O Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves anunciou, na tarde desta quinta-feira (25), que está suspendendo as cirurgias oncológicas porque está com baixo estoque de medicamentos. Um deles, o atracúrio, acabou nesta quinta. Por isso, a instituição só consegue atender aos pacientes internados. O hospital tem 45 leitos de UTI e tem tido média entre 65 e 70 pacientes críticos necessitando de medicação diariamente.
– Esse cancelamento é decorrente da falta de medicações. Não temos suficiente para fazer as cirurgias e tratar os pacientes que se encontram em estado crítico – disse o administrador do hospital, Hilton Manfio, em entrevista coletiva no final da tarde.
O Tacchini tentou comprar essa e outras drogas do fornecedor, sem sucesso. O gestor referiu o que chamou de "confisco de medicações" por parte do Ministério da Saúde. Na semana passada, o governo federal requisitou aos fabricantes todo o estoque das drogas utilizadas para a entubação de pacientes. O Ministério ficará responsável pela distribuição para hospitais e UPAs do país. O administrador do Tacchini disse que não sabe quando o hospital, que atende tanto a convênios quanto pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a pessoas de 29 municípios da região, receberá medicamentos do governo federal.
– Hoje terminamos com a droga que é a primeira escolha para pacientes em estado crítico dentro da nossa UTI. É um quadro de bastante incerteza – lamentou Manfio.
O hospital tenta importar o medicamento, mas o prazo leva em torno de 20 dias, em um momento em que o estoque do hospital já está restrito. Outros medicamentos devem terminar nos próximos dias. Segundo Manfio, já existe troca de informações entre hospitais para cedência. O Hospital São Roque, em Carlos Barbosa, administrado pelo Tacchini, também ficou sem o remédio.
A diretora técnica do Tacchini, Roberta Pozza, definiu a situação como "muito crítica" e explicou que esses medicamentos são bloqueadores neuromusculares que servem para evitar que as pessoas entubadas gerem qualquer estímulo. Eles são usados em pacientes com quadro grave de covid que estão com pneumonia viral, com comprometimento superior a 50% do pulmão e precisam estar ligados a um ventilador mecânico para respirar.
– Em quadros muito graves de pneumonia, quando a troca de oxigênio fica prejudicada, precisamos bloquear qualquer tipo de estímulo que o paciente possa fazer. Não basta dar um medicamento para ele ficar sonolento, dormir, inclusive, gerar amnésia daquele sofrimento momentâneo. Não basta dar medicamentos muito potentes para tratar a dor, porque estar com tubo na garganta pode gerar dor, desconforto e sensação de náusea, de acordo com a agitação, precisa gerar um bloqueio neuromuscular, ele não pode ter estímulo nenhum – explicou a médica.
Além do aumento de pacientes, o que demanda maior quantidade de medicamentos, houve o aumento individual do consumo pelo perfil de obesidade dos pacientes, já que pessoas mais pesadas necessitam de volume maior. O hospital tem planos de utilização de outros medicamentos em substituição ao que acabou nesta quinta por cerca de três semanas. A expectativa é que nesse período haja o reabastecimento.
–Nós desconhecemos quais critérios serão adotados para a distribuição dessas drogas que foram apreendidas. O que podemos informar é que o Ministério sabe a nossa demanda semanal e mensal, porque recebe nossos relatórios todas as semanas. Essa droga que faltou hoje, em 2019, consumíamos 200 ampolas por mês, no mês de março, são 32 mil ampolas – informou Manfio.
O Tacchini anunciou colapso no hospital de Bento no dia 6 deste mês. Desde então, a orientação aos moradores da cidade, sejam usuários do sistema público de saúde ou privado, é que, diante de sintomas da covi-19, procurem a UPA 24h, no bairro Botafogo.
O Ministério da Saúde divulgou que, na noite desta quinta, chegaria um lote de 165 mil doses de sedativos essenciais para entubação dos pacientes com covid-19 da farmacêutica União Química. Assim que as entregas chegarem aos estados, caberá aos gestores locais organizarem e distribuição dos medicamentos aos município e estabelecimentos de saúde, conforme suas demandas e realidades. O abastecimento deverá ser tanto para hospitais públicos quanto para hospitais privados. O acordo com a União Química é de que até 30 de março sejam entregues 1,4 milhão de unidades de sedativos e bloqueadores neuromusculares. O Ministério também firmou acordo com outras duas indústrias, a Cristália que deve entregar 1,2 milhão de unidades até o fim do mês, e com a Eurofarma, que acordou o envio de 212 mil unidades.