Nestas eleições, que ocorrem no dia 15 de novembro, pela primeira vez os eleitores com deficiência visual poderão ouvir o nome do candidato após digitar o número correspondente na urna eletrônica. Isso será possível graças ao recurso de sintetização de voz, tecnologia que transforma texto em som. A máquina faz o papel de uma pessoa lendo o conteúdo, o que dá ao eleitor mais confiança sobre o seu voto.
Em Caxias do Sul, conforme o Cartório Eleitoral, dos 333.696 eleitores aptos a votar nas eleições deste ano, 208 estão cadastrados com deficiência visual. Segundo o chefe do Cartório da 169ª Zona Eleitoral, Edson Borowski, a novidade em relação às últimas eleições é que quando o deficiente visual digitar na urna, que já possui braille nas teclas, além do número, ele vai ouvir ao final o nome do candidato, confirmando efetivamente a votação.
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Para o caxiense Edson Dávila de Miranda, 28 anos, que possui deficiência visual, a implementação do recurso já era um pedido antigo da comunidade, pois na hora da votação não era possível ter certeza sobre o voto.
— O novo recurso é excelente porque nos últimos tempos, quando a gente ia votar, por mais que tivesse o recurso de voz, ele não dava o retorno. A pessoa que tem a visão normal digita o número e aparece imagem do candidato e o nome. E o deficiente visual não, tu digitavas o número e só repetia o número. Tu ia na sorte muitas vezes. Por mais que tu digitasse o número corretamente, não ficava com aquela certeza. Então, esse recurso vai agregar muito — afirma.
Edson também destaca a importância de informar os deficientes visuais a respeito dessa novidade, pois muitos ainda não sabem que existe esse novo recurso.
Em nome da Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais de Caxias do Sul (Apadev), a coordenadora de projetos, Angela Prestes de Souza e a professora de Braille Janaina Nascimento destacam que a acessibilidade deve estar cada vez mais presente no dia a dia.
— A implementação gradual deste recurso nas eleições nos faz acreditar na possibilidade inicial de remoção de barreiras físicas, arquitetônicas, de comunicação e de atitudes, proporcionando o acesso amplo e irrestrito, com segurança e autonomia das pessoas com deficiência.
Elas também salientam que utilizando a tecnologia para proporcionar a inclusão, os deficientes visuais têm a oportunidade de participar ativamente das decisões relativas aos programas e políticas, inclusive aos que dizem respeito diretamente a sua participação no processo eleitoral, garantindo assim, a luta por seus direitos.
Passo a passo
Segundo Borowski, os eleitores que já cadastraram a deficiência visual terão a urna habilitada automaticamente. Caso contrário, é preciso informar ao mesário, para que o colaborador da Justiça Eleitoral habilite o recurso.
Mesmo habilitada, a urna não iniciará a votação imediatamente. Ela permanecerá estática em uma tela com orientações sobre como votar. Além disso, enquanto a votação não for iniciada, o eleitor terá a possibilidade de fazer a regulagem do áudio.
Outra novidade é que a sintetização de voz também é capaz de fazer flexibilização de gênero ao emitir a fala de confirmação do concorrente escolhido. Isso significa que, por meio da ferramenta, a urna “falará” que o eleitor está votando em um candidato ou em uma candidata, de acordo com o gênero.
Preocupação com o compartilhamento de fones de ouvido
Para garantir o sigilo do voto, serão utilizados fones de ouvido e, com relação a isso, há uma questão sanitária envolvida devido à pandemia do coronavírus. A Justiça Eleitoral obteve equipamentos suficientes para todos os votantes.
— A Justiça Eleitoral fornece o equipamento para que ele faça o voto. Nesse caso, sempre enviamos um fone de ouvido para uso coletivo por local de votação. Em função da pandemia, nós temos uma preocupação muito grande no compartilhamento desse equipamento. Estaremos disponibilizando o equipamento com todos os cuidados sanitários, mas sempre com a preocupação em relação à possível transmissão — destaca.
Limitações fizeram o TSE buscar a melhoria
Até as últimas eleições a urna emitia mensagens gravadas que indicavam ao eleitor com esse tipo de deficiência o número digitado, o cargo para o qual estava votando e as instruções sobre as teclas “Confirma”, “Corrige” e “Branco”. Eram mensagens pré-gravadas, que acabavam causando limitações, pois em um pleito concorrem milhares de candidatos e, ao longo do processo eleitoral, muitos são substituídos. Desse modo, seria inviável gravar os nomes de todos os concorrentes.
De acordo com o chefe da Seção de Voto Informatizado da Secretaria de Tecnologia da Informação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rodrigo Coimbra, a partir de muita pesquisa e após o descarte das urnas mais antigas, dos modelos 2006 e 2008, o TSE teve condições técnicas para implementar a sintetização de voz para as Eleições 2020.
— Utilizamos uma solução toda baseada em software livre. Então, não houve nenhum custo para o Tribunal, que não precisou gastar absolutamente nada para implementar essa tecnologia. A novidade traz uma confiança muito maior para o eleitor, naturalmente, sobre o voto que ele está depositando na urna — enfatiza.
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