Um equipamento fundamental no tratamento de casos graves de covid-19 tem protagonizado muitos discursos de autoridades da saúde nas últimas semanas, tanto pela falta quanto pelo custo, o ventilador mecânico. Pois é, ventilador e não respirador. Frequentemente usados como sinônimos, os termos têm significados diferente. O respirador é a máscara que serve como filtro para os profissionais da saúde que trabalham no combate à pandemia, a exemplo da N95, chamada de bico de pato.
Já o aparelho ao qual os governos buscam incessantemente desde que o coronavírus se disseminou pelo mundo é o ventilador mecânico, uma máquina que bombeia oxigênio para os pulmões e retira gás carbônico, auxiliando a pessoa que, pela gravidade do quadro de infecção, perdeu a capacidade de respirar por conta própria.
Os ventiladores são componentes dos leitos de UTI, junto com a cama e os monitores, entre outros. No cenário atual, a falta de ventiladores mecânicos significa o mesmo que dizer que não há leitos de cuidados intensivos suficientes para atender um número grande de doentes ao mesmo tempo. A dificuldade de aquisição de ventiladores é vivida tanto pelo governo federal quanto pelos estaduais e municipais e por governantes de vários países. O motivo é que, em função da pandemia, esses aparelhos desapareceram do mercado. Somado a isso, o preço que girava em torno de R$ 50 mil a R$ 60 mil a unidade, dependendo da marca, agora é vendido por até três vezes mais, R$ 180 mil. No total, um leito completo de UTI, antes da covid-19, custava, em média R$ 180 mil. Atualmente, estaria em torno de R$ 250 mil e R$ 300 mil.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a recomendação é que os municípios tenham de um a três leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) para cada 10 mil habitantes. Seguindo esta orientação, em que um é o mínimo e três o ideal, e considerando a população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para Caxias do Sul em 2019, de 510 mil habitantes, o número mínimo para o município seria 51 leitos de cuidados intensivos e o ideal 153. Caxias tem 100, somando os direcionados ao Sistema Único de Saúde (SUS) e os usados para pacientes de convênios. Portanto, a cidade tem quase dois leitos de UTI para cada 10 mil habitantes, mais do que o mínimo e menos do que o ideal.
"Tudo vai depender da velocidade da doença"
Questionada sobre qual a necessidade que o município tem de ventiladores mecânicos para passar pela pandemia, a titular da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (5ª CRS), Tatiane Fiorio, disse que não há um número exato:
– Tudo vai depender da velocidade da doença. Se conseguirmos fazer o achatamento da curva, como estamos insistindo com as pessoas, vamos ter uma disseminação mais lenta e aí conseguimos dar conta de atender a população conforme ela for adoecendo dentro da capacidade instalada que teremos. Agora, se essa curva for muito rápida, subir muito rapidamente, não tem como fazer esse cálculo. Não existe sistema de saúde no mundo que dê conta de um quantitativo tão grande ao mesmo tempo.
A situação piora quando se considera a região toda.
– Temos um déficit de leitos de UTI. Na Macro Serra (que inclui 49 municípios) temos um para cada 10 mil habitantes – aponta a coordenadora.
Nos próximos dias, Caxias deve receber mais 12 a 15 leitos desse tipo. Eles estão entre as medidas anunciadas pelo Ministério da Saúde e Secretaria Estadual da Saúde que adquiriram e estão habilitando e equipando novos leitos de UTI à medida que recebem os equipamentos.
Ampliação esbarra no investimento
Para manter a estrutura funcionando, o governo federal ampliou, na última quarta-feira, dia 8, em caráter excepcional, o valor da diária repassada pelo SUS de R$ 800 para R$ 1,6 mil por leito de UTI de paciente infectado por coronavírus. Mesmo assim, segundo a diretora executiva do Hospital Virvi Ramos, Cleciane Doncatto Simsen, o valor é menos da metade do necessário:
– Esta patologia requer o uso de muitos EPIs por profissionais, e estes insumos estão com preços muito acima do que eram praticados antes do coronavírus.
A instituição tem 10 leitos de UTI – seis para convênios e quatro SUS. Há outros oito estruturados para a pandemia, sendo que ainda está em negociação o número que será SUS e os que serão para convênio.
Além disso, a de se considerar o investimento na contratação de mais profissionais para montar as equipes e para substituir afastamentos que poderão ocorrer em decorrência de colaboradores que forem acometidos pela doença.
Na luta contra o novo vírus, os municípios também vão contar com incentivos federais e estaduais, emendas parlamentares, recursos destinados pela Justiça e outros órgãos, além da ajuda da comunidade e de grupos empresarias que organizam campanhas, como a CIC.
Alternativa em testes
Uma alternativa para driblar a falta de ventiladores mecânicos é o equipamento desenvolvido por um grupo composto por engenheiros, técnicos e empresários, na Universidade de Caxias do Sul, por meio de seu Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação (TecnoUCS) e Hospital Geral (HG). O protótipo foi desenvolvido em 12 dias e apresentado na última quarta-feira. O TecnoUCS estima a produção industrial de 300 unidades, no período de quatro a cinco semanas. Porém, antes disso, o aparelho precisa da autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), ligada ao Ministério da Saúde, para testagem clínica (com pacientes em ambiente hospitalar).