Após seis anos vivendo de perto o desafio de ter um filho com paralisia cerebral, Rafael Gomez Bado, 38 anos, resolveu lutar por um ideal que beneficie todas as crianças com algum tipo de limitação em Caxias do Sul. Ele quer que a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), conhecida pelas campanhas TeleTon, abra uma unidade no município. Para isso, ele e o amigo Vitor Vaz Goulart criaram uma petição que coleta assinaturas online em prol da causa. Com sede em São Paulo, a AACD é uma associação sem fins lucrativos que tem como missão tratar, reabilitar e integrar à sociedade portadores de deficiência física. .
De 20 de março até esta quinta-feira (8), Bado e Goulart conseguiram 644 adesões, mas a meta é muito maior. Bado pretende coletar 10 mil assinaturas ainda neste ano. A ideia começou por conta da sua experiência com Henrique, gêmeo de Miguel.
Henrique tem principalmente limitações de locomoção.
— Os dois (gêmeos) usam marca-passo desde o nascimento. O Henrique teve, no nascimento, uma falta de oxigenação no cérebro. Ele tem paralisia tetraplégica então não fica nem sentado — explica.
Para criar uma nova associação, os trâmites burocráticos esbarrariam em anos de tentativa. Como a AACD está atuante 70 anos, haveria maior praticidade para dar a largada aos serviços.
— A ideia surgiu no ano passado quando pensamos em trazer esse atendimento para Caxias. O foco seria não apenas crianças, mas adolescentes e pessoas que sofreram algum acidente e precisam de reabilitação. Precisamos mostrar que há interesse da população para isso. Mesmo que você não tenha um filho deficiente, nos ajude nesse movimento! — pede.
Conforme Bado, a AACD centralizaria todos os atendimento em um mesmo lugar.
— Tenho a ciência do quanto é difícil o deslocamento com a criança para locais diferentes da cidade para atendimento. Fica difícil principalmente para aqueles que não têm condições — afirma.
Para o técnico em eletrônica, Vitor Vaz Goulart, 36, a iniciativa é mais do que bem-vinda para a comunidade. Gourlat é pai de Laura, dez anos. Ela nasceu com 27 semanas e menos de um quilo e possui uma lesão cerebral que acabou ocasionando paralisia no lado direito do corpo e afetando a fala.
— No meu caso, minha filha faz fisioterapia na Apae duas vezes por semana. Algumas fisioterapias respiratórias são feitas de forma particular, assim como fonoaudióloga. Seria interessante que houvesse um lugar central, sabemos dessa necessidade — diz.
Doação de terreno
Assim que o abaixo-assinado for concluído, o documento será entregue na Câmara de Vereadores. Para aprovação da abertura de unidade da AACD na sede em São Paulo, é necessário mostrar interesse da cidade. Na página virtual em que o projeto é apresentado, é possível conferir que os organizadores já pedem doação de uma área por parte do prefeito Adiló Didomenico (PSDB). O projeto conta, ainda, com apoio do frei Jaime Bettega e de Marcelo Fortuna, que já atuou em projetos de acessibilidade da prefeitura.
A entidade realiza atendimento pelo SUS e conta com apoio da iniciativa privada e poder público. Porto Alegre é um dos nove municípios fora do Estado paulista com uma unidade aberta. A única AACD no Rio Grande do Sul funciona na Capital desde 2000. Fora das cinco unidades em São Paulo há, ainda, uma em Recife (PE) e duas em Minas Gerais.
A página para aderir às assinaturas pode ser acessada aqui. Dúvidas podem ser esclarecidas pelo WhatsApp: (54) 9.9634-5026.
Mais de 23 mil pessoas com limitações em Caxias
Segundo a titular da Coordenadoria de Acessibilidade, Lucélia Amaral Gomes, os últimos dados do IBGE apontam que pelo menos 23% da população caxiense tem algum tipo de deficiência. O censo, no entanto, é ainda de 2010. Como a pesquisa é realizada a cada dez anos, a que ocorreria em 2020 não foi efetuada em função da pandemia.
Os principais pontos de apoio em Caxias ainda são a Apae e o Centro Clínico, no Bloco 70 da Universidade de Caxias do Sul. Segundo a servidora municipal Cassandra Gomes Ramos, 39, da Coordenadoria de Acessibilidade, a UCS acaba reunindo a maior parte dos interessados já que o perfil do atendimento da Apae seria mais relacionado à deficiência intelectual. Cadeirante, ela ressalta que a demanda é grande e a estrutura é pequena para Caxias.
Segundo Cassandra, para que uma pessoa consiga uma cadeira de rodas, por exemplo, a média de tempo é de um ano.
— Hoje quem precisa de uma cadeira precisa primeiramente ir na Unidade Básica de Saúde fazer a solicitação. Depois, vai para uma central de agendamento que pode levar até seis meses para chegar ao centro clínico (da UCS). É feita, então, uma avaliação. Se for constatada a necessidade, leva até quatro meses para conseguir. Dá quase um ano para acessar o equipamento — explica.