Países europeus que já estavam voltando à vida normal, com a reabertura de escolas, bares e restaurantes se depararam com a segunda onda de covid-19 e estão precisando retomar as medidas de restrição de circulação. O fato se deve ao aumento de casos de infectados e mortes causadas pela doença, que em muitos países já superou o número diário do primeiro semestre de 2020. De acordo com dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o continente europeu voltou a passar as Américas em número de novos casos.
O professor de Educação Física Rafael Humberto Velho dos Santos, 45 anos, é proprietário de um centro de treinamento físico em Murcia, cidade da Espanha, e sofreu interferência no trabalho mediante a nova onda da covid-19. No último domingo (25), o presidente Pedro Sánchez fez um comunicado de que o país retorna ao estado de alarme e contará com restrições novas, dentre elas, a capacidade máxima de 30% de pessoas nas academias.
O caxiense lamenta e menciona ainda que, somando aos prejuízos que são causados principalmente aos bares e restaurantes, a população está com o toque de recolher a partir das 23h.
— O ócio noturno está falindo. Quase todos estão fechando as portas porque não tem como. E o toque de queda foi o último prego no caixão deles. Muita gente vive disso, até porque a Espanha é um país de muitos bares e terraços. E isso está indo para o brejo. O país, se continuar assim, vai se afundar — conta.
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Na opinião de Rafael, a movimentação das férias, ainda mais por se tratar de uma região litorânea, e a má gestão por parte do governo, são os principais fatores que fizeram com que a contaminação do coronavírus se espalhasse novamente.
Para a tradutora/intérprete caxiense Gabriela Melissa Dani, 45, que mora em Rovigo, na Itália, a falta de preparação do governo se uniu com a falta de conscientização da população para o avanço da segunda fase da covid-19.
— Faltou um pouco de organização do governo e também de consciência das próprias pessoas. Eu sei que é, e tem muita gente que diz que é ruim estar com a máscara todo o dia, só que é a única maneira, por enquanto, que a gente tem de se defender. E ainda tem muitos que a gente vê na rua e em lugares fechados que não usam a máscara. Agora, eles colocaram de novo uma multa para quem é pego sem máscara em lugares fechados onde é obrigatório. Tem gente que não se conscientiza — relata Gabriela.
Ainda segundo Gabriela, o governo italiano sabia da possibilidade de surgimento da segunda onda do vírus no país, mas nem todas as regiões chegaram a se preparar para a nova propagação.
— Eles previram que teria a possibilidade de vir essa segunda onda agora, no período em que a gente está entrando no inverno. O governo disse que prepararia tudo, até as estruturas sanitárias, porque na primeira fase da pandemia não se conhecia o vírus. Só que tinham hospitais com poucos leitos disponíveis. Algumas regiões se preparam para uma possível segunda onda, como foi o nosso caso, da região do Vêneto. Mas tantas outras, não. Agora chegou a segunda onda e estão faltando leitos na Terapia Intensiva e estão cancelando cirurgias e outras internações que não sejam de urgência. O governo deixou para fazer muito em cima da hora e tinha que ter agido muito diferente, preparado a população — lamenta.
Gabriela conta que as empresas estão aumentando o sistema de teletrabalho e quase todos os serviços públicos estão ocorrendo de forma online. As aulas presenciais se mantêm para os alunos menores de 15 anos, mas para os maiores a didática passou a ser virtual novamente desde a última quarta-feira (28) e segue até, pelo menos, 24 de novembro, data de validade do decreto.
As novas medidas para conter o aumento dos casos estão gerando manifestações constantes na Itália. A mais polêmica, decretada no dia 25, prevê a restrição do funcionamento de bares, restaurantes, pizzarias e gelaterias a partir das 18h. O decreto anterior permitia a abertura de bares até as 21h e de restaurantes até as 23h.
