Materiais revirados que transbordam por lixeiras e contêineres têm sido realidade em Caxias do Sul. Parte do lixo se acumula em calçadas em muitos casos e promovem péssima impressão sobre a cidade. Não bastasse isso, o cenário reflete em mal estar a moradores que residem próximos aos locais. Além do mal cheiro, a reportagem ouviu relatos de presença de ratos e baratas. Moradores não sabem precisar exatamente quando a situação começou, mas afirmam que ela se agravou há cerca de dois ou três anos.
No bairro Jardim América, por exemplo, a descrição de um morador, que preferiu não se identificar, é de que o lixo depositado em contêineres na esquina da Rua Rio de Janeiro e Avenida Brasil transborda diariamente. Outro agravante é sobre os equipamentos estarem no passeio público.
— A Codeca passa sempre ali pelas duas da manhã (2h) todos os dias para recolher, mas nem sempre recolhe do contêiner da esquina. É horrível de ser ver, parece um lixão! Tem pessoas que tem a cozinha próxima ao lugar. Liguei na Codea e me disseram que eles não têm obrigação de limpar o lixo que fica ao redor. Então quem tem que limpar sou eu? A prefeitura cobra tanto da gente, pagamos todos os impostos — diz.
Problema similar ocorre na Rua Getúlio Vargas, no bairro Presidente Vargas, onde a coleta é manual. Conforme uma moradora, a Codeca passa, mas não leva tudo.
— Na segunda-feira (17), eles deixaram o lixo orgânico. Juntaram tudo em dois montes e levaram só um. Na terça-feira, estava no mesmo lugar, sendo que os cachorros rasgam os sacos. Ligamos para a Codeca várias vezes e, quando conseguimos falar, a funcionária nos disse que viriam recolher. Até agora nada. Como não pegam, os cachorros rasgam as sacolas e então os moradores que têm boa vontade acabam recolhendo — diz.
Na Linha 40, moradores pagam para que o lixo seja organizado antes do horário da Codeca
A situação vivida pela moradora do bairro Presidente Vargas não é diferente para os que residem em área rural e, mais do que isso, local que é roteiro turístico para Caxias do Sul. O morador Amarildo José Barcarol, 58 anos, sabe bem o que a comunidade passa por conta do serviço considerado nada satisfatório na localidade. Barcarol passou a morar na residência afastada do centro urbano da cidade há cerca de um ano, por conta da pandemia, mas tem imóvel na Linha 40 há quase 10 anos. Nos últimos dois a três anos, começou a observar que apenas parte dos resíduos depositados na lixeira eram levados na coleta.
— Temos câmeras que gravam a situação. Vimos que encostam o caminhão já meio longe e os coletores pegam só o que está por cima, o resto fica. Sempre sobra, principalmente os pacotes que foram abertos — conta.
Algumas sacolas não estão fechadas como os moradores colocam porque pessoas que buscam material reciclado acabam remexendo no monte. A bagunça fica.
— É um problema social, mas acho que a Codeca não está colaborando. Os catadores, recicladores, na prática, sabem o roteiro e horário em que os caminhões passam e vão antes para pegar lixo seletivo. Já pedimos para eles fecharem novamente quando encerram o seu trabalho porque, se não, a Codeca não recolhe. Vai dar mais trabalho recolher tudo, mas se levar 30 segundos, um minuto a mais, tudo ficaria mais satisfatório para a cidade — afirma.
A solução encontrada por um grupo de cerca de 70 pessoas foi pagar por conta própria uma pessoa que organiza o lixo pouco antes de o caminhão passar.
— Temos uma despesa com isso porque a situação é nada agradável. É um retrabalho e um desperdício para nós.
No bairro Charqueadas, a reclamação é sobre a Rua Cristiano Ramos de Oliveira. Segundo uma moradora, havia contêineres no local, mas eles foram retirados. Um lixão formou-se no local.
— Tem muitos ratos, é perigoso pela transmissão de doenças — lamenta.
Diretor da Codeca garante que sobras devem ser recolhidas
Faz parte do trabalho da Companhia não deixar o lixo para trás. A garantia é do diretor Operacional, Rafael Tregansin. Segundo ele, nas regiões onde o serviço é mecanizado há equipes do setor de varrição que devem estar atentas ao lixo despejado para colocar corretamente dentro dos contêineres. Já nos locais onde a coleta é manual, são os próprios coletores que devem recolher todos os resíduos, mesmo de sacolas rasgadas.
— Faz parte do trabalho. Não é porque está fora que vamos deixar de recolher. Se foi aberto por algum catador ou algum morador que colocou aberto, é recolhido também — diz.
Questionado sobre o caso da Linha 40, em que moradores pagam do próprio bolso para ter o lixo organizado e, assim, possivelmente recolhido, Tregansin responde:
— No momento que existe uma colocação destas por parte da comunidade, precisarei averiguar o que está acontecendo. Não é para acontecer, os treinamentos são direcionados para que seja recolhido todo o lixo existente — garante.
De acordo com Tregansin, contêineres não podem estar em calçadas. O registro do bairro Jardim América também será investigado, segundo ele. Quanto à situação financeira da Codeca influenciar nos serviços, o diretor entende que é um ponto complicador.
— Nos últimos anos tivemos o envelhecimento da frota e um grande volume de manutenções a serem feitas. Se algum roteiro não ficou coberto em um dia, damos prioridade para que no dia seguinte seja feito. Estamos trabalhamos com o que temos — diz.
A Codeca já anunciou um déficit chega a R$ 30 milhões, acumulado nos últimos cinco anos. Na semana passada, as reclamações sobre os serviços de coleta e capina foram citados pelo vereador Zé Dambrós (PSB) na Câmara de Vereadores. Em abril, os parlamentares aprovaram um requerimento de autoria coletiva e encabeçado pela vereadora Denise Pessôa (PT) com mais de 30 questionamentos à Companhia. A prefeitura tem até 30 dias para encaminhar as respostas ao Legislativo. A votação ocorreu em 20 de abril.
Conforme a Codeca, é importante, ainda, observar o descarte equivocado de materiais. Nos últimos dias, foram encontrados sofás ao lado de contêineres. Nesses casos, a forma correta seria utilizar o serviço do Ecoponto. Outra situação que chamou a atenção de funcionários que atuam nas ruas foi o encontro até da cabeça de um porco despejada no chão. (Confira abaixo o antes e depois após uma das ações de limpeza na Avenida Rio Branco).
Denúncias devem continuar sendo efetuadas por meio do canal Alô Codeca pelo telefone (54) 3224-800o ou por meio deste link.