Do abandono para os holofotes. Este é o resumo da trajetória que se desenha até o momento na vida do vira-lata Joaquim. Não bastasse o carisma próprio, o jeito que ele presta atenção nos conselhos da tutora, a professora caxiense Rejane Rech, 57 anos, garantiu o sucesso nas redes sociais. Em pouco mais de um mês, os cinco vídeos já publicados por Rejane totalizam mais de 5,6 milhões de visualizações no Facebook, com mais de 360 mil compartilhamentos.
O número de seguidores dela no Instagram também reflete o sucesso das publicações: saltou de cerca de 2 mil para 10,3 mil. Com temas que envolvem comportamento e relacionamentos, os "sermões" que Joaquim leva da dona tratam de complexidades humanas que, quando associadas a ele, o cachorro, acabam tornando-se motivo de riso e, claro, de muita reflexão.
— Nunca imaginei que uma coisa dessas fosse viralizar, me surpreendeu muito. Acredito que nessa situação de confinamento, de preocupação com a saúde e com a economia, o clima fica muito pesado e quando as pessoas veem um conteúdo leve e divertido, elas gostam — avalia Rejane, que além de Joaquim também mantém outros cinco cachorros e um gato adotados.
O ciúme que ele demonstra quando precisa dividir a atenção da dona com seus irmãos de quatro patas motivaram o primeiro vídeo (assista abaixo), publicado por Rejane no dia 11 de abril — atualmente, ele conta com 2,7 milhões de visualizações. Rejane diz que sempre conversou com os peludinhos e a ideia de filmar partiu da filha, que mora em Porto Alegre mas está passando o período de isolamento na casa da mãe, no bairro Jardim América, em Caxias.
— A gente estava esperando uma telentrega, sentei no sofá com todos eles, mas o Joaquim começou a brigar porque queria preferência. Depois de gravar a conversa, mandei para a família e todo mundo gostou, então compartilhei nas redes sociais também. Desde então tenho recebido milhares de mensagens. As pessoas se identificam muito, pedem que a gente continue gravando. Acima de tudo, acho que conseguimos mostrar que o amor animal independe de raça — comenta.
Dos maus tratos a donos da casa
Além de professora universitária, Rejane é engajada à causa da proteção animal e viu no sucesso de Joaquim a oportunidade de promover ainda mais as campanhas solidárias que já vinha desenvolvendo desde 2014 em prol de entidades locais que resgatam cães e gatos de situação de maus tratos ou abandono, intermediando tratamentos e os encaminhando para adoção. Esta, aliás, foi a trajetória do próprio Joaquim.
— Ele encontrado ainda filhote, amarrado, no meio do mato. Estava com sarna e foi resgatado por uma clínica veterinária. Até hoje é muito traumatizado, medroso, mas dentro de casa é muito querido e, desde que foi adotado, há oito anos, é de arrumar confusão — conta Rejane.
Segundo ela, assim como Joaquim, Flor, Fumaça, Valente, Pitot e o Gato (nome do felino), por serem idosos e/ou deficientes, não atendem ao perfil procurado por quem adota animais, mas ganharam espaço na sua casa, seu coração e no tão disputado sofá.
A própria Cabrita, irmãzinha que aparece no vídeo mais recente ouvindo os conselhos de Rejane após desentendimentos com o Joaquim, tem idade estimada entre 13 e 14 anos. Ela foi resgatada com miíase (infestação de larvas) na boca e, por isso, teve o maxilar removido, o que faz com que ela fique sempre com a língua pra fora.
Apesar dos pesares, a velhinha acabou sendo "garota propaganda" do "Cabrita vende para ajudar seus amigos", loja virtual que comercializa produtos obtidos por meio de doações, revertendo os lucros para o auxílio a organizações não governamentais (ONGs), protetores independentes e tutores de animais adotados.
Professora mantém outros projetos
Com a mesma finalidade — angariar fundos para auxiliar quem atua no cuidado com os animais — Rejane também mantém o Engenharia Solidária. O projeto gera renda a partir da coleta e venda de tampas plásticas e resíduos eletrônicos e da organização de eventos. Além disso, o "Livro bom pra cachorro", sebo online que comercializa livros técnicos de todas as áreas acadêmicas, com renda revertida à causa animal, também é de sua responsabilidade.
Por mais que não tivesse nada de especial em sua aparência de típico vira-lata, Joaquim conquistou Rejane e agora conquista a todos que assistem aos vídeos, embora, muito provavelmente, ele não acate e sequer entenda os conselhos passados pela tutora.
— Acho que ele entende apenas que, naquele momento, a minha atenção está sendo exclusivamente dele, por isso que gosta. Quando adotamos, os animais nos entregam muito mais do que nós a eles: amizade, respeito, gratidão imensa. A casa fica sempre cheia de amor — completa.