— Imagina a crise neste setor, porque a maioria do pessoal vai jantar fora de noite. Eles estavam respeitando as normas. Fecharam academias, piscinas, águas termais, teatros, cinemas... O pessoal está revoltado, fazendo manifestações todos os dias. Estão pedindo para poder trabalhar porque eles investiram para manter todas as regras que o governo impôs para abrir em maio e junho e, agora, estão dizendo que a culpa é do restaurante e da academia. Não é deles — descreve a caxiense, que lembra ainda que, em alguns protestos, pessoas se infiltraram para fazer algazarras e isso culminou em confusões com a polícia.
A moradora da cidade milenária torce para que não sejam fechadas as fronteiras com outros países e não ocorra um novo lockdown. De acordo com Gabriela, o governo anunciou que as medidas estão sendo mais severas para que se possa segurar o aumento do contágio e, assim, evitar que a população passe o Natal em casa.
— Agora, a gente vai vivendo o dia a dia, rezando e esperando que não venha um novo decreto e digam que a gente não pode sair de casa. Como eles ainda não proibiram, aconselham as pessoas a não sair de suas cidades. Só por motivo de trabalho ou urgências. A gente está com medo de passar o Natal trancado em casa — expõe a caxiense.
Enquanto na Itália não ocorre uma paralisação da transição de pessoas pelas cidades mesmo com toque de recolher instituído, na França foi anunciado pelo presidente Emmanuel Macron que a partir desta sexta-feira (30) os franceses só poderão sair de casa para atividades profissionais essenciais. E que as viagens regionais no país estão proibidas.
— Desta vez, será um confinamento menos rigoroso, apesar das previsões negativas da evolução do vírus. Por exemplo, escolas e creches estarão abertas caso os pais não consigam adotar o teletrabalho em casa. No meu caso darei aula via internet aos meus alunos de graduação, pois as universidades pararam — explica a professora de Caxias do Sul, Camila Braga, 32, que mora em Lyon, a terceira maior metrópole francesa.
Camila não define o novo avanço da covid-19 por causa de erros. Além disso, a professora caxiense que mora na França percebeu a mudança de comportamento da população, visto que agora o vírus já é conhecido.
— O que aconteceu foi que as pessoas retomaram suas vidas normais, com o uso da máscara, lavagem de mãos frequente, limitação de pessoas em lugares fechados, mas estes cuidados não foram suficientes. De repente, vamos ter que viver assim por algum tempo, entre confinamento e tempos de liberdade. Ao contrário de março e abril, as pessoas estão mais tranquilas. No começo da crise sanitária, elas estavam apavoradas. Agora, tenho a impressão de que entendemos o perigo, mas não é mais uma paranoia — esclarece Camila.
O estudante de Publicidade e Propaganda de Caxias, Rafael Paese Gregolon, 20, que mora na capital de Portugal, Lisboa, conta que a situação no país está ficando complicada, porque nesta semana foram registrados casos diários que superaram os números da primeira onda, sendo que na primeira fase a população ainda estava em casa, de quarentena.
— Essa semana foi obrigatório o uso de máscaras na rua porque antes só se usava se tinha muita gente ou se entrasse em um lugar fechado ou no transporte público. Os bares ficam abertos até meia-noite para as pessoas entrarem. Uma hora da manhã tudo fecha e as pessoas precisam sair do lugar em que estão — relata Rafael.
Ele afirma ainda que foi instituído que, desta sexta-feira (30) até terça (3), os portugueses estão proibidos de viajar para outras regiões, mesmo dentro do país.
— Não se pode, por exemplo, viajar de Porto para Lisboa, ou de Porto até Algarve e vice-versa. Cada um tem que ficar na sua região. Isso para conter possíveis viagens, principalmente dos alunos do programa de intercâmbio do Erasmus, de voltarem aos seus países devido ao Halloween e Dia de Todos os Santos — pontua o estudante.
Gabriela espera que o Brasil e os demais países se atentem para a situação que a Europa está passando para garantir o aprendizado tanto dos momentos que deram certo, quanto dos que foram procedidos de forma incorreta.
— Fomos o primeiro país europeu a ser contaminado pelo vírus e tivemos que aprender muita coisa, pagando caro por isso, com muitas mortes. Que o Brasil nos use de modelo das coisas boas para repetir e olhe para o que a gente está errando para melhorar — conclui a intérprete caxiense.