O Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit) publicou nesta quinta-feira (12) o edital de licitação para a conclusão da BR-285, nos Campos de Cima da Serra. O documento era aguardado com expectativa pela comunidade desde 2014, quando a rescisão do contrato anterior deixou oito quilômetros inconclusos entre São José dos Ausentes e a divisa com Santa Catarina.
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A publicação ocorreu após dois anos de trâmites internos e ajustes em projetos e licenças ambientais. Além disso, foi necessário captar recursos de emendas parlamentares junto à bancada gaúcha na Câmara dos Deputados. A obra completa está orçada em R$ 80 milhões, mas o orçamento da União deste ano prevê a destinação de R$ 12 milhões.
A destinação do valor foi confirmada pelo ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas ao deputado federal Ronaldo Santini (PTB), presidente da frente parlamentar mista pela conclusão da BR-285 no Estado. Embora não permita o término, o montante é suficiente para retomar as obras até que se garanta os recursos restantes.
Além do asfaltamento em pista simples de um total de 8,87 quilômetros, o edital prevê a construção de duas interseções (acessos), dois viadutos de passagem para a fauna e uma ponte com 400 metros de comprimento e 60 metros de altura sobre o Rio das Antas. O certame ocorre via Regime Diferenciado de Contratação (RDC), que permite a realização dos projetos executivos durante a realização das obras. Pelo modelo de licitação tradicional, primeiro é preciso finalizar os projetos para então começar a obra.
A expectativa da comunidade é ver as máquinas trabalhando ainda em 2020. No entanto, como as propostas serão conhecidas apenas em 3 de dezembro, e ainda é necessário homologar o resultado e assinar o contrato, a projeção é de que a movimentação comece apenas no ano que vem.
— Existe uma corrida para empenhar esses recursos ainda neste ano, já que eles estão no orçamento de 2020. Vai precisar de uma fase de estudos um pouco antes. A gente prevê um cronograma de 24 meses e, desses, três são para projetos. Claros que as empresas interessadas já podem estar avaliando e isso agiliza, mas imagino que as obras mesmo devam ficar para o primeiro trimestre do ano que vem — projeta Adalberto Jurach, engenheiro do Dnit responsável pela BR-285 na região.
A última vez que os moradores dos Campos de Cima da Serra viram a inauguração de um trecho asfaltado da BR-285 foi em 18 de agosto de 2010, quando o então ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, esteve em São José dos Ausentes para inaugurar o acesso pavimentado à cidade. Pelos dois anos seguintes, o trecho em direção à Santa Catarina passou por terraplenagem do novo traçado, mas o trabalho foi interrompido por problemas no licenciamento ambiental. Em maio de 2014, houve uma tentativa de retomada da obra, mas a empreiteira responsável apresentava dificuldades financeiras, o que acarretou na rescisão do contrato.
Quando estiver concluída, a BR-285 vai formar um corredor estratégico, cruzando todo o Rio Grande do Sul. Em São Borja, na fronteira oeste, a rodovia vai se interligar com estradas argentinas, permitindo uma ligação rodoviária entre o porto de Imbituba, em Santa Catarina, e o porto de Antofagasta, no Chile. O lado catarinense da estrada está em construção na Serra da Rocinha, no município de Timbé do Sul. Dos 22 quilômetros em obras, oito foram liberados ao trânsito em outubro.
À espera do desenvolvimento
A expectativa da comunidade é de que a esperada conclusão da estrada proporcione um salto no desenvolvimento dos Campos de Cima da Serra, com novos investimentos e incremento no fluxo turístico. Comerciante de Bom Jesus e principal articulador de um grupo que luta pela retomada das obras na BR-285, Jaziel de Aguiar Pereira estima que a economia da região passe a movimentar R$ 200 milhões a mais por ano com as obras prontas. A própria Serra da Rocinha, pela proximidade com os cânions da região, tem potencial de atração de turistas devido ao visual.
— Para nós que temos comércio e empresa será muito bom. Imagine que você mora em uma rua sem saída e de repente você está em uma avenida. A Rota do Sol, por exemplo, tem 70 bancas e 14 lancherias — compara.
Toda a produção do norte do Estado também pode ganhar uma nova alternativa de escoamento, tendo acesso facilitado ao porto de Imbituba. A expectativa, inclusive, é de que sejam economizados cerca de 39 milhões de quilômetros por ano no turismo e no transporte de produtos agrícolas. Isso tudo com um fluxo três vezes maior.
— Vamos ter pessoas da Argentina e do norte do Estado passando por aqui. São incontáveis os benefícios — comemora Pereira.