A situação do principal município turístico da Região das Hortênsias é preocupante e exige ainda mais cuidados após a divulgação de seis mortes por coronavírus na terça-feira (23) — um recorde de óbitos pela doença em um mesmo dia. O prefeito de Gramado, Nestor Tissot, afirma que conseguirá abrir 15 leitos clínicos destinados à covid-19 nos próximos dias. A situação, nesta quarta-feira (24), é praticamente de lotação no Hospital Arcanjo São Miguel. Segundo painel do governo do Estado, 17 pacientes estão internados em leitos de UTI adulto. No total, são 18 disponíveis. No sábado, havia três pessoas a mais do que a capacidade precisando de internação. Já na ala covid, no setor de enfermaria, a situação é de ocupação em 300% nesta quarta-feira. São nove leitos para 27 pacientes, mas todos foram realocados para outros espaços, segundo a prefeitura.
— Não é um colapso! Temos vagas e teremos mais 15 leitos como precaução. Nossas tendas atendem toda a demanda que chega. Os óbitos, é verdade, um número nunca registrado de uma só vez, mas são pessoas que estavam internadas há muito tempo, infelizmente aconteceu e nenhuma cidade ficará livre. As pessoas vem do Brasil inteiro, é difícil controlar. É a mesma situação das praias — afirma Tissot.
Das seis mortes confirmadas pela prefeitura somente da terça-feira, cinco aconteceram no mesmo dia e uma delas ocorreu no último dia 20, mas a confirmação para covid-19 foi dada na terça. O município contabiliza 61 mortes por coronavírus.
Segundo o secretário da Saúde, Jeferson Moschen, os 15 leitos poderão ser abertos porque espaços da enfermaria e outras salas serão reutilizados dentro do hospital.
— O ambulatório ampliou leitos e haverá espaço do 4º andar. Hoje estamos com uma margem de vaga (nas internações), mas próximo da lotação. Se houver necessidade teremos, ainda, o terceiro andar para poder utilizar como ala covid — afirma.
Apesar da grave situação e a classificação em bandeira preta confirmada pelo governo do Estado, o município opera com regras de bandeira vermelha. A justificativa, segundo o prefeito, é que a decisão aconteceu antes de situações como o recorde de mortes, por exemplo.
— Combinamos (com associações) uma semana antes o planejamento que previa flexibilizações. O problema grave aconteceu na terça-feira. Uma semana antes a situação estava dentro de uma normalização — diz.
Já o município de Canela decidiu por atuar em bandeira preta. Mesmo com regras mais brandas, Gramado segue o decreto estadual de funcionamento dos serviços entre 5h e 20h.
Evento de Páscoa ainda é dúvida
Apesar do anúncio sobre manter a programação de Páscoa, mesmo com restrições entre os dias 12 de março a 11 de abril, o prefeito manifesta dúvida sobre a atividade.
— Suspendemos todos os eventos do primeiro semestre que gerariam muitos empregos, afinal, vivemos disso. Temos somente a Páscoa ainda pendente, estamos na dúvida. Anunciamos a realização (na terça-feira, 23), mas se tivermos que cancelar, faremos — garante.
Em 2020, o evento não foi realizado. A Páscoa em Gramado é promovida pela prefeitura, com realização da Gramadotur e Associação da Indústria e Comércio de Chocolates de Gramado.
"As pessoas não querem se vacinar", diz prefeito
Além da situação crítica para atendimento de saúde, o prefeito manifesta outra preocupação: a negação de alguns em receber vacina.
— É incrível como as pessoas não querem se vacinar. Tem um número muito elevado de pessoas que não aceitam, isso tudo faz com que o processo demore — diz Tissot.
Os motivos são questões religiosas e por serem integrantes de movimentos naturalistas, segundo o secretário de Saúde, Jeferson Moschen. Algumas, ainda, por recomendações médicas.
Até esta quarta-feira, 2.180 doses foram enviadas a Gramado. Destas, 1.650 são da 1º dose e 530 da 2ª dose. O total de pessoas vacinadas é de 1.725. A prefeitura está imunizando idosos com mais de 83 anos em postos de saúde. A intenção é reduzir para 81 anos de acordo com a chegada de novas remessas.
De acordo com Moschen, praticamente todos os profissionais de saúde foram vacinados, além de acamados e idosos em casas asilares. Quanto à detecção de uma nova variante do vírus, encontrada em um idoso neste mês, não há confirmação de novos casos. Amostras foram encaminhadas para análise do Estado há cerca de dez dias, mas não houve resultado. O homem de 88 anos morreu no dia 12 deste mês e foi diagnosticado com P1, a variante identificada pela primeira vez no Brasil em Manaus (AM).