A morte de um idoso de 88 anos, residente de Gramado, no dia 10 de fevereiro, acendeu um alerta para todo o Rio Grande do Sul, principalmente para Serra gaúcha. A variante manauara do coronavírus, conhecida como P1, foi encontrada na amostra da vítima e deixou uma dúvida no ar: essa mutação já está circulando em território gaúcho ou seria um caso isolado?
A tendência e o que se pode analisar pelos números da Secretaria Estadual da Saúde (SES) deixam um ar mais pessimista. Segundo a prefeitura de Gramado, o idoso não tinha histórico de contato com viajantes e morava afastado do centro. As hospitalizações no município também estão crescendo e dispararam a partir de 8 de fevereiro — 48h antes do óbito —, deixando o Hospital Arcanjo São Miguel trabalhando quase que exclusivamente com pacientes covid-19. Nesta quinta-feira (18), foram contabilizados 44 pacientes positivos ou suspeitos para a doença. Ainda assim, esse crescimento não pode ser disposto como efeito da variante P1 enquanto não houver estudos conclusivos.
— É preocupante porque o achado em um senhor de 88 anos, que não tem histórico de viagem, indica que a transmissão é comunitária entre habitantes daquele local. Eles não tiveram vínculo epidemiológico com o local de origem da cepa. Isso foi detectado numa amostra pequena e é indicativo que existe a disseminação. E um rápido aumento nas internações é bastante sugestivo — destaca Alexandre Zavascki, médico infectologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O Centro de Vigilância em Saúde (Cevs) do Estado diz estar em ação tão logo o boletim genômo que identificou a cepa foi divulgado, no último sábado. Além de investigar diagnósticos anteriores à data de coleta do idoso, em 29 de janeiro, o Cevs está ampliando os testes no Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) para toda a região. O objetivo é encontrar quando (e se) a mutação está circulando na Serra. Ao mesmo tempo, o fato de um caso ter sido positivo para P1 e considerando o quanto o município recebe de pessoas diariamente, a disseminação estadual desta variante já pode ser uma realidade palpável.
— Gramado é uma cidade turística, rota de muitos gaúchos e brasileiros. O potencial de espalhar a variante para todo o Estado é muito grande — diz Zavascki, que complementa:
— No momento em que se detecta em Gramado, por característica, notícias de aglomerações e volume de pessoas, acredito que a cepa já está presente em Porto Alegre também.
Num primeiro momento é difícil traçar um quadro dramático como o de Manaus, mas o sinal de alerta precisa estar sempre ligado.