A falta de leitos de UTI na Serra eleva a cada dia o número de mortes de pacientes à espera de uma vaga em hospitais da região. Já são 29 mortes de pessoas contaminadas com covid -19 que não resistiram às complicações da doença e morreram antes de conseguir uma vaga em uma unidade de tratamento intensivo entre janeiro e março. O último caso foi registrado em Nova Prata: uma mulher de 60 anos morreu na segunda-feira (22) enquanto esperava transferência pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para uma unidade de tratamento intensivo. Ela ficou 14 dias internada no hospital São João Batista, entubada, à espera de um leito. Sem UTI, o hospital depende da liberação de vagas em demais hospitais da região, mas com o aumento dos casos de covid-19 não há leitos disponíveis.
Em Antônio Prado um homem de 60 anos também morreu à espera de um leito de UTI. Ele foi internado com covid-19 no dia 12 de março no Hospital São José. O quadro do paciente se agravou, ele foi entubado e continuou na instituição. Essa é a primeira morte por falta de leito de UTI na cidade. Os números podem ser ainda maiores, uma vez o levantamento da reportagem diz respeito apenas aos 25 hospitais dos municípios que integram a área de abrangência da 5ª Coordenaria Regional de Saúde (CRS). Além disso, há pacientes que conseguiram leitos, mas morreram logo após serem transferidos ou ainda na ambulância, a caminho de outro hospital.
No Hospital São João Batista, seis pessoas estão entubadas enquanto aguardam leito de UTI pelo SUS, sendo que há pacientes que esperam há 12 dias por uma vaga.
— Tivemos transferência de pacientes com convênio para hospitais de Pelotas, Porto Alegre, Novo Hamburgo e Montenegro. Pelo SUS, as últimas remoções foram para o Hospital Geral em Caxias do Sul e para o Nossa Senhora da Oliveira em Vacaria. Não estamos conseguindo vaga pelo SUS. Tenho paciente no hospital internado há 12 dias à espera de vaga em UTI — lamenta o administrador do hospital Marcos Santori.
Santori ressalta que até semana passada cerca de 30 pacientes estavam internados com covid-19 e, apesar desse número baixar, ainda segue alto o número de pessoas entubadas que precisam de transferência para um espaço apropriado. O hospital conta com uma ala especial no pronto-atendimento, onde podem ficar até 11 pacientes em ventilação mecânica, mas caso o quadro agrave, não há estrutura para esse atendimento.
— Estamos com dez internados, mas os graves seguimos com o mesmo quadro, cerca de seis a sete, e o que nos preocupa é que ele vão precisar de transferência logo adiante. Fazemos todos os esforços, mas os pacientes precisam de um leito de tratamento intensivo — aponta.
Outra preocupação é a falta de medicamentos para manter a sedação dos pacientes. Apenas um laboratório no Brasil produz a medicação e o Ministério da Saúde comprou o estoque disponível:
— Eu peço as pessoas que se cuidem: não há leitos suficientes e a falta de remédios usados em pacientes em ventilação mecânica está próxima. Não conseguimos comprar a medicação e no mercado externo para exportação também não está disponível.
Santori desabafa:
— Se o Ministério da Saúde não distribuir essa medicação, nós não teremos como manter os pacientes sedados. Temos estoque para em torno de 20 a 25 dias para os pacientes que estão internados, mas se aumentar a quantidade de pacientes em ventilação mecânica diminui o tempo que irá durar o estoque.
Unimed se organizou para transferir pacientes
A gerente administrativa da Unimed Vale das Antas, Luciane Donin, ressalta que as transferência do hospital de Nova Prata foram possíveis porque a operadora de saúde se preparou ainda no ano passado para o colapso nos hospitais:
— O sistema Unimed no RS se organizou em 2020 com leitos de contingência, então, os nossos pacientes são redirecionadas para esse leitos, e isso só é possível, porque estamos tratando de leitos de saúde suplementar para quem tem convênio conosco.
Ela conta que não há pacientes conveniados à espera de leito
— Hoje nós não temos pacientes na fila aguardando leito porque nos preparamos bem para o caso de superlotação e buscamos garantir o atendimento o mais rápido possível. Às vezes, esses pacientes são removidos e acabam indo a lugares mais distantes, mas isso é porque estamos buscando o melhor para o quadro clínico de cada um deles — explica Luciane.