e do Urbanismo, que procederá com a fiscalização — explica Gerente Pedagógica de Ensino Fundamental da Smed, Alessandra Valéria Zanrosso Piccoli.
Periodicamente, a Secretaria Municipal do Urbanismo divulga uma listagem com as instituições que obtiveram parecer favorável ao retorno presencial. A última lista, que pode ser conferida no site da prefeitura, foi publicada na quinta-feira passada.
— Trabalhamos sempre na orientação das necessidades e adequações que podem se apresentar, o que pode prolongar o prazo de liberação do parecer favorável, mas não há a negativa — completa Alessandra.
"Eu amo sua vida!": Bento reforça cuidados em escolas
Após perceber um certo relaxamento entre as famílias nos cuidados em relação à contaminação com o coronavírus, a Secretaria de Educação de Bento Gonçalves e o grupo Bento +20 resolveram lançar uma campanha para reforçar os bons hábitos e diminuir o contágio da covid-19 nas escolas do município. Com o slogan "Eu amo a sua vida! Vamos nos cuidar?", a ação ocorrerá em todas as instituições de ensino da cidade, municipais, estaduais e particulares, a partir da Educação Infantil.
— Muitas famílias começaram a não usar mais máscara e, depois que se vacinaram, acharam que não precisavam mais se cuidar. Então, começamos a discutir o que poderia ser feito para que as famílias continuassem tendo esse cuidado — explica a secretária de Educação, Adriane Zorzi.
Uma máscara com o slogan da campanha será enviada a cada escola, que selecionará um funcionário para gravar um vídeo orientando a comunidade escolar a continuar mantendo os cuidados como distanciamento, uso de máscara e distanciamento social. O material, de até 30 segundos, será divulgado nos grupos de WhatsApp e nas páginas do Facebook, direcionado, principalmente, para os alunos e seus responsáveis. O projeto iniciou pela Educação Infantil e será ampliada para o Ensino Fundamental nesta semana.
Segundo Adriane, desde o retorno das aulas presenciais, em maio, casos pontuais de covid-19 foram registrados nas escolas da cidade. Não houve, até o momento, o fechamento total de nenhuma instituição do município por conta de pessoas positivadas para a doença.
— A gente teve alguns casos, mas a maioria foi de pessoas que tiveram contato fora da escola. Também houve casos de pessoas afastadas com algum sintoma e que, depois, os exames comprovaram que não era coronavírus. Não teve nenhuma situação alarmante, em que foi necessário fechar escolas, só afastamos algumas turmas — detalha a secretária.