Qual é a marca deste 2020 prestes a findar? Para muitos, ela é física e está situada logo abaixo dos olhos, em toda a extensão que recobre as bochechas e o topo do nariz. Tal qual um emblema, as máscaras usadas ininterruptamente por profissionais de saúde neste ano pandêmico reforçaram a ideia de que super-heróis precisam, sim, usar máscaras. Mas seria simplista demais definir a importância desses profissionais a partir de machucados na face — eles são apenas uma parte da intensa rotina a que foram submetidos nos últimos nove meses. Não dá para dizer que os profissionais de saúde chegaram ao seu limite no ano pandêmico. Ouso afirmar que superaram todos os limites vistos até então.
Eles foram decisivos para garantir o alento de muitas famílias, mesmo tendo que abdicar das suas, vendo o corpo e a mente esgotarem-se, exaustos. Tiveram que passar confiança e tranquilidade aos pacientes apenas com o olhar, já que cumprimentos e abraços foram proibidos. Ouviram últimas palavras, viram o medo, presenciaram a esperança da cura.
Na Serra, os profissionais da saúde salvaram milhares de pessoas, mas também tiveram que lidar com o luto da perda de mais de 800 vidas — talvez tenham visto morrer mais gente em um ano do que em toda a carreira pregressa. Na linha de frente, muitos sucumbiram ao coronavírus, afastaram-se temporariamente e retornaram ao front. Super-heróis nunca abandonam a missão.
Eram eles que estavam na rua quando todos pediam para que se ficasse em casa. Eram eles que estavam com famílias desconhecidas quando a recomendação era de que não se saísse do próprio núcleo familiar. Eram eles que estavam em contato direto com a covid-19 quando todos queriam manter a maior distância possível da doença. Eram eles que passavam o dia com máscaras raspando a pele do rosto, enquanto as pessoas achavam desconfortável usar o equipamento apenas para ir ao supermercado.
Os aplausos na janela, que eram rotina nos primeiros meses de pandemia, diminuíram, é verdade. Mas os motivos para festejar e agradecer aos profissionais de saúde só cresceram. Em um futuro próximo, eles não só serão lembrados com orgulho como super-heróis que vestem branco, mas também como símbolos de resistência e importância em um dos momentos mais difíceis da história.
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Coragem, de Diogo Nogueira