A região da macroserra, que tem Caxias do Sul como a maior cidade entre as 49 que a compõe, possui 27 hospitais, com um total de 341 leitos de UTI adulto. Por consequência, todos com ventiladores mecânicos, que é um dos aparelhos necessários para configurar um leito de tratamento intensivo. Por mais que os dados estaduais apontem que nem todos esses equipamentos estejam sendo usados neste momento – o painel da Secretaria Estadual da Saúde (SES) informa o uso de 295 (86,5%), hospitais e especialistas da área da saúde afirmam que não há aparelhos sobrando, porque todos os leitos de UTI estão com ocupação acima dos 100% na região – 104,3% nas vagas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com oito pacientes a mais do que número de vagas, e 120,6% na rede privada, 32 a mais.
A relação que se faz é que os pacientes que, neste exato momento, ocupam um leito de UTI mas não estão precisando da ventilação (46 dos 341) podem vir a precisar no instante seguinte, caso tenham piora no quadro de saúde. Ainda existem outros pacientes que estão fora de UTIs, mas já em ventilação, aguardando uma vaga. Por isso, o número total de ventiladores é de 424 na Serra. Essa diferença de 83 equipamentos está alocada em outras áreas dos hospitais, como salas de recuperação, por exemplo. Não existe uma contagem de quantos desses estão ocupados. Também não é possível dizer que todas as 40 pessoas que são contadas como pacientes extras de UTI, ainda sem leitos, estejam em ventilação, mas muitas delas estão.
– A maioria dos que estão fora dos leitos, em regime de UTI nas emergências ou nas UPAs, está em ventilação – comentou Cláudia Daniel, coordenadora regional de Saúde.
O que alguns dos hospitais de Caxias dizem é que operam no limite e que pode sim vir a faltar ventiladores mecânicos para pacientes caso o ritmo de internações siga como está atualmente. Na Serra, a média dos últimos 10 dias é de 37 internações hospitalares entre suspeitos e confirmados com covid-19, tendo como base dados da SES.
A infectologista Viviane Buffon, do Hospital Geral de Caxias, diz que a situação é preocupante:
– Nossa situação é bem crítica. Estamos com ocupação de quase 100% dos ventiladores disponíveis na instituição. Estamos fazendo inúmeros esforços na assistência para não deixar ninguém sem atendimento.
O Hospital Pompéia e o Virvi Ramos, que atendem SUS e convênios, informaram que não há risco de falta, mas atuam no limite. O Virvi Ramos tem 38 ventiladores. Todos estão ocupados e existe a possibilidade de serem usados cinco carrinhos anestésicos como ventiladores.
O Hospital da Unimed, da rede privada, disse que remanejou ventiladores de unidades de Bento Gonçalves e Farroupilha para Caxias, comprou sete novos na semana passada, somando 59, e tenta adquirir mais.
– Recrutamos os ventiladores que a medicina domiciliar estava usando e de todos os setores do hospital, junto com carrinhos anestésicos. Mas, existe sim a possibilidade de falta. Essa é uma preocupação dentro da instituição. Estamos procurando no mercado mais ventiladores que tolerem a ventilação pesada que exige o paciente covid – declarou o diretor-técnico da Unimed, Vinicius Lain, explicando que os carrinhos servem para ventilações básicas e não intensas.
O Hospital Tacchini, único da segunda maior cidade da região, Bento Gonçalves, tem 54 ventiladores mecânicos e, na tarde de ontem, tinha 44 com pacientes em uso. A instituição explica que não há sobra de aparelhos porque existem oito pacientes com quadro crítico que podem necessitar de intubação a qualquer momento.
Considerando a classificação que o governo faz das 21 regiões epidemiológicas em que o Estado foi dividido, a macroserra tem colocação em relação a ocupação de leitos de UTI adulto, leitos fora de UTI e ventiladores mecânicos semelhante a Porto Alegre, reservadas as proporções. A Serra está em situação pior do que três regiões do Norte do Estado, com exceção de Ijuí. Está melhor do que Novo Hamburgo e Lajeado.
