O primeiro dia de bandeira preta em Canela, nesta terça-feira (23), já impactou a rotina da cidade. Na avaliação de alguns, como o prefeito Constantino Orsolin (MDB), o resultado foi positivo. Já o setor turístico começa a contabilizar prejuízos.
Segundo Mauro Salles, presidente do Sindtur Serra Gaúcha, sindicato que representa empresas do setor turístico, a possibilidade de funcionamento de hotéis com 30% da capacidade não evita as perdas econômicas. A explicação é a falta de atrações em funcionamento na cidade, que afugenta os visitantes. O resultado é uma onde de cancelamentos e adiamentos em reservas a partir do anúncio da bandeira preta.
— Somos um destino de lazer e precisamos de atrações como gastronomia e parques funcionando. Entendemos que é uma atitude muito drástica (a bandeira preta). Estamos preparados e acreditamos que a cidade poderia funcionar no mesmo modelo de Gramado, até porque é um período de fluxo mais baixo — afirma.
Na avaliação de Salles, o funcionamento das atrações em Gramado até pode amenizar a situação de Canela. Contudo, o impacto é baixo porque essa situação leva os visitantes a se hospedarem diretamente na cidade conhecida pelo Natal Luz, para evitar deslocamentos.
— Essa questão de cada uma adotar uma posição gera atrito, gera confusão. Se o governo do Estado permite a cogestão, segui-la também é seguir o governo — observou Salles ao rebater a declaração de Orsolin de que o município sempre seguiu rigorosamente as determinações do Piratini.
Felipe Oliveira, vice-presidente de Serviços da Associação Comercial e Industrial de Canela (Acic), também vê prejuízos na adoção de protocolos diferentes para cidades tão próximas. Segundo ele, 60% da população de Canela trabalha em Gramado e, portanto, não modificou a rotina. O risco, no entanto, é que essa parcela dos moradores leve o vírus a quem está em isolamento.
— Isso penaliza a cidade duplamente. Gostaríamos que os dois municípios tratassem de forma conjunta — aponta.
O comércio solicitou ao município que seja permitido ao menos o sistema de telentrega, que também foi proibido. A explicação é que, devido à proximidade, a população de Canela que precisa de algum produto acaba se deslocando a Gramado para comprar.
— Se um estudante precisar de um lápis em Canela, não vai conseguir comprar hoje — destaca.
O prefeito Constantino Orsolin disse que concorda com a permissão de telentrega, mas afirmou que irá sugerir a adequação ao governo do Estado. Dessa forma, o atendimento remoto será permitido apenas se o Piratini alterar o decreto com as regras para bandeira preta.
Apesar das reclamações do setor econômico, Orsolin avalia de forma positiva o primeiro dia de bandeira preta. De acordo com ele, a circulação na cidade diminuiu e poucos estabelecimentos desrespeitaram as regras. Entre os que abriram, a maioria dos proprietários alegou que desconhecia a proibição e aceitaram fechar as portas.
— Parece que a população se conscientizou de que o vírus é uma responsabilidade de todos. Tivemos uma receptividade boa, melhor até do que imaginávamos. Só vamos ultrapassar esse momento difícil se todos fizerem a sua parte. Temo muito a próxima semana e a outra por causa do carnaval — afirma o prefeito.
A fiscalização no município conta com o reforço da Brigada Militar (BM) e de fiscais de trânsito. A prefeitura afirma que as operações seguirão durante todo o período de vigência da bandeira preta, principalmente após as 20h.