Um misto de tristeza e esperança marca os dias dos idosos e dos funcionários do Santa Ana Residencial Geriátrico, de Gramado, depois que 11 moradores morreram em decorrência de um surto de coranavírus. A esperança é por mais notícias como a da alta de um dos idosos, de 89 anos, que encarou a doença e voltou para o lar na última segunda-feira (21). A torcida agora é pela melhora do único idoso que segue internado na UTI.
Na casa geriátrica, hoje, estão 15 idosos, sendo que o homem que saiu do hospital mais recentemente segue em isolamento. Os outros 14 puderam, enfim, deixar os quartos na terça-feira (22). Eles estavam isolados, um a um e sem sair dos dormitórios, desde o dia 3 de setembro, quando começaram a aparecer os primeiros sintomas entre os residentes.
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— Eles voltaram a pegar sol e a conviver em espaços compartilhados, mas respeitando o distanciamento físico. Eles têm horários para ir até o pátio: os que positivaram seguem separados dos que não foram contaminados. Estão todos em quartos individuais e contam com uma enfermeira e um técnico de enfermagem para cuidar de cada um. A equipe é treinada e esta desde o começo paramentada com aventais, luvas, máscaras e protetor facial. Não medimos esforços para que eles se recuperem. Temos seis funcionários afastados e a equipe tem se revezado — explica o médico Ubiratã de Oliveira, proprietário do local.
O lar não pode receber novos hóspedes sem o aval do município e a liberação do Santa Ana Residencial Geriátrico só deve ocorrer depois que a vigilância sanitária atestar que o local está sem surto. As famílias não visitam os familiares desde março.
Para o médico, além das mortes dos amigos, a saudades da família deixa os idosos ainda mais frágeis:
— Eles estão muito abalados. Alguns foram contaminados e estão abatidos, emagreceram, estão tristes, deprimidos. Nós temos vovós e vovôs que se alimentam por sonda, bem debilitados. A rotina vai voltar aos poucos. Muitos não falam, mas percebem a movimentação e o silêncio. Antes tínhamos atividades extras, como missas, grupos de música, dança, artesanato, então eles estão vivendo uma solidão ao longo deste ano com esse surto.
Oliveira, que é médico há 35 anos e é de uma família de profissionais da saúde, diz que está muito abalado:
— Não vemos a hora de acabar não só com o surto, mas com a pandemia para podermos enxergar o outro sem usar uma máscara. Mesmo acostumado a lidar com a vida e a morte no meu trabalho, estou muito abalado. A pandemia é algo sem explicação, é uma fatalidade.
O único idoso que está internado na UTI do Hospital São Miguel, em Gramado, tem demostrado sinais de melhora, conforme o médico.