Jovens agricultores de Caxias do Sul terão a oportunidade de aprimorar o conhecimento em outros países. Essa porta se abre a partir de uma lei sancionada na semana passada pelo prefeito Flávio Cassina e publicada na segunda-feira (7) no Diário Oficial do município.
A norma prevê a concessão de viagens técnicas internacionais orientadas para jovens agricultores, bem como a criação do Programa de Apoio ao Jovem Agricultor. O custeio do transporte e a estadia da viagem, exceto as despesas pessoais, serão pagos pelo município.
Direcionado a jovens de 15 a 29 anos, com origem em famílias de agricultores de pequenas propriedades, o programa tem o objetivo de estimular o ensino prático. Os participantes precisam residir na área rural do município por pelo menos três anos, ter mais de 70% da renda familiar proveniente da agricultura em área igual ou menor a quatro módulos fiscais e também utilizar mão de obra da própria família na propriedade.
Conforme o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Valmir Susin, o processo para se tornar lei teve início quando ele assumiu a pasta no Executivo, mas o projeto foi criado 10 anos atrás, em uma parceria com o Sebrae.
— Em 2010, quando fizemos a primeira missão para Israel, foram junto alguns jovens. Depois, em 2013, levei mais outros 12 para lá. Após a viagem que fizeram, mudaram as suas propriedades, na tecnologia e melhoraram a produtividade. Sempre tive a ideia de investir no jovem que transporta para cá o conhecimento e podemos produzir como eles produzem lá (em outros países) — explica Susin.
Susin afirma que a ideia é de que, todo ano, 10 jovens e dois técnicos façam a viagem. O destino será definido pela Secretaria da Agricultura e será submetido ao Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural.
O secretário explica que a intenção é dar início ao projeto de viagens técnicas assim que for liberada a transição entre os países, mediante a pandemia. Segundo ele, para a seleção dos jovens, além dos requisitos para participação, está sendo organizada a regulamentação juntamente com o Sindicato Rural e com a Emater.
A lei sancionada por Cassina cria ainda o Programa de Apoio ao Jovem Agricultor, com o objetivo de proporcionar suporte aos jovens empreendedores que atuam no meio rural. Além disso, o objetivo é incentivar para que o jovem continue nas propriedades agrícolas.
— O programa é um incentivo para os jovens permanecerem na colônia porque, muitas vezes, acabam ficando só os casais de velhos na agricultura. A intenção é cuidar dos jovens das pequenas propriedades, porque tem o problema sério de desertificar a área rural e eles irem embora. Já temos propriedades meio abandonadas e precisamos manter a juventude produzindo alimentos. Temos que investir nisso aí — completa Susin.
Inspiração em Israel
O agricultor Welinton Wilian Fabro, 31, foi um dos jovens que participou das viagens técnicas em Israel, na época. Depois da segunda viagem para o Exterior, o agricultor, com formação em Agronomia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), decidiu implementar técnicas que viu e aprendeu por lá. Fabro optou por ingressar na área de estufas, ambiente protegido, irrigação controlado e fertirrigação. Logo após a sua formatura, em 2014, o caxiense criou a sua primeira estufa para a produção de tomates no sistema semi-hidropônico. De lá para cá, Fabro conseguiu fazer mais duas estufas, por meio de financiamentos e parcerias.
— Como tinha sido a minha primeira viagem para fora do país em 2010, eu não consegui ir mais focado naquilo que eu gostaria de ver mesmo. Então a segunda vez foi maravilhosa. As ideias que vi lá, quis implementar aqui, principalmente de estufas com o pé direito alto, para ventilar mais. Não consegui implementar toda a tecnologia que vi lá, porque o custo é muito alto. Lá eles têm um ganho garantido daquilo que produzem, aqui a gente planta e, muitas vezes, não sabe nem se vai conseguir vender — resigna-se o agricultor.
Fabro enaltece a nova lei aprovada por Cassina, que oportuniza de viagens técnicas aos jovens agricultores.
— Acho muito importante, porque é sempre uma nova oportunidade, um novo conhecimento. Ainda bem que o secretário teve essa iniciativa para ajudar a segurar os jovens no campo. Hoje, o jovem vai ficar, mas ele quer tecnologia, quer coisa nova. Ele quer produzir mais com menos, esse é o lema de Israel —pontua Fabro, explicando também que Israel sofre com a escassez de água, o que faz com que os produtores encontrem maneiras de produzir com redução do uso de água.
Produzir mais com menos
A agricultora Morgana Molon, 30, também realizou a viagem técnica para Israel no mesmo grupo de Welinton, realizada em 2012. Com propriedade na Linha 100, em Flores da Cunha, ela é formada em Agronomia pela UCS. Seu interesse na ida para o Oriente Médio foi para aprimorar as técnicas de irrigação usadas pela da família, que já atua há 30 anos no mercado.
— Na época, já existia muita coisa que a gente não conhecia. Nessa viagem, foi possível ver tanto em questão de novos modelos de irrigação, novos materiais, tipos de encanamento e, principalmente, o manejo da água, a melhor maneira de utilizá-la sem desperdiçar — justifica Morgana, que também expõe a técnica israelense de fazer a produção render muito mais com menos quantidade de água, já que lá é mais escassa.
Depois da ida para Israel, Morgana e sua família realizaram muitas transformações nas técnicas de produção agrícola em sua propriedade, no interior de Flores da Cunha. Atualmente, os agricultores trabalham com a produção de uva e, principalmente, com viveiros de mudas de parreiras.
— Mudamos várias coisas no nosso sistema de irrigação, usamos aspersores que utilizam menos água e molham mais uniformemente. No sistema protegido, a gente começou a usar de maneira diferente. Dos nossos 7 hectares de parreirais, 50% da área é praticamente protegida por tela ou plástico — explica Morgana.
Para Morgana, além das visitas às propriedades israelenses, o compartilhamento de experiências com o próprio grupo de jovens agricultores, que viajaram junto, é outro fator agregador de novas ideias.
— Como a gente vai com um grupo de produtores, isso agrega muito mais porque tu tem com quem trocar experiências. Muitas vezes, tu fala com os teus vizinhos, mas tu não fala com pessoal de outras comunidades, de outras regiões e culturas — argumenta Morgana.