Enquanto segue a procura pelo terreno para sediar o novo Canil Municipal de Caxias do Sul, protetores atuam em várias frentes e lançam campanhas para que os animais do abrigo não sofram ainda mais com a chegada dos dias frios e úmidos de inverno. Hoje, cerca de 600 animais vivem à espera de um cantinho no quintal ou dentro de casa para chamar de seu. São cães ainda sem nome, sem donos e sem um lar e que esperam para correr livres de correntes e brincar com uma bola.
Muitas vezes, a comunidade não vai até o canil ou desconhece a realidade que vivem os animais, longe do convívio e carinho de uma família. Assim, os bichos não têm a chance de serem adotados e encontrar um novo lar. Muitos deles já tiveram donos e foram abandonados ou fugiram e se perderam. Outros nasceram, cresceram e vão morrer no canil. O olhar dos animais abrigados reflete a tristeza e a dor do abandono.
Uma das campanhas se chama Minha Casa, Minha Vida Cachorros — uma alusão ao programa federal de crédito para compra de residências. A iniciativa foi organizada pela Associação Vida, depois de uma conversa com o município, que colocou a necessidade das estruturas para abrigar os cães. Até o momento, já foram arrecadadas 100 casinhas e entregues 45 ao canil. O secretário municipal do Meio Ambiente, João Osório Martins, destaca que atualmente o canil está em um local inadequado, porque a cidade cresceu e o abrigo ficou dentro da área urbana:
— Temos que ter critérios para encontrar uma nova área, que se enquadre em alguns requisitos técnicos, como tamanho. Tem que ser uma área bem ampla, com espaço não apenas para cães, mas também para cavalos e outros animais exóticos que, às vezes, temos que socorrer. Temos algumas negociações em andamento com terrenos que a gente pretende comprar, mas estamos em estudos. Por enquanto, a gente tem procurado otimizar o uso do atual canil, porque ele é pequeno.
Martins ressalta que as casinhas são um investimento necessário, independentemente do local onde funciona o abrigo.
— As casinhas serão levadas, assim como outros equipamentos, para a nova área. São doações bem-vindas e que vão ser usadas em outros espaços, que não são desperdício de dinheiro. Hoje, com os 610 cães, a nossa equipe de veterinários e servidores consegue cuidar deles da melhor maneira possível — destaca.
O secretário afirma ainda que não há mais gatos no abrigos, que todos foram levados pela Associação Vida para o gatil construído pela entidade para que eles pudessem ser socializados e encontrassem um lar. Presidente da entidade, a médica Tatiana Furlan ressalta que a associação está empenhada em auxiliar na mudança do canil:
— Temos ajudado a prefeitura pesquisando e visitando áreas de terra em zona rural. O Canil Municipal existe há cinco anos com esse nome, teve uma herança de animais em correntes, mas o Código de Proteção Animal diz claramente que privar um animal de liberdade de movimentos é maus tratos. Ou seja, o próprio município comete maus tratos. É uma triste realidade. A burocracia e morosidade em resolver a situação daquele depósito de animais faz com que a indignação aumente ainda mais.
Idealizadora do Castrapet, a advogada Elisabete Padilha também está empenhada em mudar a vida dos cães que vivem no abrigo.
— Estamos construindo dois canis no Canil Municipal para retiramos cerca de 25 animais das correntes. Também arrecadamos cobertas e contemplaremos outros locais que abrigam animais, entre eles uma ONG em Farroupilha — aponta ela.
Castrações
Depois de ficar cinco meses sem castrações, a cidade voltou a contar com o serviço em janeiro. Contudo, segundo o secretário, dos 523 procedimentos previstos por mês são feitos em média 213. Martins frisa que ocorrerá um encontro com a Animale Centro Médico Veterinário, que venceu a licitação, para ampliar o número de castrações mensais:
—Vamos marcar uma reunião com a clínica para que ela encontre algumas alternativas para castrar mais animais, porque alguma deficiência está acontecendo e iremos cobrar o compromisso contratual deles, porque estão castrando em torno de 213 animais. O ideal é passar do 500 para lá no final chegar aos 6.280. O tempo está passando e temos que intensificar as castrações para chegar a esse número quando encerrar o contrato.
