Sob gerenciamento do Projeto Mão Amiga, em nova sede — Rua Sinimbu, 96, Nossa Senhora de Lourdes — o Restaurante Popular de Caxias do Sul voltou a atender de forma presencial, com almoço servido a 32 pessoas nesta segunda-feira (29). No mesmo local, 600 marmitas foram preparadas e destinadas às comunidades do Campos da Serra, Esplanada e Vila Esperança, em modelo que deverá ser mantido enquanto durar a pandemia.
O público presencial ficou abaixo do total das 200 refeições que continuarão sendo disponibilizadas, diariamente, das 11h30min às 13h, pelo valor de R$ 1. De acordo com a organização, as refeições que restaram foram destinadas a trabalhadores de uma reciclagem, no bairro Belo Horizonte, e à comunidade terapêutica Desafio Jovem. O serviço está priorizando pessoas referenciadas pelo Pop Rua, o que fez com que alguns interessados não tivessem acesso à refeição nesta segunda-feira.
Por volta das 10h30min, uma fila de cinco homens estava formada em frente ao local. Enquanto as equipes preparavam as refeições, assim como as marmitas que foram levadas para os bairros, eles não tiveram acesso ao almoço e foram orientados a aguardar um contato para a realização de cadastro. Neste grupo estava Oli Braga de Andrade, 73 anos, morador do bairro Cruzeiro e que costumava frequentar o serviço na antiga sede.
— Eu almoçava todos os dias lá e agora que reabriu eu vim porque preciso. Com essa crise do jeito que está não consigo nem comer mais — relatou à reportagem, antes de deixar o local.
De acordo com frei Jaime Bettega, idealizador do Projeto Mão Amiga, o serviço prioriza pessoas em situação de rua, atendendo ao edital do projeto, e que outras pessoas em situação de vulnerabilidade também poderão ser atendidas, após o levantamento.
— Neste primeiro momento, como ainda não temos o número exato de quantas pessoas vão precisar do almoço, foi usada esta metodologia. Depois vamos incluindo, aos poucos, outros grupos prioritários, conforme determinação do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional e da Fundação de Assistência Social (FAS) — afirmou.
O primeiro dia de atendimento foi de ajustes na estrutura física do prédio, assim como do fluxo de trabalho da equipe de cozinha, algo que acabou atrasando o início do almoço em cerca de 20 minutos. Quando as refeições começaram a ser servidas, a maior parte do público total do dia já estava no local e pessoas que não eram moradoras de rua também passaram a ser atendidas.
Segundo o frei Jaime, a procura por parte de pessoas em situação de rua pode ser maior ao longo dos próximos dias, uma vez que eles ainda estão tomando conhecimento da retomada do serviço e do novo local onde ele está sendo oferecido e as demais pessoas também continuarão sendo cadastradas.
— Estamos identificando este público aos poucos para que não voltemos a praticar o que não pensamos ser correto: dar comida a quem tem condições. E o cadastro não é somente para inibir quem tenha condições, mas também para que possamos conhecer a pessoa, e entender como podemos melhorar a realidade dela — afirma o frei.
Fome saciada
Celso dos Santos Branco, 61, que atualmente sobrevive nas ruas de Caxias do Sul, era o primeiro da fila quando os almoços começaram a ser servidos. Ele aguardava sentado na área externa do prédio, onde 80 cadeiras foram disponibilizadas para espera, uma vez que a área interna comporta 120 pessoas com o distanciamento recomendado em função da pandemia.
Ele conta que chegou a passar oito meses na Casa São Miguel e desde novembro voltou para a rua, onde tenta manter-se isolado para evitar o contágio do coronavírus, e alimentado, na medida do possível.
— Eu estava pedindo nas casas, mas nem sempre as pessoas ajudam. O Restaurante Popular vai ser de grande ajuda, porque é uma comida boa, saudável, que eu sei que vou poder ter ao menos uma vez por dia — afirma Branco.
A comida foi disponibilizada em bufê, sendo servida pelas equipes da cozinha conforme o desejo de cada frequentador. O serviço também conta com voluntários, que prestam auxílio de idosos ou outras pessoas que tenham dificuldades durante o almoço.
Mais serviços
O prédio de três andares onde está o novo Restaurante Popular de Caxias do Sul também será sede de cursos profissionalizantes que estão sendo planejados para início em breve. De acordo com o frei Jaime, 15 cursos estão sendo delineados, sendo alguns de área administrativa e outros como chapeiro e açougueiro.
Alguns cursos contarão com o espaço da cozinha disponível para a prática, uma vez que ela fica liberada sempre após as 14h. Da mesma forma, o Mão Amiga pretende otimizar o espaço, disponibilizando para grupos de iniciativas voluntárias que preparem comida para distribuição na cidade. Um levantamento está sendo realizado e passará por uma organização da FAS com o intuito de garantir melhor abrangência da população de rua, potencializando as ações que já são realizadas.
— Às vezes uma pessoa recebe dois lanches em uma mesma noite, e depois passa dias sem, porque cada grupo voluntário se organiza conforme a sua disponibilidade. Queremos valorizar essas iniciativas, ofertando o espaço da cozinha e, futuramente, quem sabe, trazendo essas pessoas para o Restaurante, criando vínculos e as encaminhando também para outros atendimentos — completa o frei Jaime.