A volta gradativa do preço cheio das mensalidades de 2020 — acompanhando a retomada presencial — somada aos reajustes previstos para 2021, é tendência que as escolas da rede particular de Caxias do Sul vêm apontando nos últimos dias. Em um contexto de crise e de muitas incertezas que ainda pairam sobre a economia brasileira, principalmente em relação à pandemia, as escolas alegam dificuldades, enquanto pais e mães de estudantes mostram-se descontentes com as medidas e chegam a cogitar uma migração para a rede pública de ensino.
A Universidade de Caxias do Sul (UCS), por exemplo, definiu que as mensalidades dos cursos de graduação e pós-graduação, e também do Cetec, não serão reajustadas em 2021. Nas escolas de outros níveis de ensino da cidade, porém, o cenário indicado é outro: dos cinco educandários consultados pela reportagem, dois confirmaram reajustes para 2021, em percentuais que variam de 3,5% 6%, outros dois não tinham definição e um não quis se manifestar.
O Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS), que abrange as instituições locais, não exerce influência no reajuste das mensalidades, mas pretende realizar, nas próximas semanas, uma pesquisa junto às escolas para acompanhar a questão. De acordo com a entidade, os valores do reajuste devem ser definidos pelas próprias instituições de ensino, de acordo com a planilha de custos, índices de inflação e a realidade da comunidade escolar.
O Procon Caxias do Sul, que chegou a intermediar a exigência de desconto por parte dos pais ainda no início da pandemia, agora acredita na negociação individualizada como forma de reduzir impactos para ambos os lados.
— Antes era uma questão referente a contrato em curso, agora é uma renegociação que cabe aos envolvidos, uma vez que são instituições particulares. Será preciso levar em consideração cada caso e suas inúmeras variáveis, como a série ou situação familiar. A escola precisa sobreviver, mas os pais também passam por dificuldades. Então, não adianta aumentar e perder alunos. É preciso pensar o reajuste com muita responsabilidade e mantendo a transparência em relação aos índices que forem apresentados — avalia o coordenador do Procon Caxias do Sul, Dagoberto Machado.
Reajustes em vista
Após a mobilização de pais e responsáveis, no mês de abril, com manifestação realizada até mesmo com carreata, diversas escolas concederam descontos nas mensalidades em andamento. No Colégio São José, por exemplo, um desconto linear de 20% aplicado em maio foi readequado para 10% desde outubro e, agora, a instituição ainda não tem definição a respeito do ano letivo 2021 nem da duração do desconto.
— Estamos ainda estudando e analisando. A insegurança é muito grande, não sabemos o que virá por aí, é um ano diferente, muito atípico — afirma a diretora do colégio, Renata Segati.
Com a crise instalada ao longo de 2020, mesmo concedendo os descontos, escolas da rede privada passaram a lidar com a inadimplência e a evasão de estudantes. As dificuldades compartilhadas pela maioria dos educandários fazem parte da justificativa para a aplicação de um reajuste no próximo ano letivo. Na Rede de Ensino Caminho do Saber, a direção afirma ter considerado as diferentes realidades familiares, assim como a migração de alguns alunos para a rede pública, prevendo um percentual de reajuste que poderá variar de 3,5% a 5%.
— Por mais de seis meses, foram mantidos descontos lineares a partir de 30%, 20%, 15%, 10% e 5%, de acordo com os custos relacionados a cada uma das séries. Agora, com a retomada das aulas presenciais, os valores estão retornando aos valores anteriores ao início da pandemia. As mensalidades não sofreram reajuste agora após o retorno, ainda que houvesse a necessidade de um investimento muito significativo em tecnologia para poder realizar as aulas de forma presencial e também virtual — comenta a diretora-presidente Maristela Chiappin.
No Colégio Madre Imilda, os reajustes para 2021 já foram definidos, sendo de 4,7% para Educação Infantil, Anos Iniciais e Ensino Médio; e de 6% para Anos Finais. O Colégio La Salle Caxias, do bairro São Pelegrino, ainda aguarda definição, que costuma partir da Rede La Salle, mas a unidade também prevê reajustes.
— Não vejo como não ter algo. A inadimplência afeta bastante as instituições particulares e deverá repercutir na planilha, que também leva em consideração investimentos a serem feitos e o reajuste salarial dos colaboradores _ adianta a supervisora administrativa da escola, Patrícia Dall'Oglio.
O Colégio Murialdo também foi procurado pela reportagem mas não quis repassar informações.
Pais não querem aumento
Comunicados a respeito do reajuste há cerca de duas semanas, 27 pais de estudantes do Colégio Madre Imilda assinaram um e-mail solicitando que o mesmo não fosse aplicado. À reportagem, a escola não se manifestou sobre o caso, mas aos pais afirmou que iria ponderar. O pedido dos pais foi encaminhado ao educandário em 19 de outubro.
— Todos tiveram suas rendas impactadas, seja com redução de carga horária, demissão ou suspensão de projetos. Gostaríamos que fossem mantidos os valores de 2020. Vou fazer a rematrícula da mesma forma, mas não podemos deixar isso passar em branco — afirma o contador Egor Marcon, que mantém o filho no 3º ano do Ensino Fundamental.
Em algumas situações, porém, os reajustes representam a possibilidade iminente de desligamento no próximo ano. Alexandre Lima é autônomo e manteve, em 2020, a filha matriculada no 2º ano do Ensino Fundamental da Rede Caminho do Saber, que pretende aplicar reajuste no ano que vem.
— Independente do percentual, encaramos a definição de um reajuste como falta de sensibilidade da escola em relação ao momento pelo qual todos nós passamos. Cheguei a conversar com o financeiro. Vamos buscar negociação, mas diante de tantas incertezas, muitos pais, assim como eu, estamos em dúvida sobre renovar ou não a matrícula — comenta o pai.
Expectativa na rede pública
A Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Caxias do Sul ainda não possui indicativos que apontem aumento de alunos em 2021, segundo a titular da pasta, Flávia Vergani. Ela diz que o município está aguardando reunião com o Estado para obter definições a respeito, assim como as datas para matrículas e rematrículas, que se dão pelo mesmo sistema da rede estadual.
De acordo com a 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), as datas serão divulgadas assim que houver uma definição. O órgão afirma que há expectativa de migração, uma vez que a procura já está ocorrendo. Por meio de assessoria, a CRE também informou que "as turmas, na rede estadual, são abertas conforme o espaço físico das escolas e a procura via Central de Matrículas. Havendo procura e espaço físico, as turmas são abertas".
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