Um dos pontos mais questionados e criticados pelos protetores é o fato do município não transportar os animais para serem castrados, sendo que a maioria das pessoas que busca o serviço gratuito é de baixa renda, vive em área de vulnerabilidade social e não tem como levar o pet no dia do procedimento.
— Não contratamos o transporte para conseguir castrar o maior número possível de animais, mas a Semma também não se nega, quando necessário, em fazer esse transporte. Temos uma caminhonete e acho que depende muito do interesse do morador de conseguir chegar até a clínica — explica o secretário.
Martins esclarece que o problema maior é que a clínica liga para o morador e, às vezes, a pessoa não atende o telefone ou trocou de número. Hoje, a inscrição é centralizada nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), mas Martins não descarta trabalhar em conjunto com as protetoras para melhorar o processo.
— Vamos acionar os protetores dos animais e pedir ajuda para que eles enviem os animais para poder realmente castrar o maior número possível.
A Proteção Animal
Em 2020, o município abriu os portões do Canil Municipal para a proteção animal. Na ocasião, foi lançada a campanha Adote por Amor, que uniu as ONGs Grupo de Apoio Pet (GAP), Help Vira Latas, SOS Peludos, a Associação Vida e a prefeitura em busca de um lar para os 698 animais que viviam no abrigo. A presidente da Vida, a médica Tatiana Furlan, afirma que uma emenda parlamentar do deputado federal Giovani Cherini foi encaminhada a Caxias do Sul, com intermédio da entidade, para destinar verba de mais de R$ 168 mil para a compra de um castramóvel (veículo equipado para fazer o procedimento cirúrgico):
— O número de castrações beira ao ridículo. Não há um planejamento e, proporcionalmente ao número de habitantes da cidade, estima-se que há quase 20 mil animais em situação de rua entre cães e gatos. Então, 400 castrações por mês disponibilizadas pela prefeitura não representa nada com a velocidade com que os animais se multiplicam. Se não houver um mutirão com castração massiva de cães e gatos nada vai mudar. Depois disso tem que ter, no mínimo, 2% de castrações por mês pelo número de habitantes.
Segundo o titular da Semma, a prefeitura já encaminhou a documentação para garantir a destinação dos recursos. Já a idealizadora do Castrapet, a advogada Elisabete Padilha, afirma que recentemente o projeto apresentou algumas propostas ao governo municipal em busca de melhorias no Canil Municipal e voltadas às castrações dos animais de rua.
— O número de castrações precisa, urgentemente, aumentar. Somente projetos inovadores e educacionais levarão a sociedade a entender a importância. Castrar é um ato de amor, pois além de prevenir doenças graves, evita o abandono e impede as ninhadas indesejadas, reduz agressividade, reduz fugas, aumenta a longevidade. Castrar significa ter posse responsável — defende ela.
Tatiana conta que desde que foi criada, em fevereiro de 2019, a Vida tem trabalhado para reduzir o número de animais de rua contando com uma clínica veterinária que faz o procedimento para a população que não se enquadra nas regras da prefeitura, de baixa renda, e que não consegue pagar o valor de uma clínica veterinária particular.
— Parte do valor é subsidiado pela própria Associação com recursos de doações, arrecadação de tampas plásticas, venda do brechó e pelo trabalho sem remuneração dos voluntários. Assim, o valor cobrado do tutor ou protetor por uma castração é diferenciado. Os protetores podem parcelar o valor das castrações.
Elisabete segue na mesma linha e ressalta que é preciso retomar as ações em conjunto com o Castramóvel da UCS e as campanhas educacionais na cidade.
— O Castrapet tem diversos projetos. O principal é facilitar a castração de animais de famílias carentes, além de arrecadar casinhas, distribuir ração e medicação. Viabilizamos também doações, prestamos socorros a animais acidentados e distribuímos cestas básicas e frutas às famílias carentes.
Como denunciar abandono e maus tratos
:: Formulário online no site da prefeitura de Caxias
:: Telefone da Semma: 3901.1445
:: Polícia Civil: por meio de ocorrência no site ou presencialmente em qualquer delegacia