A dificuldade de hospitais adquirirem medicamentos essenciais para manter pacientes com covid-19 entubados nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) e em leitos com respiradores já tem reflexos nas instituições de saúde da Serra. Administradores de hospitais consultados pela reportagem relatam escassez dos produtos do chamado "kit entubação" — sedativos, relaxantes musculares e bloqueadores neuromusculares usados para realizar o procedimento para respiração mecânica. A preocupação em zerar os estoques já é realidade e há relato de pacientes que são mantidos sedados, mas sem receber relaxante muscular, por exemplo.
Em Caxias do Sul, a direção do Hospital Pompéia considera a situação crítica, com suprimentos pelos próximos 15 dias. A instituição entrou com ação junto à Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAPH) e a federação das Santas Casas para compra por importação. No Hospital Geral, há estoque - não há uma estimativa de prazo - mas os fornecedores já avisaram que não sabem quando irão começar a enviar os novos pedidos por remédios.
— Temos 47 entubados e taxa de ocupação acima dos 100%. Estamos com sérias dificuldades na aquisição dos bloqueadores neurais, que são os anestésicos. Nosso setor de compras faz contato diários com farmacêuticas, mas afirmam que só conseguirão normalizar essa situação a partir da metade de abril — diz o diretor do HG, Sandro Junqueira.
O diretor afirma que os laboratórios afirmam que uma grande quantidade de medicamentos foi solicitada pelo Ministério da Saúde.
— Estamos em contato com a Secretaria Estadual da Saúde e Brasília, uma vez que o Ministério solicitou uma série de medicamentos diretamente aos laboratórios. Queremos entender como irá se dar essa distribuição aos hospitais. Em curto espaço de tempo poderá faltar — alerta Junqueira.
No Hospital São Carlos, em Farroupilha, a administradora Janete Toigo relata que há escassez de todos os bloqueadores neuromusculares e antibióticos para tratamento de covid e que não há previsão de fornecimento pelos fabricantes. Ela afirma que a situação é crítica, porque não há estoque:
— Não tem o que fazer porque a gente está diariamente reunido com os outros hospitais, inclusive tentando até importar, mas está complicadíssimo. Essa medicação é muito importante e estamos fazendo tudo para, ao menos, receber em “pinga-pinga”— destaca Janete.
No Hospital de Veranópolis, a informação é de que há falta de relaxantes musculares e estoque mínimo para alguns sedativos. Desta forma, alguns pacientes estão sedados, mas sem receber relaxante muscular.
De acordo com o médico-chefe da Comissão de Farmácia e Terapêutica do Complexo Hospitalar Unimed, em Caxias, Mauro Bertelli, nas últimas duas semanas foi atingido mais de 300% do consumo habitual. A média de pacientes em ventilação mecânica é de 70 no Hospital da Unimed.
— O perfil dos pacientes que vem entrando no hospital agora são mais jovens, portanto, de maior tempo de permanência e que vão demandar maior consumo de medicamentos. Alguns laboratórios não têm mais estoque o que nos leva a procurar medicamentos importados para suprir a demanda. A única maneira a curto prazo é a diminuição da incidência de novos casos de UTI — destaca.
O Hospital do Círculo, também em Caxias, informa que a situação é normalizada até esta quarta-feira (24). Já no Hospital Virvi Ramos, há medicamentos apenas para alguns dias, sem previsão exata.
A titular da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde da Saúde, Claudia Daniel reforça a informação de que ainda não há falta, mas considera o nível de estoques crítico.
Confira a situação relatada por administradores de outros hospitais da região:
- Hospital São José, em Antônio Prado - Há alguns sedativos em falta e são alternadamente substituídos por outros, conforme a direção.
- Hospital de Canela: "Estamos com grande dificuldade de reposição, assim como nos demais locais. Estamos tentando, mas é uma luta. Tem um estoque básico para manter os pacientes até a próxima semana. Mas o que acontece é que a gente faz a compra hoje e às vezes leva duas semanas para ser entregue", relata o administrador Rogério Novaes dos Santos.
- Hospital Nossa Senhora de Fátima, em Flores da Cunha - Estoque baixo e sem previsão de reposição.
- Hospital São Pedro, em Garibaldi - "Estamos praticamente cotando todos os dias os medicamentos do 'kit entubação'. Não zerei estoque de nenhum até agora. Percebemos um valor muito maior, isso quando aparece a opção em alguma distribuidora e com pagamento à vista. Da indústria, acabamos tendo que entrar numa lista de espera, sem previsão de entrega. Quando consegue, é um número menor do que o solicitado." (Rafael Biondo, gerente operacional)
- Hospital de Guaporé - Há um paciente entubado e, por isso, há previsão de medicamentos disponíveis por dez dias.
- Hospital Nossa Senhora de Lourdes, em Nova Bassano: não há falta de medicamentos.
- Hospital São João Batista, em Nova Prata - "A falta de remédios usados em pacientes em ventilação mecânica está próxima. Não conseguimos comprar a medicação e no mercado externo para importação também não está disponível".(Marcos Santori, administrador do hospital)
- Hospital Nova Petrópolis: há um paciente entubado, com estoque de medicação para quatro dias. Também há dificuldade para conseguir reposição.
- Hospital São João Bosco, em São Marcos: estoques no limite, sem perspectiva para reposição por parte dos fornecedores.