Um trabalho intercontinental vai permitir que moradores de Caxias do Sul tenham um inverno mais confortável. Com a mobilização de empresários e voluntários ligados à Igreja Católica, um contêiner com 3,6 mil peças de roupas saiu do Porto de Gênova, na Itália, na sexta-feira (18) com previsão de chegar ao Estado no final de julho. Primeiro, irá para o Porto de Rio Grande, no Sul do Estado, e depois será encaminhado, também por meio de uma parceria, ao Porto Seco de Caxias.
A campanha de recolhimento das roupas começou em setembro de 2020 e se encerrou em março deste ano. Depois, houve todo um processo de separação, classificação e encaixotamento das peças. O recolhimento foi coordenado na Itália a partir de um projeto chamado Chaire Gynai, que em Roma acolhe mulheres e crianças refugiadas. À frente dessa iniciativa, está a Irmã Eleia Scariot, que morou em Caxias do Sul por quase duas décadas e reside na Itália desde 2018.
Ela conta que os italianos têm um traço acentuado de generosidade e costumam fazer muitas doações. Surgiu, então, no inverno passado, a ideia de fazer a campanha direcionada para Caxias do Sul. Com a participação de empresários que têm essa ligação tanto com o Brasil quanto com a Itália, por causa da residência ou do trabalho, foi possível organizar a logística de envio. Já os voluntários do projeto italiano organizaram, aos finais de semana, a arrecadação e demais processos para a destinação das roupas. As doações foram feitas por italianos e brasileiros que moram no país europeu.
— A gente se sente em um mundo que não tem fronteiras geográficas, às vezes acho que são mais políticas e econômicas, mas essa fronteira da solidariedade, da fraternidade é algo que precisamos romper. Foi um trabalho a mais, mas uma alegria e uma satisfação a mais também. Sempre nesse espírito inspirado pelo Papa Francisco: nós somos todos irmãos. Não é possível que alguns tenham demais e outros não tenham — comenta a Irmã Eleia.
As peças recolhidas serão encaminhadas para o Projeto Mão Amiga, de Caxias do Sul.
— Para mim, é um testemunho muito grande, porque é a solidariedade quebrando as fronteiras — comenta o Frei Jaime Bettega, que está à frente da iniciativa caxiense.
Um dos empresários que participou da iniciativa é o italiano Andrea Martinon, que tem uma empresa em Flores da Cunha e ajudou a articular a destinação das roupas:
— A gente pensa que é muito legal mandar roupa para Caxias, porque além de ter o restaurante solidário (ele se refere ao Restaurante Popular, administrado pelo Mão Amiga), onde é possível encontrar comida e cursos, eles (pessoas em vulnerabilidade) poderiam ter também um lugar onde se trocar, botar roupa bonita, limpa, nova para enfrentar uma entrevista de trabalho, para dar uma nova oportunidade de vida para as pessoas que precisam, além obviamente de ajudar no frio.