A bandeira preta não foi o bastante para que o contágio por coronavírus reduzisse em São Francisco de Paula, na Serra. Com 30 leitos ocupados no hospital do município e 208 casos ativos - dados desta segunda-feira (15) - a prefeitura faz valer um decreto anunciado na sexta-feira (12). As normas mais rígidas entraram em vigor na madrugada. Com isso, a população fica proibida de circular pelas ruas. A exceção valerá apenas para quem apresentar justificativa aos fiscais.
Segundo o secretário municipal de Desenvolvimento, Daniel Kieling, não bastasse a preocupação do poder público, a fiscalização precisou agir em pelo menos duas grandes festas clandestinas no início da noite de domingo (14). As autuações foram realizadas com base na bandeira preta, em vigor da cidade no fim de semana. Em uma delas, cerca de 40 pessoas participavam de um baile funk. Em outro caso, em torno de 60 jovens estavam reunidos próximo à barragem da Corsan. Havia cerca de 20 veículos estacionados na localidade. O grupo foi flagrado consumindo bebida alcóolica e sem o uso de máscara.
— Nosso lockdown (termo utilizado pela prefeitura para se referir às restrições) não é culpa do comércio, da indústria, é culpa dos irresponsáveis que fazem festinha particular, aglomeração e churrasquinho na hora em que não se deve — diz Kieling.
Muitos jovens flagrados nas festas vieram de outros municípios da região. Conforme o secretário, parte do público era de Caxias, Igrejinha, Três Coroas e Canela.
As restrições valerão até que os mais de 200 casos de covid-19 ativos reduzam a pelo menos 175. Está previsto, até o final da semana, a abertura de mais leitos, o que irá fazer com que a capacidade aumente para 40. Todos os 30 leitos, exceto os psiquiátricos, estão atendendo casos de covid-19. Nesta segunda-feira, 31 pessoas estavam internadas. Mesmo sem UTI, cinco pacientes estão entubados e utilizando respiradores. Se o número de internados permanecer na média de 35 casos após a abertura de novos leitos, o item também será analisado para retorno à bandeira com menos restrições.
As regras
Com o novo decreto em vigor a partir desta segunda-feira, a abertura de mercados, açougues e outros estabelecimentos de gêneros alimentícios não pode ocorrer. O atendimento deve ser feito por telentrega. Lancherias, restaurantes, padarias e lojas de produtos para animais também terão de funcionar neste sistema. Farmácias podem operar com a presença de consumidores, mas não poderão vender perfumaria.
Hotéis devem permanecer fechados. O comércio não essencial, que na bandeira preta pode operar com telentrega, agora terá que ficar integralmente parado em São Francisco de Paula. A construção civil está proibida de funcionar e a indústria pode operar com metade dos funcionários, com exceção do setor alimentício que pode chegar a 75% dos empregos no trabalho presencial. O setor de serviços em geral, como faxinas, babás, cozinheiros, motoristas e de higiene pessoal estão suspensos. A exceção são casos em que é possível atender remotamente, como advocacia e contabilidade. A prefeitura fará apenas atendimento a distância. O decreto completo pode ser conferido aqui, clicando em Decreto 2076/202.
"O clima é de medo", relata morador
Um dos moradores do centro de São Francisco de Paula, Spencer Bossardi, 37, relata que precisou ir até ao trabalho na manhã desta segunda-feira (15) para pegar alguns pertences e iniciar o trabalho em home office. Bossardi trabalha com os setores de turismo e construção civil e, mesmo com o impacto já previsto com o fechamento da cidade, ele concorda com a medida. Em cerca de 15 minutos que gastou para o deslocamento na manhã do primeiro dia de fechamento das atividades, Bossardi constatou que o clima é de medo na cidade.
— Fico pensando, se caso me aconteça outra doença, para onde vou? O hospital está lotado. A cidade está pesada e o clima é de medo. A população foi cuidadosa desde o começo, o que acontece são essas festas que aconteceram no fim de semana, algo absurdo! Estamos temerosos do que pode acontecer — diz.
Empresários querem prorrogação do vencimento de taxas
O impacto da decisão na economia local é a maior preocupação da Associação Comercial, Industrial e Serviços de São Francisco de Paula. A presidente da entidade, Juliana Boff - que está isolada em casa após teste positivo para covid-19 - ressalta que algumas empresas poderão ter que fechar as portas de vez se o cenário permanecer. Além disso, é complicado para os setores trabalharem com as incertezas sobre o período de restrição. Para Juliana, a prefeitura demorou a agir.
— Não foi realizada fiscalização, o Largo São Bernardo era um local de festas frequentes à noite. Na própria festa de comemoração após a campanha eleitoral, foi de aglomeração. Depois disso, houve ainda dois dias decretados de feriado municipal no Carnaval — cita.
Conforme a presidente, um ofício será enviado à prefeitura nesta segunda-feira com pedido de que as datas de vencimento de taxas de impostos municipais sejam prorrogadas.
— Fomos pegos desprevenidos e as as contas e boletos estão chegando — lembra.