Área simbólica na história de Caxias do Sul, o largo da Estação Férrea pode se tornar, nos próximos anos, uma referência como área de convívio e exploração do espaço urbano. Esse o objetivo de um projeto que busca requalificar a região do bairro São Pelegrino por onde décadas circulou o trem que elevou Caxias à categoria de cidade. O objetivo é buscar investimentos junto à iniciativa privada para não só revitalizar a área, mas também tornar o espaço atrativo à população por um longo prazo.
Os primeiros passos para o desenvolvimento do projeto foram dados na última semana, com a visita de secretários municipais ao complexo. Também participaram da reunião empreendedores da região e representantes do Mobi Caxias e dos projetos Vivacidade e São Pelegrino, que propõem melhor aproveitamento do espaço urbano, com incentivo à convivência.
As primeiras conversas tiveram como ponto de partida um projeto que já vinha sendo desenvolvido pelo município, mas ainda estava em fase pouco avançada. O esboço previa a criação de um boulevard, aproveitando as edificações, além da implantação de uma concha acústica e de uma vila gastronômica.
Segundo o secretário de Gestão, Finanças e Parcerias Estratégicas, Maurício Batista, a ideia será avaliada, mas as ações que, de fato, sairão do papel dependem da estruturação da parceria público-privada (PPP) proposta para o local. Para isso, a intenção é ouvir não só os movimentos ligados ao desenvolvimento e requalificação urbana, mas a comunidade como um todo. Um chamamento público está previsto para o fim do terceiro trimestre para colher ideias para o projeto.
A ideia é conceder o espaço para que a iniciativa privada faça a revitalização e a manutenção, em troca de obtenção de receitas com atividades. Para que a parceria funcione, porém, é preciso ter um modelo bem definido, que garanta receita suficiente ao investidor e seja atrativo ao público. Outros modelos de parceria, contudo, não estão descartadas.
— Temos a intenção de conceder porque entendemos que o privado consegue fazer melhor do que o publico, desde que seja tudo realizado com transparência, com regras. Qualquer projeto vai contemplar revitalização urbanística, aproveitamento viário, iluminação, que pode ser cênica, e segurança. Ao fim e ao cabo, queremos um projeto que a comunidade queira e aproveite — explica Batista.
Uma vez definida a destinação que se pretende dar à área, começa a estruturação do projeto em si, a fim de captar investidores. Caso haja viabilidade financeira, a intenção é também incluir na parceria as praças do Trem e das Feiras. Os espaços foram criados nos últimos anos, mas já sofrem com a ação de vândalos. A expectativa inicial é de que o contrato possa ser assinado no fim de 2022, caso seja viável.
Só revitalização não basta
A ideia de criar uma PPP para aproveitamento da Estação Férrea é vista com bons olhos por empreendedores e movimentos ligados à ocupação urbana. A aposta é que a exploração privada dentro de regras que respeitem a vocação do espaço permita a manutenção constante da área e atraia um público permanente para a estação. Por consequência, essa convivência urbana também gera mais segurança para o entorno.
Uma das principais apostas nesse sentido é criar atrativos gastronômicos, perfil que o complexo Moinho da Estação, logo ao lado, já busca implantar.
— É um espaço que não é ocupado ou é ocupado de forma desordeira. Temos a Praça do Trem e das Feiras que não são tão bem ocupadas, não têm boa funcionalidade. A PPP é a melhor saída. Se a ideia for à frente, conseguimos vislumbrar melhor ocupação, segurança efetiva e o poder público pode trazer os empreendedores para perto — defende Gustavo Gazzola, proprietário do Zero54 e da Shelter Pizzaria Bar.
Para Giovana Ulian, uma das coordenadoras do Projeto São Pelegrino, a gastronomia é uma das possibilidade, mas não a única. Por isso, a elaboração de um projeto consistente permitirá identificar os potenciais da região e, consequentemente, oportunidades de geração de receita com atração de público.
— Imaginamos que esse é o caminho. Como ele será percorrido é que é importante. Toda a simbologia que esse local tem vai ser muito importante para Caxias. Quem não respeita seu legado não sabe para onde ir. Talvez recursos públicos dessem conta de revitalizar a infraestrutura, mas não de operar e manter. A gastronomia já é uma resposta, mas também pode ser trabalhado algo de economia criativa. O turismo é uma consequência — avalia.
Tiago Fiamenghi, co-fundador do movimento Vivacidade, também aposta que a estruturação do modelo de negócio é o maior desafio a partir de agora.
— Entendo que a transformação da estação em área de serviços é o que vai atrair o público. O desafio do projeto é levar vida cotidiana para a estação. No momento em que a regra ficar clara, interessados não vão faltar. Aquela área como um todo passa a ser atraente para novos negócios. Não precisa ser só gastronomia, pode ser economia criativa, tecnologia. A complementação de atividades pode ser o grande trunfo do projeto — destaca.