Estado pede que hospitais que tenham equipamentos sobrando emprestem a outros que estão com falta
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) e o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems) criaram um mecanismo para que instituições de saúde que tenham respiradores, monitores e até de camas possam emprestar os equipamentos. Dirigentes de hospitais devem preencher um formulário e indicar se têm algum tipo de equipamento disponível. A SES e o Cosems irão compartilhar as informações e agilizar os empréstimos.
– Possivelmente ainda há, em alguns hospitais que não têm UTI, equipamentos sem uso que possam ser emprestados a hospitais com UTI, que estão com lotações muito altas – disse por meio de nota, a secretária da Saúde, Arita Bergmann.
A SES informou que já comprou e distribuiu 230 camas, 230 respiradores e 230 monitores para instituições hospitalares, com investimento de R$ 17 milhões desde o início da pandemia, e está adquirindo mais 60 monitores, 60 respiradores beira-leito e 57 camas para equipar leitos existentes ou abrir novos. Além disso, quase 200 respiradores foram consertados e devolvidos aos hospitais, numa parceria do Estado com GM e Instituto Cultural Floresta. O Ministério da Saúde, por sua vez, já enviou ao Rio Grande do Sul mais de mil respiradores, a maior parte deles do modelo beira-leito.
O formulário pode ser preenchido no site encurtador.com.br/bivEF.
Em Caxias, prefeitura pode usar ambulâncias do Samu para pacientes que esperem vagas
Quando a capacidade de internação nas unidades de pronto-atendimento (UPAs) de Caxias ultrapassou os 120% no último sábado, a prefeitura anunciou que poderia usar as ambulâncias do Samu para manter os pacientes que aguardavam vagas em leitos de tratamento intensivo. A medida não chegou a ser utilizada no final de semana e a situação, felizmente, melhorou nesta segunda-feira (8). Mesmo assim, a UPA Central, que é referência para pessoas com síndrome respiratória, estava com todos os 25 leitos de observação e os quatro de emergência ocupados (dois com ventilação mecânica e dois com ventilação não invasiva). Do total, apenas para cinco ainda não havia sido necessário solicitar leito em UTI. Já a UPA Zona Norte, referência para casos clínicos não relacionados à covid-19, estava com seis pacientes para as quatro vagas na emergência clínica e um para as quatro vagas da emergência covid nesta segunda.
– Era uma possibilidade que tínhamos no sábado pelo aumento súbito de demanda. Quando acontece de ter muito paciente e sobrecarga das nossas UPAs, não temos para onde encaminhar esses pacientes, os médicos não conseguem receber em tempo hábil e pode acontecer de represar nas ambulâncias do Samu sim. É uma situação extremamente crítica, mas se vislumbrou essa possibilidade – desabafa o diretor da rede municipal de Urgência e Emergência, Fabio Baldisserotto.
A cidade tem dois veículos do Samu do tipo avançado, que tem ventiladores mecânicos e médicos na equipe para fazer o monitoramento. Uma terceira ambulância (reserva) pode ser colocada em funcionamento para atender os casos de urgências rotineiros do serviço caso seja necessário utilizar as ambulâncias para pacientes covid-19. O município também pode fazer parcerias com outros serviços de ambulâncias que atuam na cidade.
A média de atendimentos na tenda montada em frente à UPA Central é de 140 por dia. Na UPA Zona Norte é de 120. Baldisserotto garante que, apesar da demanda, o município não enfrenta problema de abastecimento de oxigênio. Porém, a rede (tubulação) do gás nas unidades não foi projetada para uma demanda excessiva por isso, não teria como ampliar a capacidade das emergências. O maior déficit, segundo o gestor público, é o de pessoal.
– Teríamos até condições de ter mais leitos, mas não temos mais equipes para suportar o que temos de serviços hoje. Os profissionais estão adoecendo, estão física e emocionalmente destruídos. Perdemos muito a força de trabalho. Não temos de onde chamar mais pessoas.
Atualmente, os pacientes chegam a ficar de quatro a cinco dias na emergência das UPAs aguardando leitos de UTI nos hospitais.
– Mesmo quando surge o leito, às vezes, temos um paciente com condições melhores de sobreviver, que a Central de Leitos acaba escolhendo. É uma situação desumana, mas é a realidade. Já estamos enfrentando isso há algum tempo – lamenta Baldisserotto.